Fórum: Superando a Pedagogia da transmissão

Qual é a cara desse professor On Line?

Qual é a cara desse professor On Line?

por Usuário excluído -
Número de respostas: 42

Olá Pessoal,

Feliz por participar de mais uma etapa deste projeto, gostaria já de saudar o Grupo da Unesa e questionar alguns pontos do texto...

O Povo da UERJ já sabe que isso é uma fala recorrente, mas diante do texto inicial de vocês fiquei me perguntando: qual é a cara desses professores, sejam on line ou presencial?

Qd no texto leio:

"O professor se sente o todo-poderoso, repete conceitos e não sabe interagir com os alunos; os conteúdos estão distantes da realidade e devem ser decorados e cobrados em provas."

Não seria interessante nos perguntarmos quem é esse professor? Quais são as condições que os levaram e nos levam a essa pedagogia?

E mais, tenho aprendido um pouco a não ver o fenômeno somente como tal, mas sim, quais são as suas mediações, portanto, há fortes motivos, que vão desde a bandeira por salário e melhores condições de trabalho (que definitivamente não vejo como justificativa para um trabalho que não seja comprometido com a transformação), passando pela estrutura da escola, ou melhor, de determinadas escolas que infelizmente são maioria, que não são nem proporcionam a interatividade, às próprias condições dos educandos.

"Os alunos da geração digital estão cada vez menos passivos perante a mensagem fechada à intervenção, pois aprenderam com o controle remoto da TV, com o joystick do videogame e agora com o mouse."

Quem são esses alunos? Quantos desses realmente encontramos em nossas instituições? E o que fazer com aqueles que não têm acesso a toda essa revolução tecnológica e informacional? Acredito que tenhamos que discutir bastante a interatividade nas instituições que proporcionam isso, mas não pode ficar fora da pauta o que fazer com aquelas as quais isso, de alguma maneira é negado, por diversos motivos.

Há um autor chamado Mark Warshauer que trabalha com a relação entre inclusão digital e exclusão social. Sendo de um PPG em Políticas Públicas, me levo a discutir um pouco essas visões globalizantes, que normalmente, passam a régua pelo que há de melhor, sendo que a grande maioria de nossa realidade não usufrui disso.

Isso são provocações que deixo aqui.

"Esse quadro se agrava, ampliando a defasagem da escola e da universidade na "era digital" das comunicações. Enquanto isso, empresários e gestores do setor educacional estão cada vez mais compelidos ao investimento em novas tecnologias informáticas aplicáveis em suas instituições, porém pouco atentos à necessidade de modificar a sala de aula centrada na pedagogia da transmissão."

Por outro lado, há um outro trecho no texto que me provocou bastante por estar de certa maneira vivenciando um pouco isso. Atualmente trabalho em uma instituição privada cujo principal foco é a educação, embora voltada prioritariamente para o mercado de trabalho. Aqui educação em uma primeira passada é negócio.

Há bastante recursos, gente especializada trabalhando, enfim, o problema não são as condições. Eis que nas provas de certificação os resultatos pelo pouco que vi têm sido insuficientes... E quem tem sido culpado por isso? > Os cursantes, que não estudam, que são fracos e coisas que já estamos acostumados.

Será que não falta um pouco de mediação? Onde está a nossa interação? O que há além dos recursos? Creio que esse seja, entre outros o foco da discussão deste módulo.

Fico por aqui, ansioso pelas discussões sobre comunicação e interatividade.

Beijos e Abraços,

Lázaro.

  

Em resposta à Usuário excluído

Re: Qual é a cara desse professor On Line?

por Usuário excluído -

Olá Pessoal e Lazaro,

 

Feliz em retornar após ficar afastada um módulo inteiro.  Senti muito, pois gostaria de ter aprendido e colaborado com a equipe da UERJ, em especial dialogado com pessoas tão especiais que tenho por lá. Mais a vida é assim mesmo... aqui de volta!

 

Lázaro traz interrogações muito importantes, pois penso que diante da realidade de escola pública que vivemos, principalmente aqui na Bahia, temos que realmente perguntar “quem é esse professor? Quais são as condições que os levaram e nos levam a essa pedagogia?”, uma vez que estamos vivendo um “tempo” de superação de uma hegemonia de mais ou menos 40 anos de uma educação vivida apenas por números e com pouco investimento na formação dos professores.  Trazendo esse questionamento para a universidade da qual faço parte, uma multi-campi, estadual e que, como todo estado, sofre com carência de recursos financeiros, materiais e humanos, a preocupação é muito maior.

 

O texto informa que Paulo Freire já dizia “que o papel do professor não é transmitir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua própria produção ou construção” do conhecimento, acrescento com outro questionamento: será que as nossas universidades estão dando oportunidade para que os professores possam ter condições e possibilidades para criar sua própria produção ou construção?  Hoje vivemos numa ciranda onde temos que escolher entre fazer pesquisa e ministrar aulas, pois a carência de recursos humanos é enorme e a “fome de saber” dos estudantes é maior ainda.   Será que podemos hoje, pensando em que são esses professores afirmar que eles (nós) tem condições de enfrentar essa “nova sala de aula”?  O que é preciso para se fazer uma “modificação radical em sua autoria em sala de aula presencial e on-line”?

 

Aí peço a ajuda de Hanna Arendt para contribuir com a minha inquietação: “o único fator material indispensável para a geração do poder é a convivência entre os homens.  Estes só retêm poder quando vivem tão próximos uns aos outros que as potencialidades da ação estão sempre presentes(...)” (ARENDT, 2006, p. 213).  Será que nós estamos prontos para viver tão próximos uns aos outros e compartilhar esse poder com esses alunos dessa era digital? Será que nossa escola está preparada para atender essa exigência contemporânea?

 

O fato de trazer tantas interrogações, não diminui minha certeza de que somos capazes de dispor de possibilidades que proporcionem o envolvimento coletivo e que criem condições de intervenções significantes de aprendizagens reais, no entanto, ainda precisamos aprender a ser co-autores com nossos alunos. 

Mais provocações....

Mary

Em resposta à Usuário excluído

Re: Qual é a cara desse professor On Line?

por Ieda Carvalho Sande -

Olá, pessoal!

Partindo do questionamento da Mary:

Será que nós estamos prontos para viver tão próximos uns aos outros e compartilhar esse poder com esses alunos dessa era digital? Será que nossa escola está preparada para atender essa exigência contemporânea?

Não creio que nossa escola esteja preparada para atender às exigências da sociedade atual. Faltam professores capacitados para atender a esses alunos da era digital.

De acordo com Lèvy “será impossível aumentar o número de professores proporcionalmente à demanda de formação que é, em todos os países do mundo, cada vez mais diversa e maciça”. Tanto no aspecto quantitativo como no qualitativo (busca de outras modalidades de ensino e de técnicas), observa-se um aumento da demanda por formação. A cada dia, para atender a esse crescimento e no sentido de diminuir os custos, as universidades procuram adaptar seus cursos com vistas a dar conta dessa demanda. E a tendência do aluno é buscar alternativas que atendam às suas necessidades sem a rigidez de horário de um curso presencial.

E o professor atual? Como deve tratar o conhecimento? Estará pronto para desafiar seus alunos, fomentando a capacidade de problematizar e buscar respostas próprias, de coletar e analisar informações?

Esse novo professor deve levar seus alunos a trabalhar em equipes, compartilhando seus conhecimentos e atividades na busca de soluções para os seus problemas, indagando, fazendo relações, errando e acertando, criando novos padrões. E isso é muito difícil para quem vem de uma educação tradicional cujo modelo era centrado na pedagogia da transmissão e sem tempo para buscar uma formação continuada que o coloque em condições de acompanhar a tendência do mundo atual.  

E aí? Como resolver esse problema? Fico muito angustiada quando verifico que, apesar dos grandes investimentos do governo no sentido de equipar as escolas, não só com computadores, mas também com outras mídias, não há uma política pública eficaz voltada para a formação continuada desse professor.

 Busco respostas, pessoal!

Em resposta à Ieda Carvalho Sande

Re: Qual é a cara desse professor On Line?

por Marco Silva -

Ieda e Mary, leio a postagem de vcs e pergunto o pensam diante da obra de arte (imagem) que postei neste forum sobre sala de aula.

Reapresento ela aqui. Veja! Desta vez em tamanho menor.

edu na bienal 2

Instação na Bienal de São Paulo de 2006 com crianças feitas de cera. Crítica do aritista à sala de aula hiperárquica, silenciosa, individualista, típica da pedagogia da transmissão.

bjs,

Em resposta à Marco Silva

Re: Qual é a cara desse professor On Line?

por Fábio Kalil de Souza -

Marco e demais colegas,

           De fato a imagem nos remete a pensar sobre a "Educação Bancária" tão criticada por Paulo Freire, na qual o estudante é considerado mero receptor de informações transmitidas pelo suposto professor, acreditando que assim se produza alguma aprendizagem. Àquele é desconsiderado em sua historicidade, concebido fora de seu contexto cultural e destituído, assim, de saberes, experiências, valores e conhecimentos ali vivenciados e produzidos. E desse modo assistimos, de um lado, o professor, suposto detentor do conhecimento; do outro, os alunos enfileirados em sala de aula (a foto traz um novo arranjo mas o sentido é o mesmo) como “depositários” das informações transmitidas pelo “mestre”. Este é um quadro que ainda persiste no cenário educacional brasileiro, como sabemos...inclusive nas universidades.

As críticas a essa pedagogia são inúmeras, mas, ao que parece, ela não se dilui tão facilmente sob o calor das mesmas, mostrando sua força histórica até nossos dias. Noutros termos: a persistência de tal pedagogia no ofício de muitos docentes se deve, entre outras razões, ao fato de ter suas histórias de vida escolar e formação inicial profundamente marcadas pela referida educação. Logo, a mudança/superação/desconstrução desse paradigma de ensino também será alcançado num movimento histórico, o qual estamos vivenciando parte dele.

