Piaget pode ser relacionado à corrente cognitivista do enativismo que defende que o sujeito e o objeto emergem em simultâneo construindo o conhecimento.

O processo da cognição é de responsabilidade tanto do sujeito cognoscente como do sujeito cognoscível, a ação precede o aparecimento da própria representação.

Segundo Piaget (1973, p. 114),

(...) o conhecimento elementar nunca é o resultado de uma simples impressão deposta pelos objetos nos órgãos sensoriais, mas é devida a uma assimilação ativa do sujeito que incorpora os objetos nos seus esquemas sensório-motores, quer dizer, aquelas das suas ações que são suscetíveis de se reproduzirem e combinarem entre si. A aprendizagem em função da experiência não é pois devida a pressões passivamente sofridas pelo sujeito, mas sim a acomodação dos seus esquemas de assimilação.

Um determinado equilíbrio entre a assimilação do objeto à atividade do sujeito e a acomodação desta atividade aos objetos constitui assim o ponto de partida de qualquer conhecimento e apresenta-se desde o início, sob a forma de uma relação complexa entre e os objetos.

A ação, na concepção de Piaget, só pode ser entendida como parte do funcionamento de toda organização viva, ou seja, no processo de adaptação com seus pólos complementares: assimilação e acomodação. Foi o problema das relações entre genótipo e fenótipo na adaptação das espécies animais ao seu meio (diz o próprio Piaget) que o levou a refletir sobre questões epistemológicas. Assim, a ação é considerada como forma de adaptação de um organismo ao meio por intermédio dos esquemas motores, condição de estruturação do mundo pela criança. Essa adaptação comporta uma fase de acomodação, que modifica a estrutura do organismo, e uma fase de assimilação, em que os objetos são integrados a essa estrutura. O virtual e o possível são uma contínua criação possibilitada pela ação atual e real; cada ação nova, realizando uma das possibilidades criadas pelas ações precedentes, abre um conjunto de possibilidades até então inconcebíveis

Na constante troca do organismo com o meio, a cada transformação ocorrida no nível exógeno corresponderia uma transformação interna. Assim, à medida que, do ponto de vista externo, observável, se dá a formação de esquemas, internamente se construiriam as estruturas mentais. A criança assimila o mundo através de seus esquemas numa espécie de classificação dos objetos, e age sobre eles, impondo-lhes uma ordenação no espaço e no tempo. Daí surgem, segundo Piaget, as noções de espaço, tempo, causalidade, velocidade, etc., ou seja, daí deriva a construção do real pela criança, por intermédio dos esquemas. Há, portanto, duas espécies de experiências, sempre unidas no comportamento da criança, mas facilmente dissociáveis pelo epistemólogo: a experiência física e a experiência lógico-matemática.