Atividade 2 - Fórum: Conversa sobre TIC na educação e o sonho da BMW

A metáfora do BMW

A metáfora do BMW

por Usuário excluído -
Número de respostas: 36
A história do BMW, no meu olhar, denuncia a violência que é feita com um sujeito pobre, que é obrigado a "engolir" uma tecnologia que pouco contribui para lhe dar um pouco mais de dignidade à sua vida. Lembro, então das políticas educacionais (aqui associadas ao "esquema" que sorteou o carro) que fazem dos professores mero joquetes, obrigando-os a "engolirem" tecnologias que ainda estão muito distantes das suas possibilidades de uso. Para usar a BMW era preciso emplacar, pagar o seguro, colocar o combustível, ter uma garagem adequada para protegê-la. Para o professor usar as tecnologias na sala de aula é preciso ter salário digno que dê para ter recursos similares em casa e deles fazer uso constante, de modo a garantir a necessária intimidade com a tecnologia. É importante que os recursos estejam realmente disponíveis para o uso na escola ( e o professor não tenha que entrar em "fila de espera" ou fazer agendamente com um mês de antecedência). É preciso que haja manutenção, que os recursos sejam de qualidade e não fruto de compras que atendem a interesses escusos. É fundamental que os professores encontrem apoio de especialistas em tecnologias que possam orientar e ajudar no planejamento de suas atividades didáticas. É preciso que a gestão da escola acredite no potencial das tecnologias e contemple esta questão em suas propostas pedagógicas (quando a escola tem proposta!). É preciso muito mais, para que o professor não seja violentado. Hoje muito se fala das resistências docentes ao uso das TIC. Não seriam essas resistências uma forma de dizer à escola, aos gestores da educação em todos os níveis: eu não quero BMW (computador, laboratório, laptop, etc). Eu preciso, antes de mais nada ser respeitado como ser humano, o que envolve, desde logo, a questão salarial e a formação profissional (inicial e continuada) de qualidade. Eis aí dois eixos de luta dos quais não podemos nos afastar.
Lúcia Vilarinho 
Em resposta à Usuário excluído

Re: A metáfora do BMW

por Usuário excluído -

Oi Lucia, bem-vinda ao nosso debate! Suas considerações são mt importantes!

Também me incomodo com essa questão da suposta resistência do professor. Primeiro, porque professores somos nós e me considero mais vítima do que culpada dessa situação! Afinal, ainda que hoje eu tenha uma condição privilegiada comparada com a dos professores das escolas públicas desse Brasil afora (conheço bem essa realidade, pois já trabalhei em escola de favela da periferia de Bauru e em escola estadual em Alagoas!), considero também que a mais valia me atinge, especialmente quando se trata de minha atuação na educação online. Veja os horários em que tenho condições de participar desse debate!!!

Em segundo lugar, não se cria uma cultura tecnológica quando se tem acesso eventual às tecnologias. Para superar esse problema, Portugal adotou um plano interessante, onde uma das ações é denominada e-professor e permite que esses profissionais adquiram computadores e tenham acesso à internet a preços menores (mais detalhes veja o artigo que disponibilizamos na atividade 2 deste Módulo). Mas lá o salário do professor não é tão baixo quanto no Brasil!

Em terceiro lugar, há o problema de gerações e nós, professores de hoje, seremos sempre imigrantes digitais, usando essa tecnologia com sotaque estrangeiro.

Portanto, temos muito a conquistar ainda. Só que não dá p/ ser uma coisa depois da outra e é preciso atuar simultaneamente em várias frentes p/ recuperar os atrasos e as desigualdades sociais e, ao mesmo tempo, cuidar p/ não perder uma geração de alunos das escolas e universidades que poderão ficar à margem da sociedade tecnológica e do mundo do trabalho!

Em resposta à Usuário excluído

Re: A metáfora do BMW

por Usuário excluído -
Lucia , sua intervenção foi muito importante, porque tangencia pontos essenciais sobre a entrada das tecnologias da informação e comunicação nos espaços educacionais, entre eles a presença de especialistas em TIC que possam apoiar os professores em suas dificuldades na utilização das inovações tecnógicas, seja benvinda...abraços, Lina
Em resposta à Usuário excluído

Re: A metáfora do BMW

por Marco Silva -

Lúcia, sua participação é muito bem-vinda. Tenho concordâncias e discordâncais. Vamos debater nossos pontos de vista.

Para vc a história do BMW denuncia a violência que é feita com um sujeito pobre, que é obrigado a "engolir" uma tecnologia que pouco contribui para lhe dar um pouco mais de dignidade à sua vida.

  • Concordo , Há políticas educacionais que fazem dos professores meros joquetes, obrigando-os a "engolirem" tecnologias que ainda estão muito distantes das suas possibilidades de uso. Mas, Lúcia, o problema aqui não está em incluir o laptop para cada criança na escola, mesmo sendo isso considerado ao carro BMW entendido como tecnologia distante do universo cultural e econômico de muitas famílias brasileiras. O problema aqui está em não formar os professores para utilização dessa tecnologia na sala de aula e em não garantir o devido acompanhamento (manutenção, reposição dos equipamentos e da banda larga). Não sou deslumbrado com as tic digitais, embora algumas vezes me veja embasbacado diante de suas “magias” fascinantes, mas acredito que o laptop conectado à internet possa contribuir para a construção de mais dignidade para a vida. Nesse ponto o BMW e o laptop são tecnologias diferentes. O primeiro é uma tecnologia individual que potencializa as pernas na locomoção do seu dono. O segundo é uma tecnologia coletiva que potencializa a comunicação e a inteligência dos interlocutores. Por isso posso dizer: um carro BMW inalienável na escola “carente” é ironia, é acinte, mas leptops para prof e alunos, acompanhado de formação continuada é oportunidade de dignidade, de cidadania, de educação.