Algumas provocações em direção oposta aos nossos discursos: todos nós vivemos esta experiência durante anos a fio, não é mesmo?! E hoje muitos são mestres e doutores (outros hão de o ser), embora tenhamos sido outrora "depositários" de informações, ou seja, fomos alvos da "pedagogia transmissiva" (acrítica, massante, apassivadora, diretiva etc.) e temos alcançado performance, graus de conhecimento e títulos relevantes na academia. Seria isso um paradoxo considerando que muitos professores tiveram impacto (influência) em nossa formação? Essa pedagogia seria por toda criticável? Ela realmente -em qualquer aspecto- não apresenta  NENHUMA vantagem/contribuição pedagógica para o processo de ensino-aprendizagem?  

Entendo -posso estar enganado- que há momentos em sala de aula que a pedagogia da trasmissão funciona, é útil, gera aprendizagem, dirime (e provoca) dúvidas, instiga a curiosidade, corrige equívocos de compreensão, entre outros efeitos. Aprendemos que a educação legítima não se faz de 'A' para 'B' mas de 'A' com 'B'; mas o próprio Freire (1996) também afirmara que isso não impede de 'A' falar PARA 'B'.

Sobre a supracitada pedagogia, que tal elencarmos alguns limites e possibilidades (ainda não citados nesta pesquisa) para o ensino presencial e/ou online? Reforço a atitude de  vocês a se posicionarem criticamente sobre suas próprias idéias e crenças.

abs,

Em resposta à Fábio Kalil de Souza

Re: Qual é a cara desse professor On Line?

por Marco Silva -

Olá Fábio

Sua reflexão é valiosa pq nos convida a uma explicação básica inicial. Vc pergunta o que fazer com a pedagogia da transmissão. Devemos joga-la fora?

Suas perguntas cruciais são: "Essa pedagogia seria por toda criticável? Ela realmente -em qualquer aspecto- não apresenta NENHUMA vantagem/contribuição pedagógica para o processo de ensino-aprendizagem? "

Não! Todo o tempo o módulo 4 está criticando a prevalência da pedagogia da transmissão, jamais sua exclusão da educação.

Estamos questionando um modelo paradigmático cristalizado que resultou na imagem da obra de arte que postei neste fórum e mostra carteiras e crianças empilhadas. Vc viu essa imagem?

Estamos criticando um modelo unidirecional que engendrou a era industrial e o sistema educacional de massa e sua escola-fábrica, na qual o professor ensina disparando lições-padrão. Estamos criticando esse sistema de ensino baseado em distribuição de pacotes de informação.

Estamos criticando um modelo unidirecional que prejudicou e prejudica enormemente a expressão da pedagogia dialógica ou a pedagogia sociointeracionista, e que, em última instância, prejudicou e prejudica a formação da cidadania.

Somos a favor de preleções que são oratórias para promover orientações, provocações e encaminhamentos. Uma aula discursiva em momentos estratégicos é bem vinda. O que não é possível aceitar é a prevalência da oratória do mestre. Lembro a frase do P. Lévy: "A escola é uma instituição que há cinco mil anos se baseia no falar-ditar do mestre."

Ademais, aprendemos com Edgar Morin que o pensamento complexo se faz com a articulação de paradigmas e não com a prevalência de um UNO.

Forte abraço,

Em resposta à Marco Silva

Re: Qual é a cara desse professor On Line?

por Fábio Kalil de Souza -

Olá Marco,

         Muito enriquecedora sua intervenção, como sempre. Sua argumentação -com destaque  a citação de Edgar Morin- implode com disposições favoráveis a um determinado modelo comunicacional ("A" ou "B"), abrindo "portas" para reflexões multifocais do objeto em questão, o que nos leva, como docentes na prática do ensino, a nos apropriarmos do melhor de cada modelo. Nada de "prevalências". Busca-se, então, a convergência das potencialidades de cada paradigma, com ênfase, claro, na dialogicidade.

Outro abraço!

Em resposta à Fábio Kalil de Souza

Re: Qual é a cara desse professor On Line?

por Usuário excluído -

Olá Marco, Lázaro e turma toda que participa taõ ativamente desse debate.

Estive ausente do módulo 3 porque estava viajando. Retorno agora e encontro o módulo 4 taõ animado com discussões acaloradas e que trazem muitos pontos para a reflexaõ. Li todas as intervenções e fiquei pensando que estamos conscientes dos limites da pedagogia da transmissão e da necessidade de uma mudança. O que fazer para que essa mudança aconteça? Acho que ela deve começar na formação inicial. Acho que todos nós somos formadores de professores. O que estamos fazendo nesse processo de formação de professores? Como são nossas aulas presenciais? Nossos alunos, futuros professores como vivenciam no dia a dia da sala de aula uma pedagogia da construção coletiva, da aprendizagem colaborativa? Não somos nós que devemos iniciar isso? Se eles , os nossos alunos, vivenciam isso conseguirão realizar essa prática também no momento em que se tornarem professores.

Quanto à educação online penso que ela pode contribuir e muito para  o nosso trabalho de formadores de professores. A dificuldade dos professores integrarem à sua prática pedagógica o uso do computador e da internet está em desconhecerem o seu potencial de afetar e mudar o processo de aprendizagem. Pergunto: na formação inicial, se nos trabalhos de todas as disciplinas, professores e alunos interagissem além do presencial usando os recursos proporcionadas pela cibercultura, o que poderia acontecer com a aprendizagem? Essa experiência não levaria a um deslocamento da transmissão para a colaboração, para a construção conjunta e coletiva? Isso naõ seria um primeiro passo para se tornarem um novo professor necessário às demandas desse nosso tempo?

Ficam aqui as minhas questões  

Maria Teresa

Em resposta à Usuário excluído

Re: Qual é a cara desse professor On Line?

por Marco Silva -

Colegas, fiz o mapeamento da fala muito provocante da Maria Tereza assim:

Ela apresenta duas linhas de questões:

1. Estamos conscientes dos limites da pedagogia da transmissão e da necessidade de uma mudança.

As perguntas são:

  • O que fazer para que essa mudança aconteça? Acho que ela deve começar na formação inicial. Acho que todos nós somos formadores de professores.
  • O que estamos fazendo nesse processo de formação de professores? 
  • Como são nossas aulas presenciais? 
  • Nossos alunos, futuros professores como vivenciam no dia a dia da sala de aula uma pedagogia da construção coletiva, da aprendizagem colaborativa? 
  • Não somos nós que devemos iniciar isso?
  • Se eles , os nossos alunos, vivenciam isso conseguirão realizar essa prática também no momento em que se tornarem professores[?]

2. Quanto à educação online, penso que ela pode contribuir e muito para o nosso trabalho de formadores de professores. A dificuldade dos professores integrarem à sua prática pedagógica o uso do computador e da internet está em desconhecerem o seu potencial de afetar e mudar o processo de aprendizagem.

As perguntas são:

  • Na formação inicial, se nos trabalhos de todas as disciplinas, professores e alunos interagissem além do presencial usando os recursos proporcionadas pela cibercultura, o que poderia acontecer com a aprendizagem? 
  • Essa experiência não levaria a um deslocamento da transmissão para a colaboração, para a construção conjunta e coletiva? 
  • Isso naõ seria um primeiro passo para se tornarem um novo professor necessário às demandas desse nosso tempo?

Certamente Maria Tereza nos convida a interagir com ela. Quem agrega valor? Quem amplia esse mapa?

Abrs,

Em resposta à Marco Silva

Re: Qual é a cara desse professor On Line?

por Usuário excluído -

A prof  Maria Teresa  trouxe uma série de inquietações importantes, e muitas delas também me acompanham há algum tempo...

Penso que os princípios enunciados por Paulo Freire e Anísio Teixeira e outros educadores que não compõem o cenário de autores da cibercultura parecem extremamente atuais e certamente são INDISPENSAVEIS a essa perspectiva de educação que estamos construindo e tentando paulatinamente superar...  A escolha desses textos foi muito pertinente e as contribuições calorosas dos colegas tem nos aproximado da releitura necessária aos que não vivenciaram a cibercultura e a possibilidade material de viver a dialógica  e a interação.

Essas discussões, reflexões e inquietações  nos alertam o quanto temos que extrair das teorias e do contexto sócio cultural que estamos imersos as ações inovadoras e transformadoras das nossas práticas. As críticas, como trouxe Marco falando a Lázaro, são recorrentes,  “De fato, é recorrente. É recorrente no constatar o problema, é recorrente no discutir alternativas, mas é igualmente recorrente a pedagogia da transmissão

 A presença crescente dos nativos digitais, das mídias interativas, etc... tem nos encaminhado a reflexão e ao desafio constante de elaborar estratégias para superar e modificar drasticamente os modelos clássicos de educação baseadas na comunicação massiva, passiva e repressora. No campo teórico, essa superação se faz presente e pulsante, inclusive consegue-se vislumbrar que o modelo comunicacional vivenciado pelos teóricos que respaldam o fazer crítico, reflexivo, construtivo e dialógico do qual estamos falando, precisa ser complementado pelas vivências características da cibercultura.

Por outro lado, as práticas educativas, no geral, continuam reproduzindo as imagens postadas nesse fórum e trazidas nas inquietações e questionamentos dos colegas. A centralidade ainda está na autoridade do professor, no individualismo e na falta de conexão e participação ativa entre os sujeitos da aprendizagem. A falta de preparo para a co-autoria, para a colaboração, para a troca, para a interação está justamente focada na formação inicial que tivemos... por isso a importância de processos de formação continuada de qualidade.

A nossa formação inicial foi marcada e tem ranços muito fortes, mas práticas como essas que estamos vivenciando nos faz sentir o desejo de fazer a cada dia um pouco para superar e modificar o contexto educacional vigente. Aprendemos ler, lendo, a escrever, escrevendo... e a interagir, interagindo... Educação e formação são processos de superação, pois estamos cheio de marcas e recalques de um modelo educacional e comunicacional repressor...

Na formação continuada estamos tendo a chance de praticar as teorias... estamos nos desestabilizando... “assimilando”, acomodando, passando por processos de equilibração, buscando assim novas maneiras de proceder...

[...] ensinar inexiste sem aprender e vice-versa e foi aprendendo socialmente que, historicamente, mulheres e homens descobriram que era possível ensinar [...]. Aprender precedeu ensinar ou, em outras palavras, ensinar diluía na experiência realmente fundante de aprender (2004, p. 26).

