Chat

1. Características educativas do Chat na educação online.

Com Bernardes e Vieira (2005) sinaliza-se a importância de se proceder a uma reflexão sobre a apropriação do chat, enquanto novo gênero discursivo, pela educação.

A interface chat permite a realizar uma discussão textual via web em modalidade síncrona, ou seja, enviando mensagens e recebendo comentários de forma imediata. Contém instrumento para a revisão das discussões. Quando aplicado, pode entusiasmar os participantes, para um diálogo crítico e reflexivo, e promover a afetividade entre os membros de uma turma, mas nossas recomendações sobre a utilização do chat remetem a lembrança de que ao exigir sincronicidade e um tempo de resposta curto dos participantes. O uso deste recurso deve ser de forma ordenada dentro do contexto do debate, utilizando-se regras. Com leveza e bom-humor, motive os inibidos à participação.

Por assumir uma característica semelhante à oralidade, o chat permite liberdade de expressão, promove a troca de idéias e informações, possibilitando resposta imediata ao que foi exposto, bem como reformulações. Para Leal (2007), a natureza colaborativa e cooperativa do chat e o retorno imediato, síncrono às demandas do aluno situam-se como importantes indicadores que mobilizam a participação discente. Para a pesquisadora, rapidez de raciocínio, leitura dinâmica, sociabilidade, colaboração e cooperação são algumas das habilidades em desenvolvimento em um chat.

O uso do chat na educação é tanto mais otimizado quanto mais claro for o objetivo pedagógico do professor. Na organização do chat é importante estabelecer previamente os temas de discussão, acordar uma ordem para intervenção, evitando a criação de conversas sem sentido. O limite ao número de participantes é fundamental para sua realização sem atropelos.

2. Possibilidades de utilização do Chat na educação online

Bate-papo entre os alunos disponível o tempo todo durante o curso. Esta sala não precisa ter nenhum tipo de monitoria, já que os assuntos tratados nela não serão relacionados ao tema do curso. Os cursistas não poderão visualizar todas as sessões enceradas, somente o docente.

Pós-realização - o texto produzido com características de desorganização, pode ser trabalhado por professores e alunos posteriormente, gerando novas questões.

Avaliação - o professor poderá observar a capacidade de leitura, interpretação da mensagem para fundamentar e expor uma resposta, a agilidade de reflexão dos participantes (MARTINS, OLIVEIRA e CASSOL, 2005).

3. Relatos de experiências (ou links que levem a elas) usando Chat na educação online

A) Relato de Marco Silva

Gostaria de relatar aqui minha primeira experiência com o Chat, quando docente de um curso online na Universidade Virtual Brasileira em 2000.

Inicialmente devo dizer que o Chat é ambiente de bate-papo síncrono, em tempo real, com envio e recepção simultâneos de mensagens textuais e icônicas. Em nosso curso professor e cursista puderam propor o tema para debate e convidar colaboradores externos, agendando dia e hora. Era proposto no Mural do curso e/ou via e-mail. Seus temas normalmente estiveram vinculados às unidades ou atividades do curso, porém muitas vezes tomavam rumos próprios numa polifonia favorável ao estreitamento dos lanços de interesses e desbloqueio da participação.

Disponibilizei sugestões básicas de como atuar no Chat. Procurei partir delas convidar os cursistas a fazerem o mesmo. Exemplos:

- Não escreva em letras maiúsculas, dessa forma você estará gritando com o seu colega. O desejado é que você combine letras maiúsculas após pontos, e o restante das palavras em letras minúsculas;

- Respeite a vez de fala de seu colega, respeite sempre os comentários alheios mesmo sendo contrários aos seus. Lembre-se de que você está em um grupo;

- Evite enviar várias mensagens ao mesmo tempo. Procure ordená-las dentro do contexto do debate;

- Nos chats procure ser o mais objetivo possível em suas colocações;

- Procure entrar na dinâmica do debate sempre observando o direcionamento feito pelo responsável da sala.

Observei que o Chat potencializa a socialização online quando promove sentimento de pertencimento, vínculos afetivos e interatividade. Mediado ou não, permite discussões temáticas e elaborações colaborativas que estreitam laços e impulsionam a aprendizagem. O texto das participações é quase sempre telegráfico, ligeiro, não-linear e próximo da linguagem oral, efervescente e polifônico num jogo semiótico complexo. Pode ser tomado como documento produzido pelo grupo e enviado para o cursista que não pude estar presente. O envio do registro de cada chat era comunicado no Mural, inclusive com alerta para sua estética fragmentada e incentivo para mais participação.

Não necessariamente como mediador do Chat, cuidei da co-presença potencializada em mais comunicacional. No lugar da obrigação burocrática em torno das atividades de aprendizagem, valorizei o interesse na troca e na co-criação da aprendizagem e da comunicação. Não apenas o estar-junto online na base da emissão de performáticos fragmentos telegráficos, mas o cuidado com a expressão profunda de cada participante. Não apenas o esforço mútuo de participação para ocupar a cena do Chat, mas a motivação pessoal e coletiva pela confrontação livre e plural. Não apenas a Torre de Babel feita de cacos semióticos caóticos, mas a teia hipertextual das participações e da inteligência coletiva. Mesmo que cada participante seja para o outro apenas uma presença virtual no fluxo das participações textuais, há sempre a possibilidade da aprendizagem dialogada, efetivamente construída.