Vc fala do salário dígno : “Para o professor usar as tecnologias na sala de aula é preciso ter salário digno que dê para ter recursos similares em casa e deles fazer uso constante, de modo a garantir a necessária intimidade com a tecnologia. É importante que os recursos estejam realmente disponíveis para o uso na escola (e o professor não tenha que entrar em "fila de espera" ou fazer agendamento com um mês de antecedência).

  • Concordo . O professor precisa ter recursos similares em casa (computador, banda larga). Para isso precisa de salário digno. O Estado já está fornecendo um laptop para cada prof. E cada prof pode levar o seu para sua casa. Porém, como condição sine qua non para seu “engajamento crítico” em educação na cibercultura, tb faço seu alerta: a) a garantia de banda larga em sua residência, b) um salário digno e c) formação continuada presencial e online.

Concordo tb quando diz :

  • É fundamental que os professores encontrem apoio de especialistas em tecnologias que possam orientar e ajudar no planejamento de suas atividades didáticas.
  • É preciso que a gestão da escola acredite no potencial das tecnologias e contemple esta questão em suas propostas pedagógicas (quando a escola tem proposta!).
  • É preciso muito mais, para que o professor não seja violentado.

Porém, discordo quando diz: "Hoje muito se fala das resistências docentes ao uso das TIC. Não seriam essas resistências uma forma de dizer à escola, aos gestores da educação em todos os níveis: eu não quero BMW (computador, laboratório, laptop, etc). Eu preciso, antes de mais nada ser respeitado como ser humano, o que envolve, desde logo, a questão salarial e a formação profissional (inicial e continuada) de qualidade. Eis aí dois eixos de luta dos quais não podemos nos afastar."

  • Lúcia, penso que o laptop e a internet seriam BMW somente na escola que não tem banda larga para todos e formação continuada para os professores. O professor formado adequadamente para docência na cibercultura dificilmente dirá “eu não quero laptop e internet”. Raramente irá dizer: "primeiro eu quero melhores salários e dignidade". Certamente irá querer tudo isso ao mesmo tempo. Inclusive, quererá o laptop e a banda larga sabendo que essa tenologia ajudará muito em sua luta para conquista dos melhores salários e da sua dignidade.

Bjs,

Em resposta à Marco Silva

Re: A metáfora do BMW

por Usuário excluído -

Marco

Será que a formação dos educadores envolve a prática docente na cibercultura?

Por que será que há quase 20 anos fazemos, fazemos... e continuamos a fazer formação continuada de educadores para inserção de tecnologias em sua prática e, nos últimos 8 ou 10 anos isso ocorre com a imersão na cibercultura?

Em resposta à Usuário excluído

Re: A metáfora do BMW

por Marco Silva -

Beth, <?xml:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />

acredito que a formação de professores em nosso tempo não pode prescindir do conceito de cibercultura.

Não saio em defesa desse conceito como mais um modismo. Muitas vezes prefiro a expressão "o nosso tempo". Mas em situações específicas prefiro acionar um conceito acadêmico já sólido pq baseado em pesquisas relevantes e carregado de implicações sociotécnicas que não podem estar ausentes do saber docente em nosso tempo, seja ele infopobre, seja ele inforrico.

Se acreditamos que os computadores móveis e a web 2 podem ressignificar a informática educativa e que esta é imprescindível à educação em nosso tempo, será uma grande perda não situarmos tudo isso na cibercultura. Falar apenas em "nosso tempo" fica difuso, dilui especifidades e urgências inquestionáveis. 

bjs, 

Em resposta à Marco Silva

Re: A metáfora do BMW

por Usuário excluído -

Marco

Por que dicotomizar? Minha fala o tempo todo vai no sentido da integração...

Não tem sentido falar em tecnologias na educação e, especialmente em tecnologias móveis, sem englobar a cibercultura.

Em resposta à Marco Silva

Re: A metáfora do BMW

por Usuário excluído -
Caro Marco.
        Sua resposta vai na mesma direção da minha reflexão. Como você reafirma no primeiro parágrafo, a questão principal está na formação do professor, com especial destaque para os cursos de licenciatura, que continuam ignorando a presença concreta da tecnologia na escola (e aqui não estou apenas falando de computador e internet, mas de TV, vídeo, DVD, entre outras). Com raras exceções encontramos nesses cursos disciplinas que tratam da relação educação-tecnologias e, assim, continuam formando professores para reproduzirem aquilo que estão acostumados a vivenciar em sala de aula: "um ensino baseado no falar-ditar do professor" (esta frase é sua!).
    Também concordamos que os salários dos professores não são nada estimuladores e muitos deles precisam de duas matrículas no ensino público e mais um "quebra-galho" na escola particular para poder dar conta de suas depesas. Esta luta pela sobrevivência transforma os professores em "auleiros", o que lhes dificulta encontrar tempo para planejar suas aulas para além do "falar-ditar".  Nesta "roda-viva" docente, levar o laptop para casa pode ser até um complicador (tem professores que se recusaram a receber o laptop!)
        Parece que aqui encontramos um bom probelma de pesquisa: em que os professores, que receberam o laptop, estão mudando sua prática pedagógia?
      Que tal pensarmos em estruturar uma investigação para saber o que está mudando no cotidiano do ensino de alguns desses professores?
         Lúcia Vilarinho
         
Em resposta à Usuário excluído

Re: A metáfora do BMW

por Marco Silva -

Lucia,

estamos no mesmo PPGE. Podemos sim estruturar uma investigação. Vamos falar mais sobre isso? Pessoalmente. Há orientandos interessados.

bj,

Em resposta à Marco Silva

Re: A metáfora do BMW

por Ieda Carvalho Sande -

Marco e Lucia,

Podemos investigar mas posso lhes adiantar que, com raríssimas exceções, não acontecem mudanças no cotidiano das escolas a partir da entrada dos computadores e outras mídias na escola pública. Posso falar de um universo de 180 escolas sob nossa responsabilidade. Acho que o MEC está fazendo sua parte; o que falta é o engajamento sério por parte dos estados.