Urge fazermos o trabalho do beija flor... uma gota a cada “aula” e a cada interação... Isso que o grupo está vivenciando aqui é justamente uma forma de buscar uma sintonia entre as teorias e pedagogias paulofreireanas e socioconstrutivistas e o paradigma comunicacional interativo.  Creio que além de outras questões citadas pelos colegas, o professor do novo tempo é o professor que quer e faz a diferença nas pequenas ações da prática educativa.

Parafraseando Marco em uma das suas contribuições acima, “ Vamos fazer com que as teorias dos grandes mestres citados operem na prática...” (Silva, Marco) rsrs...

Antonete Xavierpiscando  

Em resposta à Usuário excluído

Síntese do fórum "Qual é a cara desse professor on line?"

por Usuário excluído -

Olá! sorriso

Gostaríamos de parabenizar a todos por este riquíssimo fórum, que possibilitou uma intensa reflexão sobre o desafio de ser professor na sociedade do conhecimento.

O fórum iniciou com o questionamento sobre a identidade do professor, seja ele online ou presencial. Observa-se uma preocupação quase que unânime com a busca do perfil desse professor que deve se inserir no contexto da cibercultura, cujas leis se relacionam à interatividade, conectividade em rede e inteligência coletiva.

Há uma preocupação com a desmotivação que leva o professor da sala de aula presencial a continuar atuando de forma unidirecional, impedindo o diálogo que transforma e motiva. É inegável a necessidade de se proporcionar uma aula presencial que leve o aprendiz à autonomia e à busca do saber. Sugere-se como solução que se experimente a interatividade, a busca do conhecimento por meio das trocas coletivas e da co-criação. Somado a isto, deve haver, por parte das instituições, o incentivo a uma formação continuada que articule a reflexão e mudanças nas práticas docentes.

O aprendiz também deve ser conhecido e levado ao trabalho em equipe, ser impulsionado a investigar e buscar a solução de problemas por meio de indagações, erros e acertos. Pondera-se, no entanto, que o nativo digital não significa estar inserido em um contexto que tenha por finalidade a educação e a aprendizagem, mas já possui elementos da cibercultura que favorecem “uma interlocução mais horizontal e participativa”. Este novo aprendiz não se satisfaz com o papel de mero espectador, ao contrário, demanda a colaboração e a co-autoria.

Ainda no contexto do aprendiz há que se relevar os motivos que levam à exclusão digital, que não deve ser dissociada da exclusão social. Neste sentido amplia-se a defasagem nas escolas e nas universidades.

Ao professor presencial e/ou online, cabe o papel de constante transformação e adaptação às demandas da cibercultura. Seu grande e constante desafio é o de desenvolver no aprendiz a “cidadania, crítica, politização, solidariedade e ética” com ajuda das tecnologias digitais.

Esse primeiro fórum representa uma pequena parte da polifonia potencializada pelo uso do computador conectado. Mas vale lembrar que ele prossegue durante todo o módulo 4, pois sua construção é uma obra aberta.

É na multiplicidade que refazemos a unidade perdida (E. Morin).

Um forte abraço,

EQUIPE DO MÓDULO 4

Em resposta à Marco Silva

Re: Qual é a cara desse professor On Line?

por Usuário excluído -

Boa Noite a todos !

Lendo as interessantes colocações  dos colegas nesse  Fórum, gostaria de fazer inicialmente algumas observações . O colega Lázaro coloca “ sobre a  defasagem da escola e da universidade na "era digital" lembrando  que   apesar dos [ ], empresários e gestores do setor educacional estarem cada vez mais compelidos aos investimentos  em novas tecnologias estão pouco atentos à necessidade de modificar a sala de aula que está centrada na pedagogia da transmissão..

Corroborando com a idéia, o colega Fábio Kalil diz, com muita propriedade  que “ as críticas a  pedagogia da transmissão são inúmeras, porém tal  pedagogia  continua a mostrar sua força histórica até nossos dias...

Por outro lado, a constatação do Marco é verdadeira quando cita que a educação online tem sido utilizada como panacéia para encobrir intereses do mercado ou esconder a incapacidade de gestores que só fazem transmitir pacotes de informação..

Maria Teresa e o Marco ainda apontam muito acertadamente que os professores não integram ás suas práticas pedagógicas o computador porque deconhecem o seu potencial de imprimir mudanças no processo de aprendizagem

No entanto,  a transformação dessa pedagogia transmissiva  que aí está não depende somente  da atuação dos docentes mas de uma mudança na própria concepção da profissão docente. Estamos numa crise de identidade docente sem precedentes e de uma galopante desprofissionalização ( ARROYO, TARDIF, SACRISTÁN, etc).

Com muita propriedade, Dowbor coloca:

                         " Enquanto não construirmos um novo sentido para a nossa profissão,

                            sentido esse que está ligado à própria função da escola na sociedade

                            aprendente, esse vazio, essa perplexidade, essa crise, deverão continuar. 

                           (  DOWBOR, L 2001, p.6) Ver também http://dowbor.org/tecnconhec.asp

Marco, de forma ainda mais precisa, encaminha uma resposta na própria formulação da pergunta: "se os professores interagissem além do presencial usando os recursos proporcionados pela cibercultura, não seria um primeiro passo para se tornarem um professor atento ás demandas desse nosso tempo? Claro que sim!

Eu pessoalmente não acredito em mudanças bruscas no que tange á introdução das tecnologias na educação. Acredito que, inicialmente será mais fácil  agregar ao ensino presencial as ferramenats da educação online... mas precisamos iniciar esse processo urgente!

Olivia

.  
Em resposta à Usuário excluído

Re: Qual é a cara desse professor On Line?

por Usuário excluído -

Olá, Lázaro,

Realmente, seus questionamentos são muito pertinentes e traduzem muito de como vejo a situação posta hoje em contexto acadêmico, reflexivo sobre os desafios que estamos nos deparando. Acredito que a Concepção de Educação que emerge da investigação sobre o processo ensino-aprendizagem face aos novos marcos teóricos da contemporaneidade, volta-se para o desenvolvimento humano, considerando todas as suas dimensões entre as quais a  ética, a cultural e a política, priorizando a capacidade de “aprender a aprender” com autonomia  para o repensar e reconstruir o mundo. É uma concepção que pretende formar o homem capaz de perceber as relações contidas neste  mundo, capaz de modificar-se constantemente, tendo em vista as transformações rápidas da sociedade, sem deixar de transmitir os saberes acumulados pela experiência humana, de forma contextualizada.

Assim é que a VISÃO DO TODO e a CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO se inserem como pressupostos básicos para o processo de aprendizagem. Com estes, outros emergem de modo a nortear a ação pedagógica em sala de aula, seja esta presencial ou virtual, pois, clamam pela autonomia, ensino com pesquisa, interdisciplinaridade, contextualização, problematização, competências, aluno ativo, parceria, participação, negociação, tecnologias educacionais, aprendizagem significativa, ética e cidadania, entre outros...

MUITO BEM, sabemos disso, mas me parece que os mesmos problemas do século passado nos acompanham neste novo século e milênio. O que falta! Que interação! Que procedimentos se fazem necessários para de fato sairmos da reflexão para uma ação que traga mudanças!

Isso tem me levado a constantes observações, as quais me pergunto, que professor se faz necessário, seja este presencial ou online! Creio que ainda nestes dois patamares,  um com mais trajetórias, histórias - outro começando a virtualizar sua jornada, as seqüelas parecem um pouco, senão, muito parecidas.

Assim sendo, as atividades de aprendizagem ocorridas seja pelo professor online que é o ponto de vista aqui nesta troca, ou, o presencial, durante a mediação de uma aula revestem-se de grande importância, porque, é neste momento que alunos e professores das mais diferentes áreas trabalham a partir das POSSIBILIDADES D ESUPERAÇÃO de um modelo de ensino historicamente fragmentado em prol de um processo de recriação sistêmica, integrado, da prática pedagógica.

EIS O DESAFIO, A RODA CONTINUA A CIRCULAR...

"A criatividade requer coragem para abandonar as certeza" (Erich Fromm)

Abços Virtuais,

Elizete...

Em resposta à Usuário excluído

Re: Qual é a cara desse professor On Line?

por Usuário excluído -

Olá Lázaro

Suas questões são muito pertinentes e proponho expandi-la p/ "qual a cara do professor hoje?", pois como vc disse torna-se cada vez mais tênue a linha divisória entre o professor que trabalha em sala de aula e aquele que trabalha online. Espera-se que ambos possam atuar no ciberespaço, tanto para sua aprendizagem ao longo da vida como para criar circunstâncias que propiciem a aprendizagem de seus alunos.

No entanto, ao olhar à nossa volta, e basta olhar em nossas universidades nem precisando adentrar a escola pública, para perceber que muitos professores não se integraram à cultura que tem as tecnologias digitais como estruturante de pensamentos e ações.

Não podemos apenas constatar e denunciar essa situação, como se os professores fossem culpados e existissem alguns abnegados salvadores que têm uma palavra diferente para salvar a todos. Importa é agir no sentido de desenvolver projetos de formação de professores que criem condições  favoráveis aos professores para e com a incorporação de tecnologias e mídias digitais ao seu fazer e pensar a educação na cibercultura.

Um abraço

Em resposta à Usuário excluído

Re: Qual é a cara desse professor On Line?

por Raquel Pasternak Glitz Kowalski -

Olá pessoal,

Esta discussão está ótima!
Às vezes me pergunto se, mesmo com todo o preparo necessário, todo professor tem perfil para trabalhar on-line? As capacitações mostram que muitos professores têm muita dificuldade de trabalhar com a tecnologia em prol da educação.
Acredito que quando percebem e utilizam os benefícios, agregando planejamento, colaboração e interatividade, o professor on-line está no caminho certo.

Boa noite para todos
Raquel Glitz

Em resposta à Raquel Pasternak Glitz Kowalski

Re: Qual é a cara desse professor On Line?

por Usuário excluído -

Oi Gente,

Penso que não existe perfil definido para se trabalhar com o ensino on-line, existe sim a necessidade de mudança das práticas pedagógicas docentes, uma vez que já estamos saindo do paradigma das capacitações e pensando em formação, como processo de construção coletiva e apropriação e reconstrução de idéias e ideais.

