Texto Base - Unidade 3
Unidade 3 - A Docência Interativa Online
Vale a pena enfatizar: a escola não se encontra em sintonia com a modalidade comunicacional emergente. Há cinco mil anos, ela se baseia no falar-ditar do mestre. Tradicionalmente fundada na transmissão de "A" para "B" ou de "A" sobre "B", permanece alheia ao movimento das novas tecnologias comunicacionais e ao perfil do novo espectador. Ela exige novas estratégias de organização e funcionamento como na mídia clássica e redimensionamento do papel de todos os agentes envolvidos com os processos de informação e comunicação. Do mesmo modo, exige a modificação da base comunicacional que faz a sala de aula tão unidirecional quanto a mídia de massa.
A educação a distância ( on-line ) também não se encontra em sintonia com a interatividade. A esse respeito, o pesquisador de EAD do MIT, P. Blikstein diz:
"Em EAD, reproduz-se o mesmo paradigma do ensino tradicional, em que se tem o professor responsável pela produção e pela transmissão do conhecimento. Mesmo os grupos de discussão, os e-mails, são, ainda, formas de interação muito pobres. Os cursos pela internet acabam considerando que as pessoas são recipientes de informação. A educação continua a ser, mesmo com esses aparatos tecnológicos, o que ela sempre foi: uma obrigação chata, burocrática. Se você não muda o paradigma, as tecnologias acabam servindo para reafirmar o que já se faz." ("Novas tecnologias podem escravizar o homem", Jornal do Brasil, Educação & Trabalho, p. 1-2, 18/02/2001).
Para enfrentar o desafio de mudar essa tradição, o professor encontra no tratamento complexo da interatividade os fundamentos da comunicação que potenciam um novo ambiente de ensino e aprendizagem. Tais fundamentos mostram que comunicar em sala de aula significa engendrar / disponibilizar a participação / exploração livre e plural dos alunos, de modo que a apropriação das informações, a utilização das tecnologias comunicacionais (novas e velhas) e a construção do conhecimento se efetuem como co-criação e não simplesmente como transmissão.
Seja no espaço físico entre paredes, seja no ciberespaço, a sala de aula interativa socializa liberdade, diversidade, diálogo, cooperação e co-criação quando tem sua materialidade da ação baseada nestes mesmos princípios. No ciberespaço, o ambiente virtual de aprendizagem e socialização (fórum, chat e outras ferramentas disponibilizadas no site de um curso que possibilitam interatividade on-line ) pode pautar-se em tais princípios. Assim, promove integração, sentimento de pertença, trocas, crítica e autocrítica, discussões temáticas e elaborações colaborativas, como exploração, experimentação e descoberta.
O professor que busca interatividade com seus alunos propõe o conhecimento, não o transmite. Em sala de aula é mais que instrutor, treinador, parceiro, conselheiro, guia, facilitador, colaborador. É formulador de problemas, provocador de situações, arquiteto de percursos, mobilizador das inteligências múltiplas e coletivas na experiência do conhecimento. Disponibiliza estados potenciais do conhecimento de modo que o aluno experimente a criação do conhecimento quando participe, interfira, modifique. Por sua vez, o aluno deixa o lugar da recepção passiva de onde ouve, olha, copia e presta contas para se envolver com a proposição do professor.
Alguns cuidados podem potencializar a sua autoria criativa, seja no presencial, seja a distância. Estes cuidados são, em si, a materialidade da comunicação, isto é, são cuidados que formam no estudante em sala de aula, na construção da aprendizagem, a expressão da cidadania participativa e colaborativa na escola e na sociedade.
- Os estudantes são convidados a resolver os problemas apresentados de forma autônoma e cooperativa?
- Por meio do diálogo entre professor e estudantes as dúvidas são esclarecidas?
- O professor e os estudantes apresentam e defendem seus pontos de vista?
- Os estudantes são convocados a apresentar, defender e, se necessário, reformular seus pontos de vista constantemente?
- Há um clima de cooperação e confiança entre estudantes e professor valorizando a troca de experiências?
- Há incentivo permanente ao trabalho em grupo?
- Os critérios de composição dos grupos são negociadas?
- Desenho didático: há um cuidado com a preparação do "cenário" de aprendizagem no AVA desde o planejamento das atividades, disposição dos conteúdos de aprendizagem e propostas de atuação colaborativa?