Abs, 

Em resposta à Ieda Carvalho Sande

Re: A metáfora do BMW

por Usuário excluído -

No relatório da Comunidade Européia que disponibilizei a todos consta em relação à integração das TIC nas atividades escolares que há grandes diferenças entre os países, entre regiões, entre escolas de um mesmo país e até mesmo entre escolas próximas. Pode-se encontrar situações de práticas inovadoras com fortes indícios que a comunidade escolar está imersa na cibercultura e outras situações em que nada ocorre. Ainda assim recomenda mais e mais investimentos e investigações...

 

Em resposta à Usuário excluído

Re: A metáfora do BMW

por Edmea Santos -

boca aberta Gente, que debate rico, plural, cheio de sentidos! Maravilha!

Pessoal, sobre o que a Beth acaba de colocar em relação a diversidade de apropriações das tics na Europa, notei na ocasião de um evento que participei em Portugal, que a maioria os trabalhos inovadores com as tics acontecem, quase sempre, fora no currículo oficial.

Achei interessante como os professores portugueses trabalham bem com pedagogia de projetos, webquest, moodle, jogos e tantos outros objetos técnicos e metodologias em suas práticas pedagógicas. Muitos relatavam suas práticas com postura de pesquisadores. Contudo, a maioria dessas ações acontecem em turnos opostos, com estudos de casos para suas pesquisas de mestrado e doutorado. Pelo que vi e conversei com alguns professores o currículo oficial ainda é disciplinar, conteúdista e baseado na pedagogia da transmissão.

Aqui no Brasil estas práticas também são comuns nas escolas particulares e em algumas públicas. O inovador , instigante, interdisciplinar é sempre anexo. Ninguém tem coragem de mexer nas estruturas do currículo. É difícil mexer na grade e a grade prende. Se o desktop prede o corpo na mesa será que com o corpo móvel não mexeremos no conceito de sala de aula, sala de informática?

Pessoal, vejam este vídeo que achei no youtube em minhas navegações pela galeria disponibilizada pelo grupo da PUC-SP. No quinto dia de uso dos laptops as crinças já tinham descoberto boa parte das suas potencialidades. Será que a escola não terá que rever sua organização curricular também?

O que acham disso tudo? Beth, como isso tem acontecido do Tocantis?

[]s

Méa

Em resposta à Edmea Santos

Re: A metáfora do BMW

por Usuário excluído -

Méa, colegas

Vcs podem buscar informações mais detalhadas sobre os projetos no Brasil e em Portugal em diversos sites, blogs, que mostram situações e trabalhos inseridos ao currículo e outros como atividades extra. Comoa firmei antes não há um direcionamento linear. Vejam os exemplos de escola de Portugal e Brasil.

Escola Secundária da Póvoa de Lanhoso: http://www.esec-povoa-lanhoso.rcts.pt/

Colégio Estadual Dom Alano Marie Du Noday: http://domalanopalmasto.blogspot.com

Abç

Em resposta à Usuário excluído

Re: A metáfora do BMW

por Ieda Carvalho Sande -

Olá!

Como professora multiplicadora, desde o início do Projeto Proinfo (mais ou menos 11 anos), posso falar com experiência dos problemas que fazem parte do grande universo das escolas públicas do Rio de Janeiro e, porque não dizer, do Brasil de um modo geral.

Concordo em grande parte com a Lucia e a Beth quando falam da necessidade de capacitar o professor para o uso das tecnologias; isso é falado desde o início do programa, várias tentativas foram feitas, muitas vezes com grandes investimentos por parte do MEC e do estado, mas a situação não muda. Os NTEs estão bem equipados, os multiplicadores são bem preparados, os cursos são oferecidos com material disponibilizado, mas o fracasso continua. Concordo que os professores são muito sacrificados na luta pela sobrevivência, que as condições oferecidas pela escola são, quase sempre, péssimas, mas será que é só essa a causa do fracasso que continuamos a presenciar?

Como participante ativa durante todos esses anos em que acompanho e tento (você sabe disso, Lucia) despertar no professor a vontade de usar a tecnologia em suas aulas, tenho que concordar com o Marco quando analisa a questão dos laptops que foram disponibilizados pela Secretaria de Educação. Tenho visto coisas incríveis, tipo: “que bom, vou deixar o laptop com meu filho” ou “não preciso disso para dar aula”. Ofereci uma oficina, “Uso pedagógico do laptop”, com vários horários, para os professores da escola sede do nosso NTE e nenhum professor teve interesse em participar. Pior, quando vamos à sala dos professores, o que fazemos regularmente, a impressão que tenho é que eles ficam entediados, loucos para falar de outros assuntos; e olha que a relação NTE X Professor X Direção é muito amigável. Normalmente eles, os professores, nos procuram para consultar a Internet a procura de assuntos particulares. E olha que a escola está muito bem equipada, com laboratório completo com 20 computadores novos, oriundos do MEC e da SEE, sendo a direção muito engajada no uso das tecnologias.

Enfim, analisando as colocações apresentadas pelos colegas somadas à minha experiência de campo, acho que o próprio professor se desvaloriza ao assumir a posição de não se atualizar e, dessa forma, melhorar suas condições de vida. Ao adotar esse desinteresse, ao não aproveitar o que lhe é oferecido, ele, cada vez mais se iguala às camadas mais excluídas da população.

Sinto-me cansada dessa luta!

Em resposta à Ieda Carvalho Sande

caixa vazia ou instrumento cultural de aprendizagem?

por Edmea Santos -

Olá Ieda! Olá pessoal!