Acredito como você Raquel, assim que perceberem os benefícios que o espaço virtual nos traz e apresenta para o processo educativo o caminho estará aberto para todos.

Em resposta à Usuário excluído

Re: Qual é a cara desse professor On Line?

por Ieda Carvalho Sande -

Mary,

Se há a necessidade de mudança das práticas, não seria o perfil desse professor para o ensino on-line, diferenciado? Será que o professor "antigo", formado e atuante na pedagogia tradicional, percebe os benefícios do ambiente virtual? 

Bjs,

Em resposta à Ieda Carvalho Sande

Re: Qual é a cara desse professor On Line?

por Usuário excluído -

Olá Pessoal e Ieda,

Quando falo que não precisa de "um perfil" é porque penso que nada precisa ser definido, padronizado, modelado...   compreendo os benefícios dos espaços virtuais, pois consigo trabalhar com eles, no entanto, de maneiras bem diferentes, nas minhas diferentes realidades... dessa maneira, penso que precisamos então estar para além de "um perfil" para efetivar essa "transformação da prática pedagógica" seja ela presencial ou on line.

Aí que vem o questionamento inicial posto por Lázaro mais uma vez, agora com uma pequena complementação: "Quais são as caras" desse professor on line?   O que deve ser diferente do "professor antigo"?

Abraços,

Em resposta à Usuário excluído

Re: Qual é a cara desse professor On Line?

por Usuário excluído -

Olá Pessoal,

Essas questões que estão sendo debatidas neste fórum realmente são muito instigantes...

Gostaria de discutir dois autores do ciberespaço ou da sociedade em rede (Levy e Manuel Castells). Em seguida ao trecho que Mônica trouxe, há algo que implico um pouco com Levy e que muito educadores e empresários da educação têm utilizado para legitimar seus espaços virtuais, afinal, se há uma demanda maciça precisando de formação, nada seria melhor que a utilização da EAD, visto que,

"tanto no plano das infra-estruturas materiais como no dos custos de funcionamento, as escolas e universidades virtuais custam menos do que as escolas e universidades materiais fornecendo um ensino presencial"  (Levy, 1999, p. 169).

Qual seria o problema disso? Ora, em praticamente qualquer curso, palestra ou seminário este é um assunto que vem à pauta, justamente para legitimar o emprego da EAD. Na minha percepção e aí vem Castells, pondo isso como uma segunda opção, no seu Sociedade em Rede (depois posto a referência direitinho...) a EAD perde o seu espaço como lugar de aprendizagem constituído para ser somente uma possibilidade de redução de cursos, formação em larga escala ou via de escape.

Acredito, portanto, que temos que legitimar a EAD, ou a Educação On Line por suas possibilidades interativas, pedagógicas, entre outras, mas não porque é uma alternativa economicamente mais viável, mas sim pelo seu potencial.

Quanto à questão do perfil desse sujeito, ou a/s cara/s do docente, a própria concepção de educação on line vem mudando, de forma que a dicotomia presencial, a distância se dilui cada vez mais, ao passo que em nossas práticas cotidianas de alguma maneira incorporamos o virtual, o presencial e isto se torna algo familiar, "normal" , enfim, algo do nosso dia-a-dia.

São nesses cursos que podemos sim, explorar o potencial desses "nativos virtuais", bem como daqueles que tem entrado na sociedade em rede.

Resumindo, tanto em relação à fala de Levy trazida por Mônica, quanto à teoria de Castells ou à discussão sobre perfil do educador, creio que haja a necessidade de tornarmos as fronterias menos rígidas, menos marcadas, mais tênues. Afinal, certemente não sei qual é a cara desse professoron line, mas chuto que não seja cara na escola, outra no barzinho com seus amigos, outra com sua família, mas sim, caras que constituem um sujeito que sabe empregar esses saberes nos diversos espaços que habita.

Beijos e abraços! (Bom final de semana!)   

Lázaro

 

 

Em resposta à Usuário excluído

Re: Qual é a cara desse professor On Line?

por Marco Silva -

Lázaro, este aspecto que vc traz sobre o barateamento da EAD em massa, a despeito das potencialidades da cibercultura, aprofunda o tema sobre a identidade do professor online trazido por vc inicialmente.

Vc diz desta vez: "a EAD perde o seu espaço como lugar de aprendizagem constituído para ser somente uma possibilidade de redução de cursos, formação em larga escala ou via de escape."

E diz mais: "Acredito, portanto, que temos que legitimar a EAD, ou a Educação OnLine por suas possibilidades interativas, pedagógicas, entre outras, mas não porque é uma alternativa economicamente mais viável, mas sim pelo seu potencial."

De pleno acordo . Barateamento de fato ocorrerá se a gestão da EAD ou Educação Online mantiver a lógica da distribuição do mesmo em massa. Fora isso, se quiser ousar de fato em educação, seja presencial, seja online, terá que investir à altura da qualidade e da seriedade.

Vc diz: "a dicotomia presencial, a distância se dilui cada vez mais, ao passo que em nossas práticas cotidianas de alguma maneira incorporamos o virtual, o presencial e isto se torna algo familiar, "normal" , enfim, algo do nosso dia-a-dia."

Por isso posso dizer: mais do que inclusão digital, a inclusão cibercultural se torna algo familiar, "normal" , enfim, algo do nosso dia-a-dia. Couchot disse que a interatividade é o pão cada vez mais cotidiano de uma sociedade inteira.

A educação online sintonizada com a dialógica de Freire ou com o interacionismo de Wygotsky tem na dinâmica comunicacional da cibercultura um aliado a favor da qualidade na comunicação, nas interações.

Vc diz: "Quanto à questão do perfil desse sujeito, ou a/s cara/s do docente, a própria concepção de educação online vem mudando..."

Vem mudando sim, mas muito lentamente, pois não há formação suficiente e qualificada para os professores online. É lenta a formação básica necessária. Para docência presencial e tb para a online.

Os cursos online podem contar com as "leis da cibercultura" (interatividade, conectividade em rede, inteligência coletiva) e também com a presença crescente dos nativos digitais a seu favor. Ambos corroboram em princípio com os indicadores de qualidade em educação autêntica, pois favorecem a expressão do ambiente de interações e de colaborações. 

abraço,

Em resposta à Marco Silva

Re: Qual é a cara desse professor On Line?

por Usuário excluído -

Marco, Lázaro, colegas

Concordo com vcs. No entanto, assinalo que ser nativo digital não é necessariamente indicativo de conviver na cibercultura com a finalidade educativa e de aprendizagem. Há a intencionalidade do ato pedagógico, a mediação e outros fatores. Compreendo que Marco fala em favorecimento e não em garantias, mas ainda assim é importante ressaltar que a cibercultura não é a panacéia p/ todos os problemas da educação.

Já houve um tempo em que o computador era considerado o salvador da educação, depois veio a internet e agora a cibercultura c/ a web 2.0, web 3.0... Temos agora uma mudança mais profunda pq compreendemos tratar-se de uma nova cultura, mas ainda que essa cultura se desenvolva no âmago das relações entre as pessoas, é possível que muitos problemas inerentes da educação não estejam resolvidos. A forte relação entre educação e comunicação não faz com que uma se confunda c/ a outra, há especificidades que são inerentes a cada uma delas.

Abç

Em resposta à Usuário excluído

Re: Qual é a cara desse professor On Line?

por Marco Silva -

Ok Beth

Sua ressalva é bem-vinda. De fato "a cibercultura não é a panacéia p/ todos os problemas da educação". Vc percebeu bem minha posição a respeito. Falo em favorecimento.

Hoje temos os alunos nativos digitais que já trazem elementos da cibercultura favoráveis a uma interlocução mais horizontal e participativa, colaborativa. Pois já trazem experiência comunicacional a partir de uma tela diferenciada da tela da tv.

Diferentemente da cultura de massa que criou silenciados espectadores, a cibercultura faz emergir sujeitos com habilidade em compartilhamento em rede. Na sociedade hierárquica da mídia de massa a educação deveria mobilizar esses silenciosos, introspectivos, atuando contra uma cultura instaurada pelos meios de massa. Hoje, a escola pode lançar mão da expetise comunicacional já trazida pelo aprendiz habituado a interagir com orkut, MSN, posdcast, My Space, Fliker, games coletivos, web 2, etc, etc.

Os educadores na cibercultura encontram um contributo favorável à interação, à interatividade. O grande desafio permanece o mesmo: desenvolver cidadania, crítica, politização, solidariedade, ética nos alunos. O que não é nada fácil! Entretanto, temos alguma vantagem comunicacional em relação ao contexto sociotécnico da era dos meios de massa que nada mais fizeram senão cristalizar um modelo fortemente bem encaminhado já no berço da modernidade, com Kant, que instituiu o ethos solipsista com seu PENSO, LOGO EXISTO. 

A escola, eminentemente fundada no princípio cartesiano, pouco fez contra ele. Por isso as pedagogias dialógicas e socioconstrutivistas não foram ao paraíso na educação moderna.

bjs,

Em resposta à Marco Silva

Re: Qual é a cara desse professor On Line?

por Usuário excluído -

Marco, vcs foram fundo ao nos impulsionar a refletir sobre a cara do professor online tendo como pano de fundo os 3 artigos selecionados. Ao tomá-los como referência p/ essa discussão certamente reencontraremos pensamentos criados em tempos de rádio, TV e outras tecnologias de massa, que já suscitavam questões presentes hoje em tempos de cibercultura.

Anísio Teixeira ao falar do Mestre do Amanhã, conclui que este será um profissional que em sua ação integra " funções de preceptor e de sacerdote e profundamente integrado na cultura científica, o mestre do futuro será o sal da terra, capaz de ensinar-nos, a despeito da complexidade e confusão modernas, a arte da vida pessoal em uma sociedade extremamente impessoal." T

Concordo com o mestre Teixeira que embora muitos estejam imersos na cibercultura a educação necessária para esta nova cultura "ainda está para ser concebida e planejada".

