Méa, respondo à chamada feita na sua conversa com Auxiliadora e Lina
Vc diz:
“Concordo plenamente com a Auxiliadora e com a Lina quando tocam na necessidade de analisarmos a ação docente em sua complexidade. Analisar apenas um momento pode comprometer todo o processo.”
Eu também concordo. Não podemos analisar ações isoladas na atuação docente. Imaginemos a analise de um momento de preleção de um docente. A cena poderá ficar para os analistas como sendo típica de um professor centrado no falar-ditar do mestre, centrado na oratória. Assim:
Defendo que a preleção deva existir na docência, mas como momentos pontuais e não como centralidade da ação docente. Ainda assim, deve ser situada pelo prof. como provocação à a participação do aprendiz e não conferência para audição e repetição do que foi dito ou achando que o conhecimento se dá pela audição. Afinal, aprendi e confirmo neste módulo que, pelo menos segundo Piaget e Vygotsky a aprendizagem não se dá pela audição, mas pela interação com o objeto e com outrem.
Por isso concordo com Lina que diz : "No ofício docente penso também que não podemos analisar um dos momentos da ação do professor, mas sim conhecer todos os passos do professor, embora mesmo assim parece não ser suficiente para dizer se o professor tem uma ação interativa ou não...Até porque muitas práticas aparentemente interativas, escondem formas de agir behavioristas...".
De fato, para analisarmos uma prática docente interativa precisamos acompanhar todo o processo e não somente momentos estanques. Ademais, há muita picaretagem sendo chamada de interativa. Remeto à imagem que abre este fórum aqui no módulo 3. A profa que, diante dos computadores em sala de aula, convida a aluna a abrir um site X e lá clicar respostas.
Vamos à provocação da Méa. Tento responder a cada pergunta:
Méa pergunta: Colegas, de que interatividade estamos falando?
Gente, há muita escola que se divulga como interativa somente porque tem laboratório de informática. Como já sabem, interatividade é um conceito curiosamente muito mercadológico (basta dizer que algo é interativo para que já crio imediatamente adesão fácil do consumidor), embora seja, ao mesmo tempo, um dos fundamentos mais interessantes da cibercultura (novo paradigma comunicacional capaz de tomar o centro da cena até então ocupado pela transmissão própria dos meios de massa.) É com este entendimento do conceito de interatividade que eu trabalho e pesquiso. É de fato revolucionário no cenário comunicacional das mídias e, igualmente, no cenário da docência e da aprendizagem, independentemente da informática. Afinal, interatividade não é um conceito de informática, mas de teórica da comunicação.
Méa pergunta: A interatividade não seria uma estratégia comunicacional?
Conforme falaremos no módulo 4, interatividade é a ação da emissão e da recepção que se articulam para a produção da mensagem. Ou seja, a mensagem não é necessariamente uma produção exclusiva da emissão conforme se entende historicamente. A rigor, no sentido profundo do conceito de comunicação, os dois pólos emissão e recepção devem ser co-autores da mensagem e da própria comunicação. Em sala de aula o hábito de tomar a mensagem normalmente como conhecimento transmitido pelo professor tem sido um grande equivoco. É aqui que se encontra o grande problema que mais me inquieta em educação: a “pedagogia da transmissão” que avalio extremamente nociva frente à função social da educação que é formar cidadãos participativos, criativos e colaborativos.
Méa pergunta: Uma estratégia comunicacional pode ser sustentada por uma teoria de aprendizagem a luz da Psicologia da Educação?
Sim. Valorizo imensamente o sócio-interacionismo de Vygotsky. Esta base teórica tem muita contribuição para a teoria da interatividade. O inverso tb procede. A teoria da interatividade tb tem muito a contribuir para a teoria sócio-interacionista. Que contribuições são estas? Aqui agora é difícil deslanchar essa abordagem. Tentarei tratar do assunto no próximo módulo.
Méa pergunta: É possível ser interativo e ser "behaviorista" ou "sócio-interacionista"?
Não. Interatividade, tal como entendo, isto é, como fundamento paradigmático da cibercultura, do digital, da web 2.0, da arte “participacinista” de Oiticica e de muitos outros artistas é o oposto de behaviorismo. Na interatividade não há condicionamento e alienação, mas, autoria, autonomia e expressão crítica da emissão e da recepção em práticas de compartilhamento e de co-criação.
Agradeço estas questões da Méa pq elas nos instigam ainda mais para o tratamento do tema do módulo 4 inteiramente dedicado à interatividade na educação presencial e online.
Abrs,