A professora Eloiza, minha colega na UERJ e aqui na pesquisa, ouviu de uma aluna nossa, que é professora da rede, a seguinte frase: "o que fazer com esta coixa vazia? Onde estão os conteúdos?". Esta fala é um sintoma. A grande maioria dos programas/políticas de formação de professores para o uso de mídias, trata os professores como consumidores de conteúdos. Só mais recentemente que o professor vem sendo tratado e instigado a ser autor de suas próprias aulas, conteúdos, material didático. O kit TV Escola, por exemplo, não vem com filmadora. Por que será?

Com a filmadora os professores com seus alunos podem ser autores de imagens e não meros consumidores de imagens que vem no dvd ou na antena/satétite. Não sou contra a disponibilização de conteúdos. Muito pelo contrário. Contudo, temos que investir mesmo na autoria do professor.

O laptop não é uma caixa vazia. Como diz a Maria Teresa Freitas, o computador e a internet são intrumentos culturais de aprendizagem no nosso tempo. Maria Teresa cadê você? Bruna explique aqui o sentido que o Lic trata.

Os professores no RJ ganharam mobilidade, conectividade. Ganharam uma máquina cerebral e semântica. Não ganharam uma ferramenta e muito menos uma máquina muscular. A internet é uma incubadora de mídias que vai além do conceito de repositório de informações. Com estes laptops os professores poderão estudar online, potencializar sua formação continuada, pesquisar, criar redes sociais, comunidades de prática,acessar conteúdos e informações diversas, criar suas aulas, conteúdos, material didático, produzir textos, imagens, sons, misturar tudo isso vivenciando a interatividade e o hipertexto com autoria. Para que tudo isso seja realidade, temos que continuar investindo em formação continuada de qualidade. Esta formação deve ir além do uso técnico ou didático. Temos que dicutir com os colegas professores questões epistemológicas, metodológicas, políticas!

Falta política nessa história. Política no sentido de Paulo Freire!

[]s

Méa

Em resposta à Edmea Santos

Re: caixa vazia ou instrumento cultural de aprendizagem?

por Usuário excluído -

Olá, Méa! Olá, amigos da pesquisa!

A referência da minha aluna à "caixa vazia" pode ou não significar acomodação e desejo de receber coisas prontas.

Concordo com a Méa que muitos anos de assujeitamento (e nós, pedagogos, temos bastante resoponsabilidade nisso) levaram os nosso companheiros professores a esperar de um "sistema" intangível e intocável "receitas de bolo", "bulas" do que fazer em sala de aula.

O computador que chegou às mãos do professor, se bem explorado como ferramenta, pode provocar um efeito similar ao que Vygotsky esperava da obra de arte: provocar uma espécie de desequilíbrio, de curto circuito deflagrador de processos da consciência humana.

Como chegou aos professores, no entanto, com razoáveis condições de usabilidade e um tutorial simples para orientá-la, pode ser metaforizado como uma caixa vazia.

Faltam estímulos ao uso pedagógico - que transcenda as utilizações já conhecidas - e à autoria, à apropriação da máquina de forma assertiva e resiliente.

Acredito que alguns repositórios de conteúdo e programas de formação continuada bem planejados podem dar o start nesse processo.

Infelizmente muitos dos nossos colegas professores ainda desconhecem a maravilha dos labirintos do hipertexto e os deliciosos mistérios do ciberespaço.

Méa, é bom trazer Paulo Freire para o nosso cenário.

Paulo Freire, em “ Ação cultural para a liberdade e outros escritos ” diz que a tecnologia é uma das “grandes expressões da criatividade humana”, define-a como “a expressão natural do processo criador em que os seres humanos se engajam no momento em que forjam o seu primeiro instrumento com que melhor transformam o mundo”.

Fazendo parte do desenvolvimento do homem, torna-se elemento fundamental para o alicerce das sociedades.

Gosto desta fala do grande mestre, na mesma obra, sobre as críticas aos malefícios causados pela tecnologia:

[...] seria simplismo atribuir a responsabilidade por esses desvios à tecnologia em si mesma. Seria uma outra espécie de irracionalismo, o de conceber a tecnologia como uma entidade demoníaca, acima dos seres humanos. Vista criticamente, a tecnologia não é senão a expressão natural do processo criador em que os seres humanos se engajam no momento em que forjam o seu primeiro instrumento com que melhor transformam o mundo.

Trata-se, portanto, da construção de uma práxis tecnológica em que o homem esteja ativamente envolvido.

Os computadores entregues aos professores podem ser um começo desse processo mas nós, que já avançamos um pouco nesse caminho, precisamos ajudar.

O curso originado desta pesquisa é um bom auxílio, parece-me.

O que acham???

Em resposta à Usuário excluído

Re: caixa vazia ou instrumento cultural de aprendizagem?

por Usuário excluído -

Eloiza, sua intervenção foi muito instigante...

Especialmente quanto você coloca a questão dos labirintos do hipertexto, ainda desconhecidos de nossos colegas professores, temerosos de navegar nos espaços virtuais... Concordo plenamente que o curso que estamos realizando possa nos auxiliar nos caminhos interativos virtuais, para ir pouco a pouco desvendando os mistérios da criação de outros labirintos...Tenho aprendido muito e compreendo que a cada dia me susrpreendo com as contribuições dos participantes...Abraços, Lina

 

Em resposta à Usuário excluído

Re: A metáfora do BMW

por Usuário excluído -

 

Olá Marcos, Olá Lúcia      <?xml:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />

Muito interessante esta sua colocação Lúcia. Fiquei muito motivada há investigar um pouco mais o assunto. Será que o professor está preparado para lidar com estas novas mídias?     

