1. A autoria do professor

A autoria do Professor

A escola e a universidade ainda seguem muito do modelo hierarquizado da distribuição em massa. O currículo ainda é baseado em conteúdos fechados e em disciplinas estanques. Nesse contexto, o trabalho do professor limita-se muitas vezes a distribuir o saber-produto. O ofício de ensinar fica submetido a um modelo tecnocrático e hierárquico de treinamento. O professor deixa de se ocupar com a formação do indivíduo e passa a equipar os alunos para a concorrência no mercado de trabalho. Ele é levado a formar competências e não mais ideais.

Nesse ambiente, a comunicação interativa não flui. A interatividade é apenas um discurso que parece vir de um mundo distante, do qual se ouviu falar na propaganda sobre os computadores. Também não há lugar para a idéia de educação concebida na perspectiva da interatividade quando o professor se torna um burocrata do saber-produto.

Com ressalvas, claro! Existem mestres que driblam a lógica da distribuição em massa e conseguem educar. Mas fora esses, a tendência é haver dois tipos de professor: os que seguem o critério do desempenho e aqueles que perdem o viço típico do início de carreira, deixando de ousar e de experimentar coisas novas em sua profissão.

Nessas condições, o professor se acostuma com o trabalho pedagógico em especializações estanques. Acostuma-se a cumprir tarefas sobre as quais não é consultado. Torna-se incapaz de fazer frente ao sistema que separa e simplifica de acordo com o paradigma clássico. O professor acaba reproduzindo a idéia de que está ali para transmitir o conteúdo. Pior: vê os alunos numa linha de produção da escola, em que realizam um trabalho rotineiro e repetitivo ao longo de anos. Os alunos estariam ali para assimilar passivamente os conteúdos e repeti-los nas avaliações.

A chegada das novas tecnologias nas salas de aula teve um impacto inicial, com promessa de mudança e muita discussão sobre o papel do professor. Mas em muitos casos não houve uma evolução nas práticas de ensino e aprendizagem. A aula continua sendo uma palestra para a absorção passiva e individual, e o professor continua onisciente, instrutor e treinador. O ambiente escolar não faz do movimento dessa tecnologia uma valiosa atitude de aprendizagem. Ademais, o professor, como vimos, é um excluído digital.

Desde o início desse curso preparamos terreno para este momento: tratar da autoria do professor na modificação da comunicação em sala de aula presencial e online. Nestas duas semanas finais do curso, aprofundaremos a reflexão capaz de gerar soluções viáveis para a autoria do professor no processo de comunicação e aprendizagem.

É chegada a ocasião da discussão de sugestões práticas para modificar a tradicional sala de aula baseada no baixo nível de participação dos alunos, que enfatiza atividades solitárias e que tem por objetivo a aprendizagem mecânica de conhecimento factual. É chegada a ocasião de definirmos atitudes que possam modificar as práticas que se baseiam na distribuição do "conhecimento".

As sugestões propostas para a autoria do professor estão reunidas em duas linhas temáticas.

  1. Atentar para as interações
  2. Promover interatividade

A primeira linha temática traz sugestões para a construção da sala de aula como um espaço em que o professor possa garantir a confrontação coletiva e a aprendizagem colaborativa inspiradas no construtivismo e no interacionismo. De acordo com esses referenciais, a aprendizagem acontece na interação dos aprendizes entre si e na interação com os conteúdos, com os objetos de aprendizagem. Os autores aqui enfocados não se preocupam com uma teoria da interatividade, embora tratem de uma "pedagogia interativa". Entretanto, quando dizem "interativo" e "interatividade" estão na esfera ampla da "interação social", do "interacionismo" e não propriamente no universo da teoria da comunicação interativa.

A segunda linha temática traz sugestões inspiradas na teoria da comunicação interativa. Parte do princípio que o professor cuida da materialização da comunicação que estimula a participação livre e plural, incentiva o diálogo e articula múltiplas informações e conexões. O professor e seus alunos constroem uma teia de interações, formada por conteúdos curriculares e instrumentos pedagógicos ( equipamentos e estratégias de aprendizagem), ao mesmo tempo promovem concretamente a materialidade da ação comunicativa capaz de potencializar as interações e a aprendizagem. Ele oportuniza a confrontação coletiva e propõe a aprendizagem colaborativa. Todavia tem consciência que terá êxito quanto mais promover participação-intervenção, bidirecionalidade-hibridação e permutabilidade-potencialidade.

As linhas temáticas sugerem ações e atitudes para que o professor possa modificar a sua comunicação em sala de aula. Com elas o professor pode entender a sua própria situação, pode encontrar estímulos e inspiração para colocar em prática a aprendizagem colaborativa e a construção do conhecimento.