- O professor lança mão de recursos imagéticos e sonoros no AVA para estimular a atenção e o interesse dos estudantes?
- O professor orienta a aprendizagem alternando as falas, instigando o debate e a depuração de idéias e conceitos com os estudantes?
- Expressões e gestos positivos do professor costumam encorajar os esforços dos estudantes?
- A autoridade do professor é exercida a partir da experiência e não do poder do cargo?
- O percurso de aprendizagem pode sofrer variações, de acordo com a proposta dos estudantes?
- As aprendizagens podem ser concretizadas com uso de diferentes materiais em diferentes seqüências, garantindo um nível mínimo comum?
- O professor cuida do mapeamento dos percursos de aprendizagem dos alunos para que não se percam em suas explorações?
- Os conteúdos são tratados de forma a se tornarem interessantes e envolventes?
- As diferenças (estéticas, culturais e sociais) são levadas em conta pelo professor?
- O professor lança mão de interfaces de interatividade (chat, fórum, wiki, portfólio, e-mail...)?
- Todos estão autorizados a participar de debates, a questionar afirmações, a expor argumentos, a emitir opiniões segundo critérios estabelecidos em consenso?
- O ambiente virtual tem boa usabilidade, isto é, é intuitivo, funcional e de fácil navegação?
Sintonizado com a cibercultura e com a interatividade, o professor percebe que o conhecimento não está mais centrado no seu falar-ditar. Percebe que os atores da comunicação têm a interatividade e não a separação da emissão e recepção própria da mídia de massa e da cultura da escrita, quando autor e leitor não estão em interação direta. Ele propõe o conhecimento atento a certos cuidados essenciais junto da interlocução, e assim, redimensiona a sua autoria. Substitui a prevalência do falar-ditar, da distribuição, pela perspectiva da proposição complexa do conhecimento, da participação ativa dos aprendizes que já aprenderam com o videogame e hoje aprendem com o mouse. Enfim, não foge à responsabilidade de disseminar um outro modo de pensamento, de inventar uma nova sala de aula, presencial e aonline, capaz de educar, de promover cidadania na cibercultura.
Atenção! Se quiser ler mais sobre sugestões de como promover interatividade na docência online, vá ao Livro 3 em nossa MidiatecaAtividades
Atenção! Há duas atividades propostas. Escolha uma e participe.
Atividade 1. Vivenciar um ambiente on-line
O professor universitário Roberto Silva leciona uma disciplina 100% online na forma da Portaria 4059/2004 que libera a oferta de 20% das disciplinas do curso na modalidade a distância. Ele tem sido muito bem avaliado pelos alunos por sua performance como docente. Exatamente por isso, ele recebeu a incumbência do seu diretor de compartilhar suas estratégias bem sucedidas com seus colegas docentes que manifestavam insegurança na docência online .
Roberto promoveu encontros presenciais de formação dos colegas professores no laboratório de informática da sua universidade. Ele os convidou a oparar com o ambiente online de aprendizam Moodle adotado na sua univsersidade. Todos e todas deveriam explorar as potencialidades desse ambiente para a docência e para a aprendizagem.
Faça você também sua exploração em nosso ambiente Moodle e procure justificar a proposta do professor Roberto que se revelou bem sucedida como no engajamento dos professores na docência online . Que aprendizado os professores terão conquistado? Que benefícios a experimentação de tal ambiente pode ter proporcionado aos professores inseguros em relação à docência no ciberespaço? Elabore um pequeno texto com suas conclusões e compartilhe-o no Fórum Roberto Silva .
Atividade 2. Indicadores de interatividade
A professora universitária Joana Silveira leciona uma mesma disciplina nas modalidades presencial e on-line . Ele costuma revelar entre seus colegas que sente-se duplamente inseguro na docência via internet porque:
- Não tem habilidade com o ambiente virtual de aprendizagem, mesmo tendo feito o curso de atualização sobre o ambiente virtual adotado;
- Não poder "administrar" a aprendizagem e sua avaliação a partir do "olho no olho" podendo lançar mão do "vigiar e punir" quando for necessário".
Essa professora foi convidada a ingressar no programa de formação continuada da sua universidade. Em um dos cursos ela se deparou com indicadores de interatividade que lhe despertaram grande interesse. Ela pediu ajuda aos seus colegas de formação continuada para traduzir os indicadores em aplicações práticas para a disciplina Comunicação e Expressão que leciona na graduação em Pedagogia. Os colegas, em sua maioria, reclamam do próprio curso de formação continuada, dizendo que ela mesma não pratica os indicadores de interatividade que professa.