Dar um Laptop para os professores não vão motivá-los, muito menos prepará-los para lidar com elas. Ainda acho que os órgãos responsáveis pela educação são demagogos (prometem muito e não fazem nada de fato) quando falam tanto em introduzir as novas mídias na educação. É difícil acreditar nisto se algumas escolas, não têm se quer uma televisão e pior ainda, não têm nem alimentação direito para os alunos.

É fato que grande parte do Brasil ainda vive a margem do desenvolvimento, onde as crianças possam crescer e brincar com dignidade.  E ser educado neste cenário é difícil imaginar uma escola totalmente inserida em uma educação onde prevaleça tecnologia ampla desde os primeiros anos da educação.

 Filomena

 

                               
Em resposta à Usuário excluído

Conexão móvel

por Edmea Santos -

Filó, conheço professores aqui no estado, alunas minhas na UERJ, que estão aprendendo a usar os laptops com seus filhos. A mobilidade tem mexido com a   família como um todo. Concordo que não adianta apenas disponibilizar a máquina. Afinal inclusão digital vai além do acesso material as tics. Inclusão digital é ter acesso com autoria e cidadania. É saber o que fazer com estas tecnologias. Para tanto, temos que investir na formação continuada. Este é o nosso papel, o nosso desafio cotidiano.

[]s

Méa

Em resposta à Edmea Santos

Re: Conexão móvel

por Usuário excluído -

Ok Méa

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Concordo plenamente quando diz que temos que investir na formação continuada. E nos professores temos driblado a falta de dinheiro, os problemas de salário, em prol da profissão, independente de problemas financeiros.

Quando foi falado no fórum sobre os professores que têm que trabalhar em duas ou três escolas públicas para poder driblar a falta de dinheiro, não sabem os problemas passados pelos professores que trabalham em instituições particulares.

A maioria das faculdades de grande peso hoje em dia atrasa os salários de seus  professores.  É difícil amiga.  Só tendo muito amor a profissão, porque os alunos pagam suas mensalidades e merecem todo o seu respeito. E te garanto investir sozinha em formação neste contexto é complicado.  Mais como somos mesmo guerreiras fazemos da nossa jornada uma busca insistente na formação de nossos discentes e na nossa própria formação em todos os sentidos, principalmente em relação as novas tecnologias.

Filomena

 

 

 

Em resposta à Usuário excluído

Re: A metáfora do BMW

por Usuário excluído -

Olá a todos,

Estou acompanhando a discussão com muito interesse e tenho alguns comentários a fazer. Acho que a questão dos laptops merece sim ser objeto de investigação, tendo em vista ser uma política pública pautada no discurso da “inclusão digital de professores”. Isso, por si, já é capaz de instaurar um belo debate. Mas também concordo com a Ieda de que uma investigação que vá pura e simplesmente perceber se a presença dos laptops está ou não causando mudanças qualitativas no cotidiano de nossas escolas pode cair um tanto no vazio, pois sabemos de antemão todas as dificuldades que envolvem a formação e a prática dos professores para a utilização do computador/internet na escola.

Contudo, temos em nosso grupo de pesquisa (LIC/UFJF) uma experiência bem interessante que gostaria de compartilhar com vocês. Nossa última pesquisa, que integrou letramento digital, aprendizagem e formação de professores, foi organizada num formato tal que, além de investigarmos como os professores estavam enfrentando e se posicionando diante da cultura tecnológica da informática (com o que ela oportuniza através do computador e da internet), tivéssemos condições de colaborar de alguma maneira para que estes tivessem um conhecimento das possibilidades levantadas pela cibercultura no campo do letramento e da aprendizagem. Nosso intuito foi, portanto, levá-los a uma reflexão transformadora de sua prática educativa. Justamente por isso, buscamos caracterizar essa pesquisa como um trabalho formativo que envolveu tanto o desenvolvimento da competência técnica para o uso do computador/internet, quanto um processo reflexivo sobre o significado dessa experiência para a sua prática. E este foi um grande desafio: fazer com que o contexto investigativo não apenas nos oferecesse dados para a pesquisa e para nossa produção acadêmica, mas, que se tornasse um espaço de produção de conhecimento, reflexão e crítica, numa estratégia coletiva que pudesse possibilitar uma mudança na própria realidade da escola. E os resultados foram bastante positivos!

Acredito que um trabalho como este, realizado em torno da inserção dos laptops na prática docente, poderia ser muito produtivo. Não apenas verificar o uso que está sendo feito, mas, numa perspectiva de formação, contribuir para que eles conheçam e possam refletir sobre as inúmeras possibilidades que inauguram à sua prática.

Abraços a todos,

Bruna.

Em resposta à Usuário excluído

Re: A metáfora do BMW

por Usuário excluído -

Olá Bruna

É isso mesmo, nosso trabalho também caminha nessa direção. Nosso PPG em Educação: Currículo da PUC/SP é responsável pela formação dos gestores e formadores (multiplicadores de NTE) do Estado de Tocantins envolvidos com o Projeto UCA na Escola Dom Alano. A formação ocorre em serviço com base na interação, colaboração, reflexão sobre a própria prática.

No Rio, um bom exemplo pode ser observado em Piraí.

Um abç

 

 

Em resposta à Usuário excluído

Re: A metáfora do BMW

por Edmea Santos -

Olá Lúcia!

Bem-vinda!

Lúcia viu como sua participação provocou tantas reflexões? Fico imaginando quando os colegas que ainda não participaram entrarem nas discussões...Todos juntos daremos muito trabalho criativo à docência online.

Concordo com tudo que você falou. Só discordo com a linearidade dos acontecimentos e na analogia BMW/computador conectado. Como já falamos antes e Marco reforçou agora, o computador não é máquina muscular.

 O computador deve chegar e chegar junto com todo o resto. Não temos mais espaço para "o primeiro isso", "depois aquilo". Tudo ao mesmo tempo e agora. Se esperarmos uma política após a outra, avançaremos na exclusão digital que é sobretudo social.