Um abç amigo!

Em resposta à Usuário excluído

Re: Qual é a cara desse professor On Line?

por Marco Silva -

Beth e colegas, recorto e colo aqui um trecho do artigo que escrevi sobre o fantástico texto de 1963 "Mestres de amanhã" do Anísio Teixeira. O mestre baiano era de fato genial. Vejam! (Obs.: trechos entre aspas são do Anísio)

O perfil clássico do mestre estaria cada vez mais em crise. Com a expansão dos meios de comunicação, ele estaria perdendo o antigo poder de "guardião e transmissor do saber", "passando a ser apenas um contribuinte para a formação do aluno, que recebe, em relativa desordem, por esses novos meios de comunicação, imprensa, rádio e televisão, massa incrível de informações e sugestões provenientes de uma civilização agitada por extrema difusão cultural e em acelerado estado de mudança".

A destruição de costumes, hábitos e de velhas crenças e preconceitos faz Anísio perguntar: “quanto vai o homem depender de sua cultura formal e consciente, de seu conhecimento intelectual, simbólico e indireto, para se conduzir dentro da nova e desmesurada amplitude de sua vida pessoal”. Sua resposta passava antes pela constatação: “São, portanto, de assustar as responsabilidades que aguardam o mestre de amanhã.”

Como estar além do "guardião e transmissor da cultura"? Como educar o “homem comum” para não sucumbir à excessividade caótica dos meios de comunicação? Anísio enfatiza:

"Será imensa a tarefa do professor secundário e grande deve ser o preparo, para que possa conduzir o jovem nessa tentativa de dar à sua cultura básica a largueza, a segurança e a perspectiva de uma visão global do esforço do homem sobre a terra."

As sugestões de como fazer, Anísio as reúne a partir do que considera mais avançado na ocasião. Cita a comprehensive school americana e o colégio universitário de Keele, Inglaterra, mas vai além do que destaca em tais instituições.

  • Expor aos estudantes uma diversidade de abordagens sobre conteúdos de aprendizagem e convidá-los a apreciar, sentir, rever, discutir, motivando a análise e a humildade diante dos conhecimentos já sistematizados e dos problemas que defrontam a civilização ocidental na nova era industrial e midiática. A sala de aula “lembrará muito mais um laboratório, uma oficina, uma estação de televisão, do que a escola de ontem e ainda de hoje”. E o mestre não será “o antigo mestre-escola a repetir nas classes um saber já superado”. Ele “lembrará muito mais o bibliotecário apaixonado pela sua biblioteca, o conservador de museu apaixonado por seu museu, e no sentido mais moderno, o escritor de rádio, de cinema ou de televisão apaixonados pelos seus assuntos, o planejador de exposições científicas”.
  • Lançar mão de equipamentos e de meios de comunicação e oferecer a cada jovem, antes de terminar o nível secundário de estudos um quadro da cultura contemporânea, desde os seus primórdios até os problemas e complexidades dos dias presentes. Oferecer a contribuição excelente de professores especializados “através dos recursos da televisão, do cinema e do disco, podendo levar todos os jovens a ver e ouvir, ou, pelo menos, a ouvir, esses especialistas e, a seguir, com o professor da Classe, desdobrar, discutir e completar as lições que grandes mestres desse modo lhe tenham oferecido”. “O mestre seria algo como um operador dos recursos tecnológicos modernos para a apresentação e o estudo da cultura moderna”. Em suma, estando o mestre “rodeado e envolvido pelo equipamento e pela tecnologia produzida pela ciência, não lhe seria difícil ensinar o método e a disciplina intelectual do saber que tudo isso produziu e continua a produzir.”

Para Anísio estas sugestões deveriam ser “o programa de educação comum do homem moderno”. Chamo a atenção para seu valor transtemporal e convido vcs a substituírem no texto de 1963 as tecnologias analógicas da época do Anísio pelas tecnologias digitais offline e online, acrescentando no mesmo ambiente os nativos digitais...

Colegas, mesmo imerso no contexto dos meios de massa, o mestre Anísio transcende o paradigma unidirecional. Aqui está uma valiosa inspiração para nós que pesquisamos a formação de professor na cibercultura, pois, afinal, como diz a Beth citando o mestre, "a educação necessária para esta nova cultura 'ainda está para ser concebida e planejada'".

Vejam bem o desafio que temos nas mãos. Por isso acredito mais e mais em nosso projeto interinstitucional. Só mesmo no compartilhamento é que teremos força para enfrentar o desafio de educar em nosso tempo. Anísio contribuiu para o tempo dele mesmo nadando contra a corrente unidirecional no contexto sociotécnico da sua época. Nós precisamos contribuir para formação dos mestres de hoje e de amanhã e temos a nosso favor a cibercultura e seu paradigma comunicacional.

Abrs,

Em resposta à Usuário excluído

Re: Qual é a cara desse professor On Line?

por Usuário excluído -
Pessoal, estou muito entusiasmada com as considerações dos colegas. Destaco, em espacial, a fala da Beth, que, em concordância com Anísio Teixeira, salienta os imensos desafios que se apresentam na educação interativa que se espera que haja, em tempos de cibercultura.

Nesse sentido, gostaria de chamar a atenção para o termo "educação bancária a distância", cunhado pelo pesquisador Pedro Godoy, em menção à EAD concebida em concordância com os princípios e pressupostos massivos da indústria cultural.

Com Carlos Valente e João Mattar, saliento a necessidade de trazermos o professor de volta à arena educacional, na educação online, de modo que ele participe não apensas das ações de mediação e avaliação, mas também da concepção do curso do qual participa como formador. Situado como autor dos processos de formação, certamente este professor terá mais facilidade em também situar seus alunos como co-autores dos seus processos de formação.

[ ]
Lucila

Em resposta à Usuário excluído

Re: Qual é a cara desse professor On Line?

por Usuário excluído -
Muito interessante Lucila quando você coloca a necessidade do professor ser autor da concepção do curso do qual participa como formador.Na verdade, nos cursos online que visam apenas o mercado e o dinheiro fácil,  o professor é um mero executor sem autonomia/ autoria no processo de construção. Esses cursos representam uma mera transposição das malezas da pedagogia da transmissão...
Em resposta à Marco Silva

Re: Qual é a cara desse professor On Line?

por Edilane Carvalho Teles -

Olá a todos,

Qual é a cara desse professor On Line?

Eu não sei, penso que está em formação, em construção, enfim, “configurando-se”. Cada encontro presencial com meus alunos é um “prazer”, adoro o toque e a troca que ali se estabelece, ao mesmo tempo vivo e convivo com a busca diária de pensar, elaborar e realizar proposições metodológicas diversas, criativas e que realmente espelhem e/ou despertem para uma pedagogia criadora e tranformadora. Na educação on line estas mesmas relações também podem acontecer, precisamos apenas, pensar e construir outras possibilidades.

Com a educação online, penso que os princípios educacionais não se perdem, ao contrário se ampliam e ao mesmo tempo nos assustam, pois se temos dificuldade de lidar com estas tecnologias diariamente, com seu grande fluxo de informações cotidianas, na educação, estas podem ser vistas pelos docentes como um trabalho a mais - mas não é - nós é que temos uma educação pouco valorizada e assim, as “mazelas e pressões” sobre a profissão acabam levando a melhor.

Onde é que fica o professor nesse contexto tão complexo e inundado de informações? Estamos preparados para conviver com a era e os nativos digitais ? Precisamos aprender, se por uma lado este universo é tão rico a ponto de nos fazer perder entre as malhas da rede e não querer mais emergir, por outro, este mundo de dimensões “universais” assustam. Portanto, quem é este prof? Um professor que tem compromisso com os princípios que acredita. Ou ainda,

  • Que elabora e busca sempre novas formas de interação
  • Que vença diariamente as barreiras de avalanches informacionais e encontre seu escopo educacional, às vezes perdido
  • Que aproxime-se daquele que participa também do processo, afinal é um processo com múltiplos sentidos e sujeitos interagindo
  • Que busque não perder de vista o sujeito, o processo e os objetivos a cumprir e/ou elaborar e (re)elaborar
  • E etc....

Podemos não ser nativos digitais , mas podemos nos tornar.

Concordo com Marco quando diz que “O grande desafio permanece o mesmo: desenvolver cidadania, crítica, politização, solidariedade, ética nos alunos.” Os desafios da educação permanecem, resta saber se com as práticas cotidianas de uma maioria que olha apenas para si, podem de fato serem superadas. “Depende de nós”, do envolvimento de cada um, na superação da fragmentação e lacunas deixadas pela ciência moderna.

Um abraço a todos,

Edilane Carvalho Teles

Em resposta à Ieda Carvalho Sande

Re: Qual é a cara desse professor On Line?

por Sheilane Britto -

Olá a todos,

Ieda,

Você tocou num ponto que considero de extrema importância para uma reflexão da prática docente de um professor formado em uma pedagogia tradicional, que é o desconhecimento da educação a distância mediada por computador via Internet. Ainda existe uma certa relutância na aceitação dos benefícios que esta modalidade de ensino  pode proporcionar à Educação como um todo. Acredito também, que certas "barreiras" podem ser quebradas  por meio de uma formação continuada que propicie uma reflexão das práticas pedagógicas ditas obsoletas e que insira este professor numa pratica de sala de aula onde haja a construção do conhecimento por meio da discussão, da reflexão e tomada de decisões. Além do ato reflexivo, acredito que este professor tenha que desenvolver não só habilidades operacionais, mas    também   desenvolver uma prática dialógica com seus alunos. Talvez, neste sentido, este professor tenha mesmo um perfil diferenciado.

Abr,

Sheilane

Em resposta à Usuário excluído

Re: Qual é a cara desse professor On Line?

por Usuário excluído -

Lázaro e amigos,

Acabei de voltar de uma reunião de início de semestre na Universidade em que sou professora (presencial) e que tem também cursos on-line. E estava muito angustiada com as falas da reunião e quando abri o material do curso e vi os posts ai comecei a me sentir um pouco melhor.