Convido cada cursista a ajudar a professora Joana. Seja a partir dos indicadores citados, seja com base em outras abordagens, que sugestões práticas podemos oferecer a ela? Que sugestões você oferece a ela? Poste sua opinião no Fórum Joana Silveira .
A seguir alguns "indicadores de interatividade" em educação presencial e on-line extraídos do livro Sala de aula interativa (Ed. Quartet, 2002). São cinco linhas de engajamentos do professor capazes de promover a superação da "pedagogia da transmissão". Estas cinco linhas de ação podem potencializar a autoria do professor, presencial e online, com agenciamentos de comunicação capazes de atender o perfil do novo espectador que emerge com a cibercultura, com a sociedade da informação. Podem inspirar o professor a promover uma modificação qualitativa da pragmática comunicacional fundada na transmissão, na prática docente baseada no falar-ditar do mestre.
1. Disponibilizar múltiplas experimentações, múltiplas expressões
- Promove oportunidades de trabalho em grupos colaborativos.
- Desenvolve o cenário das atividades de aprendizagem de modo a possibilitar a participação livre, o diálogo, a troca e a articulação de experiências.
- Utiliza recursos cênicos para despertar e manter o interesse e a motivação do grupo envolvido.
- Favorece a participação coletiva em debates presenciais e online.
- Garante a exposição de argumentos e o questionamento das afirmações.
2. Disponibilizar uma montagem de conexões em rede que permite múltiplas ocorrências
- Faz uso de diferentes suportes e linguagens midiáticos ( texto, som, vídeo, computador, Internet ) em mixagens e em multimídia, presenciais e online.
- Garante um território de expressão e aprendizagem labiríntico com sinalizações que ajudam o aprendiz a não perder-se, mas que ao mesmo tempo não o impeça de perder-se.
- Desenvolve, com a colaboração de profissionais específicos, um ambiente intuitivo, funcional, de fácil navegação e que poderá ser aperfeiçoado na medida da atuação dos aprendiz.
- Propõe a aprendizagem e o conhecimento como espaços abertos a navegação, colaboração e criação, possibilitando ao aprendiz conduzir suas explorações.
3. Provocar situações de inquietação criadora
- Promove ocasiões que despertem a coragem do enfrentamento em público diante de situações que provoquem reações individuais e grupais.
- Encoraja esforços no sentido da troca entre todos os envolvidos, juntamente com a definição conjunta de atitudes de respeito à diversidade e à solidariedade.
- Incentiva a participação dos estudantes na resolução de problemas apresentados, de forma autônoma e cooperativa.
- Elabora problemas que convoquem os estudantes a apresentar, defender e, se necessário, reformular seus pontos de vista constantemente.
- Formula problemas voltados para o desenvolvimento de competências que possibilitem ao aprendiz ressignificar idéias, conceitos e procedimentos.
4. Arquitetar percursos hipertextuais
- Articula o percurso da aprendizagem em caminhos diferentes, multidisciplinares e transdisciplinares, em teias, em vários atalhos, reconectáveis a qualquer instante por mecanismos de associação.
- Explora as vantagens do hipertexto: disponibiliza os dados de conhecimento exuberantemente conectados e em múltiplas camadas ligadas a pontos que facilitam o acesso e o cruzamento de informações e de participações.
- Implementa no roteiro do curso diferentes desenhos e múltiplas combinações de linguagens e recursos educacionais retirados do universo cultural do estudante e atento s aos seus eixos de interesse.
5. Mobilizar a experiência do conhecimento
- "Modela os domínios do conhecimento como espaços conceituais, onde os alunos podem construir seus próprios mapas e conduzir suas explorações, considerando os conteúdos como ponto de partida e não como ponto de chegada no processo de construção do conhecimento". (Passarelli apud Thornburg).
- Desenvolve atividades que propiciem não só a livre expressão, o confronto de idéias e a colaboração entre os estudantes, mas, que permitam também, o aguçamento da observação e da interpretação das atitudes dos atores envolvidos.
- Implementa situações de aprendizagem que considerem as experiências, conhecimentos e expectativas que os estudantes já trazem consigo.