[]s

Méa

Em resposta à Usuário excluído

Re: A metáfora do BMW

por Usuário excluído -

Lucia
Estava lendo a sua postagem e pensando nesta matéria que foi  divulgada ontem em vários jornais do Estado de São Paulo onde a Secretaria diz que o investimento na formação dos professores não deu os resultado...
Fica parecendo que ninguém pensou nas condições adversas destes professores...
Posso falar isto, pois fui capacitadora do programa na área de Tecnologia ( precisava ensiná-los a usar o computador e a Internet)e o que era mais comum na fala deles era: Vamos aprender para que se a diretora da nossa escola não deixa que se use o computador...  
 
Segue o texto para vocês
 
Secretária diz que R$ 2 bi investidos na educação não deram resultados

Secretária diz que R$ 2 bi investidos na educação não deram resultados

Agência Estado

(19/06/2008) Os R$ 2 bilhões investidos em formação continuada de professores pelo governo de São Paulo nos últimos cinco anos não melhoraram o desempenho dos alunos. A afirmação é da secretária estadual da Educação, Maria Helena Guimarães de Castro, que anunciou mudanças no programa. Segundo ela, o principal problema do Teia do Saber é a falta de foco. O projeto de formação dos docentes foi implantado na gestão do ex-secretário Gabriel Chalita (PSDB) em 2003.

“Não havia relação interativa entre esses programas e as necessidades da escola”, disse Maria Helena. Chalita foi procurado, mas informou não ter interesse em falar sobre o assunto. No ano passado, 40 mil professores - de um total de 230 mil docentes da rede - participaram dos cursos oferecidos por instituições de ensino contratadas pela secretaria por meio de pregão eletrônico. Esse recurso, de R$ 2 bilhões, é o equivalente, por exemplo, ao valor investido pelo governo federal no ensino básico de todo o País no ano passado por meio do Fundeb - o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica.

http://www.cosmo.com.br/brasilemundo/integra.asp?id=228928

 

Abraços

Mônica

Em resposta à Usuário excluído

Re: A metáfora do BMW

por Usuário excluído -

Caros colegas.

Há alguns dias atrás, mais precisamente no início da semana passada, fiz algumas considerações a respeito da nossa discussão sobre a BMW. Escrevi “bonitinho” (aqui significando apenas que estava no lugar adequado) e quando terminei coloquei a setinha no ‘enviar’ e qual não foi a minha surpresa? Tudo foi para o “espaço”, mas não era o espaço virtual e sim o espaço do sumiço. Fiquei muito aborrecida, mas como já passava da meia noite, resolvi deixar para o dia seguinte, tendo antes a preocupação de conversar com os alunos a respeito do mistério (esses são sempre mais espertos que nós professores em termos de domínio das tecnologias!). Foi, então, que me disseram que, às vezes, no Moodle isto acontece. Puxa! Mas logo comigo que já cheguei atrasada no curso e agora que estava começando a “esquentar a bateria”? Eles me esclareceram, então, que era mais prudente fazer o texto em separado e acrescentar ao ambiente e é o que estou fazendo agora, procurando retomar o diálogo interrompido pelo imprevisto da tecnologia.

Vejo que neste módulo 2, entre outras questões, se expressa uma preocupação com a adesão/uso pedagógico das tecnologias. Vários argumentos têm sido apresentados com vistas a apontar direções / caminhos que possam ajudar a disseminação das tecnologias nas práticas educacionais: a importância de projetos elaborados no contexto escolar; a relevância de políticas educacionais consistentes e que tenham um mínimo de duração para garantir a sua consecução; a formação continuada e inicial de professores, situando a tecnologia como parte inerente ao ato de ensinar; a necessidade de socializar experiências de ensino-aprendizagem com apoio das tecnologias bem sucedidas, entre outros.

No entanto, alguns resultados de pesquisa nos levam a questionar os proclamados avanços que aparecem aqui e acolá sobre o uso das TIC. Um desses resultados foi obtido em Portugal, em amplo estudo conduzido por PAIVA, J.; PAIVA J.C.; FIOLHAIS, C. O uso das tecnologias da informação e comunicação pelos professores portugueses ( http://lsm.dei.ec./ribie/docfiles/txt200373118546-241.pdf.2002 - o trabalho foi apresentado no Congresso Iberoamericano de Informática na Educação, realizado na cidade de Vigo, Espanha; fiz o acesso em 19/09/2007, mas não consigo encontrar novamente a página embora, pelo Google, ela apareça junto ao nome dos autores). Mas o que interessa desta pesquisa feita com 19337 professores de Portugal Continental (não errei o número não, foram 19337 sujeitos!), dos diversos níveis de ensino é que a quase totalidade desses sujeitos possuía computador pessoal, mas apenas uma pequena minoria o utilizava nas suas atividades pedagógicas. Desta minoria, os que mais usavam eram os homens que lecionavam no ensino superior. Bem, então o fato de ter computador pessoal (e, provavelmente, conhecendo aspectos básicos da informática) não é uma garantia de que o sujeito vá usar pedagogicamente a tecnologia.

O segundo resultado intrigante está citado por Brunner (BRUNNER,J.J. Educação no encontro com novas tecnologias. In TEDESCO, J.C. Educação e novas tecnologias: esperança ou incerteza. São Paulo: Cortez; Buenos Aires:IIPE; Brasília:UNESCO, 2004, p.17-75) e refere-se a um estudo conduzido por Larry Cuban (professor emérito de Stanford) sobre o que acontece com professores e alunos secundários altamente conectados, situados no Vale do Silício (Silicon Valley, na Califórnia, onde se dá, a partir dos anos 1950, um movimento muito relevante de pesquisa e expansão da eletrônica e informática). Entre outras conclusões Cuban verificou que apesar das escolas dessa região possuírem elevada conexão com as tecnologias, nelas se reproduz o padrão observado em outros estudos, isto é, os docentes pouco utilizam as tecnologias e quando o fazem continuam com suas práticas tradicionais.