Vejam a discussão de hoje estava em torno da questão de que precisamos fazer mais atividades com computador pois os nossos alunos estavam muito desmotivados...um professor então levantou e disse: Nossa, mas como em todas as minhas aulas faço dezenas de apresentações em power point, todo o contéudo que falo está em meio digital...os alunos é que não querem aprender!!!.

E assim foi...durante quase duas horas, eram inúmeras experiências com a utilização do computador em sala de aula, porém todas apenas mudando a roupa das velhas práticas, ao inves de A fala para B com cuspe e saliva, A fala para B com cuspe, saliva e power point.

Ai então resolvi abrir a minha boca...que péssima hora!!!E relatei uma atividade que estava fazendo com os meus alunos de construção coletiva de texto no wiki...

Foi uma avalanche de pessoas falando dos malefícios da wikipédia e que foi coroado por uma professora que disse: ah pode ser até que esta experiencia realmente de certo mas você concorda que eu não ganho para isso?

Caros

Então chego a este fórum e percebo que todos nós estamos preocupados com as práticas e que não podemos "jogar a culpa" apenas em um agente é preciso mudar a forma de pensar e de agir de todo o conjunto...

Ainda bem que poderemos conversar sobre isto por um tempo...

Um abraço

Mônica Mandaji        

Em resposta à Usuário excluído

Re: Qual é a cara desse professor On Line?

por Sheilane Britto -

Olá Mônica,

Não seriam estes professores aqueles que mais necessitam refletir sobre  sua prática?

Mas que malefícios são estes? Será que eles conhecem a construção coletiva que ocorre no Wiki? Será que sabem o significado de construir a partir do diálogo? Será que eles procuram encontrar as razões para que suas aulas sejam consideradas "chatas" mesmo com o uso de alguns recursos tecnológicos? Parece-me que, como nos disse o prof. Marco, o problema está na pedagogia da transmissão e não no suposto desinteresse dos alunos.

Abr,

Sheilane

Em resposta à Usuário excluído

Re: Qual é a cara desse professor On Line?

por Marco Silva -

Oi Lázaro.

Reparei que vc chegou primeiro em nosso módulo. Seja bem-vindo e parabens pelas questões muito sintonizadas com nosso tema.

Traga sempre seus questionamentos. Sua livre expressão e nossa interação possivelmente co-criativa neste ambiente moodle é prova viva de que educação online funciona.

Lamento que os “críticos da EAD” não se disponham a experimentar a interatividade, a inteligência coletiva na educação online. Veriam até que esta modalidade própria da cibercultura pode inspirar melhorias na docência presencial, até mesmo na sala de aula infopobre.

Vc nos convida a discussão sobre qual é a cara do professor de quem fala o texto base do módulo 4.

Como autor do referido texto venho responder à sua valiosa questão com prazer. Grosso modo poderia dizer que o texto está falando de, pelo menos, dois tipos de professores. 1). Os professores que atuam bravamente, mesmo que muitas vezes “sem lenço, sem documento”, para enfrentar os desafios educacionais em nosso tempo e 2) Os professores desmotivados com as diversos impedimentos à realização do seu ofício. Entretanto, o texto não quer discutir o perfil de cada um dos dois. Seu o objetivo é chamar a atenção para um problema que prevalece na atuação dos dois professores: a pedagogia da transmissão.

Quem é o professor e quem é o aluno de que fala o texto? Inicialmente, falemos sobre professor. Aquele ainda vítima do milenar paradigma da transmissão. Pode ser tanto o inquieto que insiste bravamente enfrentando os desafios d su o objetossão sobre qual seja , quando o professor desmotivado.

Vc diz: “O Povo da UERJ já sabe que isso é uma fala recorrente...”

De fato, é recorrente. É recorrente no constatar o problema, é recorrente no discutir alternativas, mas é igualmente recorrente a pedagogia da transmissão.

Especificamente sobre a recorrente pedagogia da transmissão, suponho que a Faculdade de Educação da Uerj já tenha explorado amplamente as teorias de Paulo Freire, Vygotsky, Piaget, Dewey, Freinet, Anísio Teixeira. Como sabemos, elas valorizam a interação como condição sine qua non para a docência e da aprendizagem. Ainda assim, chamo atenção para a recorrente pedagogia da transmissão na Faculdade de Educação e na universidade como um todo.

Podemos considerar a seguinte hipótese: De nada adianta Paulo Freire, Vygotsky, Piaget, Dewey, Freinet, Anísio Teixeira se não temos uma teoria da comunicação capaz de sustentar a interação sine qua non proposta pelos grandes teóricos da educação. Estes autores desenvolveram suas teorias num contexto sociotécnico onde prevaleciam teorias comunicação funcionastas os meios de massa imprensa, rádio e televisão (meios unidirecionais), expressões do paradigma da verticalidade e da separação entre emissão e recepção centrado na transmissão. Portanto, não puderam contar com uma teoria da comunicação capaz de sustentar a condição sine qua non chamada interação.

Chamo a atenção de vcs para uma convicção que tenho: sem uma teoria da comunicação capaz de sustentar o movimento em sala de aula da pedagogia da interação (sujeito-objeto-interlocutor-sujeito-objeto), as teorias dos grandes mestres citados não operam na prática.

Então Lázaro, a cara do professor de que fala o texto base do modulo 4 é a do profissional desprovido de uma teoria e prática de comunicação capaz de sustentar as teorias da pedagogia da interação (Paulo Freire, Vygotsky, Piaget, Dewey, Freinet, Anísio Teixeira). Este é o professor presente na preocupação do texto que se propõe a discutir:

  1. Como formar esse professor para uma pedadogia da interação (segundo os clássicos teóricos citados).
  2. Como mostrar ao professor que nos sistemas de ensino prevalece o mesmo movimento unidirecional da mídia de massa aferrado ao paradigma da transmissão que prevalece há milênios e foi coroado com a mídia de massa no século XX?
  3. Como mostrar a ele que precisa superar a prevalência da lógica vertical e unidirecional em sua sala de aula?
  4. Como mostrar a esse professor que não adianta somente falar de dialógica e de sociointeracionismo, transmitindo informações meramente?
  5. Como mostrar a ele que a pedagogia da interação necessita de uma pragmática comunicacional capaz de suportar seu movimento comunicativo.

Lázaro, aqui estão alguns aspectos iniciais para nosso debate. Podemos adentrar ainda mais a importante questão que vc traz.

Forte abraço,

Em resposta à Marco Silva

Re: Qual é a cara desse professor On Line?

por Marco Silva -

Gente, respondi ao Lázaro e aqui respondo dirigindo-me a todos e todas envolvidos na discussão provocada por ele. 

Quem é o professor de que fala o texto base do módulo 4? Respondo citando um trecho de jornal e a imagem de uma obra de arte exposta na Bienal de 2006 em São Paulo.

O trecho de jornal é:

“‘Deu preguiça de andar até a escola.’ Essa é a primeira razão citada por Aline (nome fictício) para explicar por que parou de estudar aos 15 anos. Aparentemente, a resposta indica que foi a larga distância ou a falta de transporte público entre sua casa, no complexo da Maré (zona norte do Rio), e o antigo colégio que a fez desistir. Com um pouco mais de conversa, porém, ela explica que a preguiça não era causada pelos 20 minutos de caminhada. O problema era outro: ‘Os professores eram muito chatos. Não sabiam explicar nada e repetiam todo mundo’.” (Folha de São Paulo, 07/01/2007, Caderno Mais!)

A matéria citada tem como subtítulo: “ 40% dos adolescentes que deixaram de estudar apontaram a falta de vontade para assistir às aulas”. Esse problema é complexo e contempla diversos encaminhamentos de análise. O texto base do módulo 4 enfoca o professor submetido ao modelo de docência baseado na explicação, nas lições-padrão, na lógica da distribuição de pacotes de informação.

Cito a imagem de uma instalação na Bienal de 2006:

edu na bienal

Esta obra (feita de crianças de cera) expressa a indignação do artista com a sala de aula triste, hierárquica e calada típica da pedagogia da transmissão.

Eis o professor enfocado na Unidade 1. Nosso módulo quer contribuir para formação desse professor. Seja ele da sala de aula presencial, seja da sala de aula online, nosso desafio aqui é discutir a formação desse professor.

Forte abraço,

 

 

 

Em resposta à Marco Silva

Re: Qual é a cara desse professor On Line?

por Edmea Santos -

Olá pessoal!

Que belo fórum. O fórum foi aberto com uma proposta específica "relatar boas experiências" para além da pedagogia da transmissão. Contudo, o Lázaro abriu um tópico com um debate incrívelmente denso e importante. O desdobramento foi incrível. Gostaria de destacar a fala da Ieda quando destaca a falta de uma "política de formação de professores". Esta política deve contemplar muito mais que técnicas pedagógicas para os usos disso ou aquilo. Temos que avançar para além da racionalidade técnica. Penso que nosso curso online esteja antenado com estas questões. Por este motivo a nossa participação ativa é fundamental. Estou adorando este começo do módulo 4.

Marco, esta obra de arte mexeu muito comigo. Esta sala de aula é pura solidão, puro tédio.

  • Pessoal, como mudar este paradigma via prática pedagógica?
  •  Nossas salas de aulas são assim como na obra de arte trazida pelo Marco?
  • Como fazemos diferente?

Gostaria muito de saber como são as salas de aulas de todos e todas. Tenho certeza que muitas não refletem a solidão e muito menos o tédio.

Como dizia Freire " vamos denunciar e sobretudo anunciar". Vamos anunciar pessoal? Como fazemos para superar a pedagógia da tranmissão seja no online, seja no presencial?

[]s

Méa

Em resposta à Edmea Santos

Re: Qual é a cara desse professor On Line?

por Usuário excluído -

Méa,

A pergunta que você faz é crucial: "Como fazemos para superar a pedagógia da tranmissão seja no online, seja no presencial?".

Claro que não hpa nenhuma fórmula pronta, a grande questão é co-criar (termo que usamos muito no nosso curso) esse fazer cotidiano.