Para além do apego à autoridade do mestre, cuidei da motivação à qualidade da co-presença e da aprendizagem colaborativa. Com leveza e bom-humor motivei os inibidos à participação. Procurei incentivar a participação de quem se distanciava desmotivado, seja por falta de experiência com o ambiente online, seja pelo mal-estar diante do ritmo ágil, às vezes desordenado, às vezes desviante da finalidade do encontro, seja pelo receio de expor suas idéias ao crivo do grupo.

Aliás, neste contexto, pude exercitar "a morte do sujeito narcisicamente investido do poder" (M.ª da Conceição de ALMEIDA, “Complexidade, do casulo à borboleta”. In: Ensaios de complexidade. G. CASTRO (org.). Porto Alegre: Sulina, 1997:42). Expor minha fala à intervenção, à modificação, à crítica dos cursistas, exigiu humildade. Digo, porém, humildade e não fraqueza ou minimização da autoria, da vontade, da ousadia, da provocação criadora. Afinal, “quem apenas fala e jamais ouve; quem ‘imobiliza’ o conhecimento e o transfere a estudantes, ...quem ouve o eco apenas de suas próprias palavras, numa espécie de narcisismo oral ..., não tem realmente nada que ver com libertação nem democracia”. (P. FREIRE. A importância do ato de ler... São Paulo: Autores Associados/Cortez, 1982, p. 31).

Na ausência do olho no olho, cuidei da construção do calor humano na confrontação coletiva. Para engendrar calor humano e mais comunicacional, experimentei, por exemplo, o Chat “queijos e vinhos” com sucesso!

Na verdade, não importava o queijo e o vinho, mas o clima alegre do encontro de amigos. No lugar do Chat sisudo, necessariamente vinculado ao tratamento do conteúdo de aprendizagem, busquei criar motivação no estar-junto festivo como forma de estreitamento de laços nos pares, nos subgrupos e no coletivo. Essa estratégia potencializou a aprendizagem colaborativa, mobilizou a continuidade do grupo para além do tempo agendado e criou agregações que se mantiveram para além do final do curso.

Mesmo não me colocando como coordenador do bate-papo ou do debate, exatamente para cavar a co-responsabilidade de todos nessa função, pude confirmar a necessidade da atitude atenta do professor assegurando participação, mas “com o cuidado de não parecer uma obrigatoriedade, o que poderia provocar maior retração por parte do aluno” (Mario S. BRITO, "Tecnologias para a EAD via Internet". In: Educação e tecnologias: trilhando caminhos. Salvador: UNEB, 2003, 68). Pude então verificar que o curso tomou o rumo da interatividade principalmente a partir do movimento criado no Chat. Juntamente com a potencialidade própria da interface está a autoria do professor.

Por último, devo dizer que não podemos tornar o Chat obrigatório porque ele fere os fundamentos da flexibilidade e da atemporalidade que justificam a opção por educação online. Entretanto, devemos oferecer opções de horários e de dias da semana para contemplar o maior número possível de participantes. Posso dizer também que nunca devemos excluí-lo dos cursos online. Ele é a experiência mais próxima da sala de aula presencial tão impregnada em nossa cultura escolar. Nele estamos todos ao mesmo tempo juntos aqui e agora.

B) Relato de ...

4. Artigos científicos sobre Chat em práticas de docência online (link que leve ao texto original).

MARTINS, J.G.,OLIVEIRA, J.C.,CASSOL, M.P. CHAT - um recurso educativo para auxiliar na avaliação da aprendizagem baseada na WEB. Disponível em: http://www.abed.org.br/congresso2005/por/pdf/176tcc3.pdf Acesso em: 15 set 08.

5. Demais referências bibliográficas

ARAÚJO, J. C. & BIASI-RODRIGUES, B. Questões de estilo no gênero chat aberto e implicações para o ensino de língua materna. In: In: ARAÚJO, J. C. (org.). Internet e ensino: novos gêneros, outros desafios. Rio de Janeiro: Lucerna, 2007. p. 78-92.

BERNARDES, A. S. & VIEIRA, P. M. O chat como produção de linguagem. In: FREITAS, M. T. & COSTA, S. R. (orgs.). Leitura e escrita de adolescentes na internet e na escola. Belo Horizonte: Autêntica, 2005. p. 45-64.

CHAVES, G. M. Interação online: análise de interações em salas de chat. In: OLIVEIRA e PAIVA, V. L. M. de (org.). Interação e aprendizagem em ambiente virtual . Belo Horizonte : Faculdade de Letras, UFMG, 2001. (Estudos lingüísticos) p. 37-73 .

FONSECA, L. Alocação de turnos em salas de chat e em salas de aula. In: OLIVEIRA e PAIVA, V. L. M. de (org.). Interação e aprendizagem em ambiente virtual . Belo Horizonte : Faculdade de Letras, UFMG, 2001. (Estudos lingüísticos) p. 74-85.

FONTES, M. C. O uso de emoticons em chats: afetividade em ensino a distância. In: ARAÚJO, J. C. (org.). Internet e ensino: novos gêneros, outros desafios. Rio de Janeiro: Lucerna, 2007. p. 64-77.

LEAL, V. P. L. O chat quando não é chato: o papel da mediação. In: ARAÚJO, J. C. (org.). Internet e ensino: novos gêneros, outros desafios. Rio de Janeiro: Lucerna, 2007. p. 48-63.

MEHLECK Querte Teresinha Conzi e TAROUCO Liane Margarida Rockenbach