Para não ficarmos nos exemplos alienígenas, vamos ver os resultados de pesquisa de um orientando meu que “está saindo do forno” e vai ser apresentada no dia 26 de junho (MAIA, C. A. da S. Tecnologias da informação e comunicação na prática pedagógica de professores da área tecnológica de escolas técnicas: aprovação, resistência, indiferença. Rio de Janeiro, 2008. 139f. Dissertação (Mestrado em Educação). Programa de Pós-graduação em Educação, Universidade Estácio de Sá, 2008).

Qual foi a inquietação que moveu este aluno? Por ser docente da área tecnológica em uma escola técnica estadual bastante reconhecida, localizada na cidade do Rio de Janeiro, ele se intrigava com o fato dos professores dessa área, que é impregnada de tecnologia, não usarem (ou usarem pouco) as TIC na sua prática pedagógica. Esta era uma constatação retirada de sua vivência prática neste contexto: ensino médio tecnológico público. Assim, ao vir para o Mestrado encaminhou seu projeto de pesquisa para investigar: (a) como esses professores eram formados para o uso pedagógico das TIC; (b) que recursos existiam na escola e como eram disponibilizados; (c) como a escola, por meio de seu projeto pedagógico, visualizava a utilização das TIC no ensino; (d) como e com que finalidades os professores utilizavam as TIC no ensino-aprendizagem; e (e) quais as dificuldades encontradas por esses professores para usar as TIC na sala de aula. A pesquisa foi conduzida em três escolas técnicas estaduais, selecionadas pela relevância histórica que apresentam no ensino público e por estarem localizadas em três regiões geográficas de características bem distintas, atendendo a clientelas bem específicas. Os sujeitos da pesquisa foram 50 professores e os diretores adjuntos das três instituições, que responderam a questionário e entrevistas. Cabe esclarecer que 26% dos professores pesquisados tinham duas matrículas em escolas públicas e que a média semanal de horas-aula deste grupo era de 42 horas.

Entre os resultados encontrados, Maia constatou que somente 11 professores (22% de 50) tinham passado por algum tipo de preparação pedagógica para o uso das TIC; ou seja, 78% não tinham qualquer formação, inicial ou continuada, para poder incorporar consistentemente as tecnologias ao seu “ofício de mestre”. E vejam que a pesquisa foi em três escolas importantíssimas no Rio de Janeiro, onde os professores, em sua maioria, ingressam por meio de concurso público; portanto, não se trata de qualquer professor; eles representam uma “elite docente” no ensino técnico. No que tange à segunda questão de estudo, ele verificou que as escolas possuíam diversos recursos tecnológicos, porém em quantidade insuficiente para o total de alunos e professores. Esta foi uma reclamação generalizada dos professores. O acesso aos recursos é prejudicado não apenas pela questão da quantidade, mas pela: (a) necessidade de agendamento prévio (o professor não pode ter uma idéia brilhante na véspera da aula, pois o recurso necessário pode estar indisponível), (b) guarda de alguns deles na sala da Direção (por questões de segurança), o que faz depender de ter alguém que tenha a chave da sala e esteja autorizado a entregar o recurso; (c) falta de manutenção (o recurso, de repente, fica com defeito); pela infra-estrutura precária das salas de aula para onde o recurso é levado (as tomadas com defeito, não há extensão elétrica para ligar a tomada no corredor ou em outra sala); (d) falta de funcionários de apoio que possam levar a tecnologia, arrumar a sala, deixando preparada para a aula (o professor é que tem de fazer tudo: levar o material, testar, preparar e depois fazer o percurso inverso). Para surpresa do pesquisador, apenas uma escola tinha projeto pedagógico, mas este não apresentava preocupação com a questão das TIC na educação. No que tange ao quando usam as TIC e com que finalidades, Maia encontrou: usam nas práticas tradicionais (com aulas expositivas; com apostilas / textos; e no desenvolvimento de trabalhos do tipo seminário) para “motivar / estimular / facilitar o ensino-aprendizagem”, portanto, expressam uma visão obsoleta / dicotômica da relação tecnologia-ensino – já vi este filme nos anos setenta do século passado! - que não permite a invenção de novas possibilidades para o uso das TIC. Apenas dois professores disseram que as tecnologias devem ser de uso obrigatório, porque elas fazem parte do contexto da sala de aula. Aqui podemos buscar o apoio de Giraffa (GIRAFFA, L.M.M. A formação de professores e o uso das tecnologias de informação no ambiente escolar. ABC Educativo. São Paulo, ano3, n.14, 2002) ao nos dizer que o professor, por meio de sua intimidade com a tecnologia, é capaz de inventar / criar novas possibilidades pedagógicas com as TIC, concorrendo com os jogos computadorizados, desenhos animados, filmes de ação, músicas estridentes de rock, utilizando também estes recursos para realizar sua ação pedagógica. Por último, os professores indicaram muitas dificuldades no uso das TIC, as quais foram divididas em três categorias: pelo lado da escola; por conta dos recursos; e pelo lado do professor. Obviamente, a maioria das reclamações ficou no lado da escola (os professores têm dificuldade de se auto-analisar; geralmente a escola e os alunos são culpados da não consecução dos seus objetivos educacionais, mas isto não significa que sejam incapazes de levantar adequadamente as dificuldades da escola para promover o uso das tecnologias). Assim, do lado da escola salientaram: falta de verbas para compra / manutenção das tecnologias; inexistência de uma rotina de trabalho que facilite o acesso; inexistência de estratégias de divulgação que incluam a demonstração pedagógica do uso; excesso de burocracia para poder usar o recurso; falta de apoio logístico e de infra-estrutura para a adequada utilização; tamanho das turmas; pouca vontade política para traçar os rumos da utilização pedagógica das TIC; carga horária dos professores insuficiente para um trabalho que demanda mais planejamento; tempo limitado dos funcionários da escola para o atendimento às necessidades dos professores em termos de uso das TIC. Já do lado dos professores as dificuldades maiores foram: falta de preparo pedagógico para o uso das TIC; desmotivação (em face das dificuldades mencionadas); incapacidade de controlar a indisciplina dos alunos causada pela presença da tecnologia na sala de aula; falta de tempo para preparar as aulas de forma integrada aos recursos; pouco comprometimento dos professores em relação à escola e aos alunos; os atrasos que surgem no cronograma das atividades de ensino por conta do uso das TIC (estas dispersam os alunos) e que impedem o cumprimento do programa (dar o conteúdo todo!). O estudo de Maia o levou a verificar que os professores pesquisados aprovam o uso das tecnologias (é discurso apenas?), mas resistem (não usam, ou usam muito modestamente) e, assim, se tornam in diferentes a elas.