Destaco três princípios, no entanto, que podem nos ajudar como docentes:

  • Enfrentar o desafio da educação contínua, pois a atualização e a segurança em relação ao conteúdo transmitido são fundaemntais. Muito da pedagogia da transmissão se assenta, acredito, no conhecimento superficial do que é ensinado.
  • Ousadia na experimentação de estratégias didáticas, sme medo do insucesso.
  • A assunção de uma simetria parcial na relação com os alunos, permitindo a escuta verdadeira e a valorização sincera da produção dos mesmos (não acredito que a relação entre professor e aluno possa ser totalmente simétrica).
  • Beijos.
Em resposta à Marco Silva

Re: Qual é a cara desse professor On Line?

por Usuário excluído -

Marco e demais queridos,

Que fórum sensacional!!!

Volto depois de uns problemas de saúde provocados pelas "pedrinhas" que apareceram no meu rim e encontro este debate instigante.

Acabei de asistir o vídeo (excelente) de provocação deste módulo e li todos os comentários do ´fórum...

Sinto-me com muita responsabilidade, mais ainda do que quando só atuava na Educação presencial (e olhem que já era muita!).

A pedagogia da transmissão, presente e vigente até hoje, só fez com que o homem se tornasse passivo, alienado e refém da mídia (olha o vídeo provocando aí...).

Permitiu que ele virasse aquele "ratinho" correndo nas roldanas, como um hamster adestrado, assustado mas também fascinado pelo mundo da informação.

O que nós precisamos fazer, quando formamos professores para  a docência online, é sensibilizá-los para a o risco de que o homem que vão formar dique refém agora dos "mouses" agressivos (outra metáfora do vídeo).

As faculdades de educação repetem à exaustão que devemos "formar cidadãos críticos e participativos", mas não conseguem desempenhar esta tarefa a contento.

Até acho que os licenciandos conheçam uns poucos fundamentos desses teóricos importantes, mas nós precisamos fazer releituras das teorias, adquando-as à nova realidade da educação não presencial e à estonteante sociedade da informação.

Abraço grande para todos.

Em resposta à Usuário excluído

Re: Qual é a cara desse professor On Line?

por Marco Silva -

Eloiza, destaco dois trechos seus que considero essenciais :

1. As faculdades de educação repetem à exaustão que devemos "formar cidadãos críticos e participativos", mas não conseguem desempenhar esta tarefa a contento.

De fato, as faculdades de educação sabem verbalizar sobre as teorias dos grandes autores que situam a “interação” e a “dialógica” como centralidade no processo de docência e de aprendizagem, entretanto poucos docentes sabem sobre como transgredir a inércia ou o peso histórico da chamada “pedagogia da transmissão”. Leciona-se sobre Paulo Freire, sobre Vygotsky, sobre Anísio Teixeira, porém muitas vezes em desarmonia com a pedagogia proposta por esses autores.

Quero dizer que há professores paulofreireanos e socioconstrutivistas que permanecem aferrados à docência unidirecional, isto é, estão também situados no paradigma da mídia de massa rádio, imprensa e tv.

O problema que emerge aí é: falta às pedagogias paulofreireanas e socioconstrutivistas sintonia com o paradigma comunicacional que possa dar suporte à sua originalidade chamada “dialógica” e “interação”. Elas foram gestadas no contexto do paradigma unidirecional próprio da mídia de massa e também dos sistemas de ensino. Elas não conhecem as teorias da comunicação interativa que emergem com a cibercultura.

Este módulo tem a intenção de chamar a atenção dos colegas pesquisadores para esse fato que merece nossa pesquisa muito atenta: Paulo Freire, Vygotsky e Anísio Teixeira (para citar somente três desta vez) construíram suas teorias sobre docência e aprendizagem num contexto de mídia de massa, e não tiveram acesso a uma teoria da comunicação razoavelmente desenvolvida que pudesse corroborar suas pedagogias centradas na interação.

Os professores, por sua vez, mesmo a par das teorias dos grandes educadores citados, também estão imersos na ambiência cultural dos meios de massa unidirecionais e da sociedade industrial. Certamente por isso, nem sempre conseguem traduzir as pedagogias paulofreireanas e socioconstrutivistas em práticas coerentes, centradas na interação. A ambiência socitécnica baseada na lógica da distribuição em massa e a falta de alternativas aos meios de massa não favoreceram a superação das práticas unidirecionais, mesmo no tratamento em sala de aula das pedagogias de Paulo Freire, Vygotsky e Anísio Teixeira.

Hoje temos teorias da comunicação interativa que emergem para responder os fenômenos da cibercultura. Os três mestres defensores de pedagogias baseadas na interação e na dialógica certamente louvariam a expressão cultural da comunicação feita de interlocutores ativos e co-criadores da mensagem, da colaboração.

Quero dizer em destaque que os professores paulofreireanos e os socioconstrutivistas podem ser formados - formação continuada - para atuar na emergência de um paradigma comunicacional que se apresenta em sintonia com a cibercultura e com interação postulada. Podem experimentar alternativas à unidirecionalidade. Podem experimentar a comunicação bidirecional e multidirecional, quando se permite e motiva interlocutores ativos e co-criadores da mensagem. Assim temos a arena comunicacional favorável à expressão autêntica das pedagogias paulofreireanas e socioconstrutivistas. Seja presencial, seja online!

2. Até acho que os licenciandos conheçam uns poucos fundamentos desses teóricos importantes, mas nós precisamos fazer releituras das teorias, adquando-as à nova realidade da educação não presencial e à estonteante sociedade da informação.

Sim, precisamos fazer releituras das teorias paulofreireanas, socioconstrutivistas e outras à luz das teorias comunicionais que emergem com a cibercultura. Descobriremos que em nosso tempo, juntamente com os grandes mestres, temos também princípios da cibercultura inspirando nosso ofício. São, por exemplo: interatividade, inteligência coletiva, simulação e conectividade. Estes princípios permitem ao docente desenvolver a materialidade da ação comunicativa capaz de motivar e acolher a colaboração e a co-criação da aprendizagem e da própria comunicação. Essa ambiência comunicacional faz deslizar as teorias paulofreireanas, socioconstrutivistas e outras que colocam a interação na centralidade do processo educativo. Pergunto então: falta teoria da comunicação condizente para sustentar as pedagogias da interação e a cibercultura vem corroborar?

bjs,

Em resposta à Marco Silva

Re: Qual é a cara desse professor On Line?

por Usuário excluído -

Marco,

Concordo com as suas ponderações.

Quanto ao segundo ponto e a exigência de "releituras das teorias paulofreireanas, socioconstrutivistas e outras à luz das teorias comunicionais que emergem com a cibercultura", o problema recai em dois pontos, no meu entendimento: a falta de inserção de estudos sobre as mesmas nos cursos de formação docente e a dificuldade das academias em praticar a interdisciplinaridade, trabalhando com áreas isoladas e deixando vazias as "zonas de entremeio" existentes entre as áreas de conhecimento, às vezes mesmo as que são muito próximas.

Abraço carinhoso.

Em resposta à Marco Silva

Re: Qual é a cara desse professor On Line?

por Usuário excluído -

Prezado grupo:

 

Esse fórum começou bem “esquentado”, com as provocações iniciais do Lázaro e de tantos outros, seguidos pelos comentários sempre pertinentes do Marco.

Acredito que a grande questão que está posta nesse Fórum foi concretizada pelo Lázaro: Quem são esses alunos e o que fazer com aqueles que não têm acesso a toda essa revolução tecnológica e informacional?

Creio que os excluídos digitais são aqueles mesmos indivíduos excluídos sociais e o número é bastante significativo em nosso país. As soluções para resolver esse grave problema já são nossas velhas conhecidas, porém nunca concretizadas: políticas públicas que não sejam fragmentadas, que cheguem ao destinatário final (o aluno) e políticas de formação continuada para esse pobre professor que recebe um salário vil e tem um preparo inadequado para os desafios postos pela sociedade em rede: novos textos, novas formas de produção, outras formas de pensar e de agir O que fazer? Paulo Freire já vislumbrara a resposta há muitos anos atrás: mobilização da sociedade civil e, dentro das salas de aula, uma contra ideologia docente para subverter a situação...

Sim como todos já se expressaram de uma forma ou de outra, as instituições educacionais precisam buscar respostas através de novos referencias teóricos para uma série de perguntas sobre os mecanismos mentais e as estratégias cognitivas que esses alunos hoje usam na recepção e produção de textos das mais diferentes mídias, com as quais interagem.

 

 

Por outro lado, seguindo agora um pouco na linha de provocação do Marco, eu acredito que, se sairmos das teorias de comunicação funcionalistas e buscarmos apoio em uma teoria dos usos sociais dos meios de comunicação (Barbero, Silverstone, Orozco, etc.), talvez possamos analisar a TV não como um meio de comunicação inteiramente unidirecional. No meu entender, a TV enquanto tecnologia precisa ser analisada do ponto de vista de uma teoria de comunicação sócio histórica e de uma crítica cultural, como foi dito anteriormente Trabalhando com os três códigos de linguagem: texto, imagem e som, não se pode desconhecer suas potencialidades semânticas e sintáticas e refletir sobre as diferentes respostas dadas por desses nativos digitais á ela...

 

É importante refletirmos sobre os estudos de recepção de mídia para entendermos o potencial ideológico que a televisão desempenha e o tipo de mediação que ela pode fazer a depender da capacidade interativa do professor para realizar tal mediação.

”O discurso televisual está longe de ser um todo monolítico impermeável” ( Orofino, 2005,p.91). Não se pode esquecer a ideologia que atravessa  o vidro da tela ( Silverstone) pois  se o processo de emissão das mensagens é determinado por grandes conglomeradoos midiáticos que veiculam seus eternos discursos conservadores, temos , do outro lado  sujeitos que respondem e resistem á esses discursos.. Não são passivos...  

Em resposta à Usuário excluído

Re: Qual é a cara desse professor On Line?

por Usuário excluído -

PessoAll,

Esse fórum está uma beleza...

Lázaro traz indagações interessantíssimas, mas uma em particular me instigou: Quem são esses alunos e o que fazer com aqueles que não têm acesso a toda essa revolução tecnológica e informacional? E Maria Olívia, respondendo a essa indagação diz: Creio que os excluídos digitais são aqueles mesmos indivíduos excluídos sociais e o número é bastante significativo em nosso país.

