Geração digital quer acesso e inclusão


GILSON SCHWARTZ

colunista da Folha de S.Paulo

A palavra "geração" é uma coleção de sentidos. O mais óbvio é de unidade de tempo demográfico. Algumas gerações ganham apelidos, como a "geração Coca-Cola", que virou refrão de música. No exagero da falta de rumo, resume-se a uma letra: "geração X". É comum também falar de geração quando se trata de tecnologias. A tecnologia boa ou o produto desejado são os "de última geração".

A idéia de "geração" ganha ainda peso econômico, quando se propõem políticas de geração de emprego e renda. De substantivo, a palavra passa, aqui, a verbo, de produto a processo. Não é o consumo ou a demografia, mas a capacidade de produção de riqueza que vem para o primeiro plano.

E se a riqueza a criar estiver no campo simbólico? A geração como criação cultural vai além da idade (demografia) ou da época (período na história) para caracterizar uma ideologia ou utopia, talvez uma síntese de todos os sentidos possíveis. É o caso da "geração digital".

Mesmo na crise pós-euforia com a internet, vive-se o florescimento de formas de vida digital. São cada vez mais frequentes, sem distinção de idade ou setor, os valores da responsabilidade empresarial social nos segmentos de tecnologia da informação e comunicação. A geração digital vai da inclusão social à emergência de novas possibilidades de atuação profissional, passando pelo resgate dos portadores de deficiências e chegando à revalorização da apropriação social das mídias digitais.

Fala-se, cada vez mais, em "desenho universal" ou em "design participativo": são formas de conceber produtos, meios de comunicação e ambientes para serem utilizados por todas as pessoas, o maior tempo possível, sem a necessidade de adaptação, colocando em primeiro plano a democratização dos meios.

As novas tecnologias, ao mesmo tempo, afetam as carreiras e profissões existentes e proporcionam o surgimento de novas oportunidades. O desemprego cresce, mas faltam profissionais (ou seja, ainda sobram postos de trabalho) capacitados e motivados para a geração digital de riqueza e investimento.

A geração de símbolos e estilos de vida também corre solta, do ciberativismo (ativismo digital) à cultura hacker, do fenômeno P2P aos novos valores na moda e no urbanismo.

Multiplicam-se as questões de segurança, privacidade e identidade on-line. A guerra entre softwares livres e comerciais é aberta. O universo jovem na cultura digital mobiliza empresas, organizações não-governamentais, escolas e famílias. Surgem novas formas de convivência (chat, listas, blogs, "lan houses") que fascinam e desafiam as instituições.

A geração digital quer acesso e inclusão. As escolas, empresas e governos fabricam privilégios e reclusão.

Gilson Schwartz, 43, economista e sociólogo, é diretor acadêmico da Cidade do Conhecimento (www.cidade.usp.br) e coordenador do evento "Geração Digital: Acesso e Inclusão", no Comdex Sucesu-SP 2003 (www.comdex.com.br).
E-mail: schwartz@usp.br