Concordo com vocês, ainda há um grande número de excluídos digitais sim, mas acredito que tal número é menor do que imaginamos. Trabalho como orientadora pedagógica em um município da baixada fluminense, numa escola localizada num bairro desprovido de lazer, saneamento básico, posto de saúde, com enorme número de pessoas desempregadas ou sub-empregadas... Mas lá há algumas lan houses (como em todas as cidades que conheço aqui no estado do Rio deJaneiro), os alunos da escola, em sua maioria, sempre que possível a freqüentam, pagam R$0,50 a cada meia hora. Temos uma comunidade da nossa escola no Orkut, e eles estão lá. E ainda assim, mesmo que isso não fosse fato, repito o que já falei nos fóruns de módulos passados: a interatividade se dá até mesmo embaixo da amendoeira da escola.

Então, por que ainda baseamos nossas aulas na mera transmissão de conhecimentos???

Masetto (2007) diz:

Para nós, professores, essa mudança de atitude não é fácil. Estamos acostumados e sentimo-nos seguros com nosso papel tradicional de comunicar ou transmitir algo que conhecemos muito bem. Sair dessa posição, entrar em diálogo direto com os alunos, correr o risco de ouvir uma pergunta para qual no momento talvez não tenhamos a resposta – tudo isso gera um grande desconforto e uma grande insegurança.

E, completando, Mary colocou: ainda precisamos aprender a ser co-autores com nossos alunos .

Se o professor está acomodado (no melhor sentido piagetiano da palavra), será difícil retirá-lo dessa zona de conforto. A maioria aqui atua como docente e sabe que nosso envolvimento e nossa ação são muito maiores quando efetivamente interagimos com nosso aluno. Bem, se o aluno precisa ser desafiado, estimulado para sair dessa acomodação, acredito, então, que o professor também precisa ser motivado... Então voltamos à uma questão tratada no módulo 1: e quem forma nossos professores?!

Lázaro ainda traz algumas possibilidades para a permanência da pedagogia da transmissão: Será que não falta um pouco de mediação? Onde está a nossa interação? O que há além dos recursos?

Recorrendo novamente a Masetto, ele dirá que:

Por mediação pedagógica entendemos a atitude, o comportamento do professor que se coloca como um facilitador, incentivador ou motivador da aprendizagem, que se apresenta com a disposição de ser uma ponte entre o aprendiz e sua aprendizagem – não uma ponte estática, mas uma ponte rolante, que ativamente colabora para que o aprendiz chegue aos seus objetivos.

Bem, já conhecemos a mediação como possibilidade de superação da transmissão, mas pergunto: E como se dá essa mediação em ambientes virtuais de aprendizagem?

Fico por aqui gente. Estou adorando esse intenso diálogo com vocês!!!

Beijos a todos

Em resposta à Usuário excluído

Re: Qual é a cara desse professor On Line?

por Marco Silva -

Olívia, muito bem-vinda a sua reflexão!

Vc diz: eu acredito que, se sairmos das teorias de comunicação funcionalistas e buscarmos apoio em uma teoria dos usos sociais dos meios de comunicação (Barbero, Silverstone, Orozco, etc.), talvez possamos analisar a TV não como um meio de comunicação inteiramente unidirecional.

Entretanto, gostaria muito de saber como fazer isso. Parto do princípio de que a tv é meio unidirecional em sí, não permite bidirecionaliade, tampouco multidirecionalidade. Qualquer fuga dessa condição mesma da natureza tecnica da televisão (visão de longe que separa emissor e receptor e coloca nas mãos do emissor o controle do processo) dependerá de agente externo a ela. Por exemplo: um professor que toma um trecho de um vídeos para gerar um debate bem participativo entre seus alunos. Mas a tela da tv é um plano de irradiação. É feita para o telespectador assitir. Diferente da tela do computador para o usuário, interatir.

Pergunto: qual a diferença entre a tela da tv e a tela do computador? A tela do computador tem altura e largura e é um plano de irradiação, de transmissão. A tela do computador tem altura, largura e, se podemos falar assim, uma tri-dimensionalidade que permite adentramento do usuário operativo e interagente.

Veja esta imagem.

tv x pc 2

Você está vendo, à esquerda, uma jovem em uma poltrona. Por mais que seja muito inteligente, está em uma postura corporal passiva diante da tela da tv. Ainda que a mente seja brilhante, o corpo está sedentário, tendo nas mãos o controle remoto que muda de canal, mas que não permite interagir com os conteúdos transmitidos, tampouco com outros telespectadores. Emissor e receptor estão irremediavelmente seperados. Não se encontram. Há interações mesmo assim? Há! Entretanto, interatividade entendida como intervenção na mensagem, bidirecionalidade e conectividade em rede colatorativa não há.

Em resposta à Marco Silva

Re: Qual é a cara desse professor On Line?

por Marco Silva -

Olá colegas!

Na postagem que fiz para Olívia fiquei devendo uma explanação sobre o lado direito da imagem. Falei da joven com o controle remoto nas mãos, mas ficou faltando a referência ao computador e as mãos no mouse. Aqui vai! Espero chamar a atenção da Olivia e dos colegas para a distinção que faço entre as lógicas comunicacionais da TV e do PC.

Reparem, no lado direito da imagem nós temos alguém diante de uma tela de computador, também sedentário, mas suas mãos nervosas operam e interagem com a tela e suas janelas móveis. O limite dessa operatividade a gente pode chamar de LER. Mas no limite da interatividade, que está além da mera operatividade, temos a inteligência coletiva, a cooperação, a participação do usuário que deixou de ser somente um expectador.

A dinâmica da interatividade supõe autoria, participação e compartilhamento. Temos na disposição comunicacional própria do computador algo compatível com aquilo que os grandes mestres da educação vêm sugerindo já faz muito tempo para o lugar da pedagogia da transmissão, que podemos resumir como dialógica e colaboração enquanto fundamentos da aprendizagem e da formação do cidadão.

A televisão, por mais que seja muito bem-vinda em educação como recurso didático, nos ajudou pouco com relação ao paradigma comunicacional capaz de educar para a dialógica e a colaboração. Na verdade, ela cristalizou o modelo da apresentação para a recepção que nós já conhecíamos no teatro [1] , no rádio, no cinema e na televisão. Na cultura comunicacional que emerge com o computador online, o emissor não emite mais uma mensagem fechada. Ele oferece um leque de possibilidades à manipulação do receptor, de modo que este pode se tornar um participante da comunicação.

Na tela do computador a mensagem não é mais um mundo fechado, paralisado, imutável, intocável, sagrado; é um mundo aberto, modificável, na medida em que responde a solicitações daquele que a consulta. Trata-se de algo vivo, que ganha forma ao ser operada.

Para entendermos mais a fundo a novidade da tela do PC em relação a tela da TV, vale a pena distinguir os termos "analógico" e "digital". Para isso lanço mão de um trecho que diz:

"Ao retirar a informação do mundo analógico – o mundo ‘real’, compreensível e palpável para os seres humanos – e transportá-la para o mundo digital, nós a tornamos infinitamente modificável. [...] nós a transportamos para um meio que é infinita e facilmente manipulável. Estamos aptos a, de um só golpe, transformar a informação livremente – o que quer que ela represente no mundo real – de quase todas as maneiras que desejarmos e podemos fazê-lo rápida, simples e perfeitamente. [...] Em particular, considero a significação da mídia digital sendo manipulável no ponto da transmissão porque ela sugere nada menos que um novo e sem precedente paradigma para a edição e distribuição na mídia. O fato de as mídias digitais serem manipuláveis no momento da transmissão significa algo realmente extraordinário: usuários da mídia podem dar forma a sua própria prática. Isso significa que informação manipulável pode ser informação interativa” (FELDMAN, T. Introduction to digital media. New York/London: Routledge, 1997, p 4). [Saiba + clicando aqui]

Assim entendido o digital, podemos dizer que a tela do computador online pode inspirar a prática comunicacional do professor na educação em nosso tempo. Pode inspirar nossa pesquisa interinstitucional em busca da formação de professores para docência online.


[1] Recentemente, temos reparado a presença crescente de peças teatrais que buscam romper com a separação palco-platéia, em que o espectador não fica mais sentado diante do palco, assistindo a uma história, mas sim envolvendo-se com os atores a ponto de se misturar com eles, de se tornar parte da história. O “teatro do oprimido” do Augusto Boal é exemplo disso desde a década de 1960.

Abrs,

Em resposta à Marco Silva

Re: Qual é a cara desse professor On Line?

por Usuário excluído -

Olá Marco, Olá pessoal:

Na verdade, nesse interssante Fórum, meu interesse não foi  polemizar a questão entre as possibilidades de interatividade que  a tela da TV oferece com relação a tela do computador . Você mostrou de forma bem ilustrativa essa questão. De acordo com a citação trazida de Feldman (1997) , a possibilidade do computador, como uma mídia digital poder ser "manipulável no momento da transmissão " lhe confere, sem dúvida, uma condição muito superior á TV,  pois essa  informação manipulável oferecida pelo computador é  informação interativa.

No entanto, o meu objetivo aqui é analisar a TV, sob outro prisma, numa nova perspectiva,  no bojo da convergência das mídias,  que também pode ser parceira na formação de crianças e jovens. Não podemos esquecer que é a televisão a mídia que mais impacto exerce sobre a população, pois é  a que a maioria da população brasileira tem acesso.

E são os estudos de recepção da mídia desenvolvidos por teóricos da comunicação da envergadura de Orosco, Barbero e outros que agregam valor inestimável a essas questões.

Orozco, nos seus estudos de educação para a comunicação, evidencia as transformações que os meios de comunicação estão exercendo sobre  a educação e o sistema educativo, analisando o impacto dos meios de comunicação na educação a partir de estudos de recepção mostrando as formas de mediação possibilitadas pelo TV. E seguramente, nas suas análises mostra que a escola não está sabendo lidar com alunos que são fundamentalmeente diferentes das épocas anteriores. Segundo o referido teórico, existe uma percepção errônea e generalizada na América Latina  quanto aos meios de comunicação, que  servem apenas para distrair, divertir ou informar, devendo ficar fora do processo educativo normal (2007)