Esses exemplos nos sugerem que os desafios são muitos, daí voltar à questão da formação, dos salários, das políticas e tantas outras, mas isto é ‘papo’ para outras sessões.

Abraços para todos.

Lúcia Vilarinho

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Re: A metáfora do BMW

por Usuário excluído -

Lucia querida, os resultados de pesquisa trazidos por vc são excelentes e poderíamos colocar outros tantos nessa lista, inclusive de faculdades tecnológicas muito conceituadas. No entanto, encontramos também situações em que os resultados são bem diferentes. O mais interessante é que os resultados favoráveis são muitas vezes encontrados em contextos cujas condições não eram favoráveis para tal.

Diante dessa complexidade, o que temos a propor?

Um forte abraço.

 

Em resposta à Usuário excluído

Re: A metáfora do BMW

por Usuário excluído -
Cara Elizabeth e colegas.
É fato que muitas ações já estão sendo desencadeadas, como bem ficou claro nas discussões anteriores: há políticas (que obviamente contém equívocos e, de um modo geral, perdem sua continuidade); há experiências: interessantes, ricas, inovadoras( muitas, no entanto, resultando em casos isolados e, com o tempo, perdendo seu vigor inicial); exitem muitas pesquisas (parece que o pessoal da Academia está começando a perceber que investigar o intrigado mundo da relação tecnologias-educação não é apenas vocação tecnicita!) e estas já permitiram a organização de alguns "estado da arte", como é o caso do que se expressa no artigo da Raquel Barreto (BARRETO, R. G. et al. As tecnologias de informação e comunicação na formação de professores. Revista Brasileira de Educação, v.11, n.31, jan-abr.2006, p.31- 42) e em outro, de autoria minha e de ex-aluna (CUNHA, M.L.; VILARINHO, L.R.G. Formação continuada de docentes a distância: o desvelamento de focos de estudo expressos em produções acadêmicas. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, v.88, n. 218, p.73-106, jan./abr. 2007).
Apesar dos avanços / conquistas, tenho grande preocupação (entre tantas outras, algumas até já mencionei como é o caso da prezarização do trabalho docente) com uma questão de fundo, a saber: os currículos e as metodologias de ensino das Licenciaturas.
Em breve levantamento feito por um aluno meu em matrizes curriculares (agora não é mais grade!) de cursos de licenciatura oferecidos por instituições de esnino superior aqui do Rio de Janeiro (públicas e particulares), o que se viu foi a quase total desconsideração da presença das tecnologias na escola, expressa, obviamente, pela inexistência de disciplinas que não apenas preparem os docentes para o uso (dimensão instrumental), mas façam isto de modo crítico e em uma perspectiva interdisciplinar (dimensão crítico-pedagógica).
Eu não conheço muitas pesquisas que tenham tido a finalidade de denunciar este vazio na formação de professores, mas acho que neste curso, em que temos a possibilidade de contar com representantes de tantas regiões geográficas distintas, podemos ampliar a discussão da problemática.
 Afinal que professor estamos formando para enfrentar a cibercultura? Formação continuada só não adianta. É preciso desconstruir as crenças, os obsoletismos pedagógicos durante um processo que tenha ampla duração, como é o caso da graduação, feita geralmente em quatro anos.
Acho que vou pesquisar mais sobre este tema. Se alguém puder me ajudar ficaria agradecida. O foco portanto é: como se dá a formação do professor em diferentes cursos de licenciatura para o uso das TIC na escola.
Abraços a todos.
Lúcia Vilarinho
Em resposta à Usuário excluído

Re: A metáfora do BMW

por Usuário excluído -

Lucia, colegas

Defato, enquanto se investe na formação continuada de docentes para integração de tecnologias na educação, a formação inicial de professores trata timidamente dessa questão, quando o faz. A par disso, existem hoje propostas de criação de outra categoria profissional para lidar com as mídias na educação na perspectiva da comunicação, já que o educador não tem dado conta desse trabalho!!! Repete-se assim a lógica disciplinar e cria-se uma nova profissão do mesmo modo que se inserem novas disciplinas nos currículos tais como educação sexual, ecologia ... para tratar de temas que não se consegue enfrentar adequadamente.

Um abç

Em resposta à Usuário excluído

Re: A metáfora do BMW

por Usuário excluído -

Cara Lúcia e demais,


Compartilho sua preocupação com os currículos e as metodologias de ensino das Licenciaturas. Concordo plenamente que a educação continuada com foco na utilização crítica da tecnologia deve ser aliada a um repensar das licenciaturas e graduações de maneira geral. Pensar apenas na formação continuada do professor da educação básica quando milhares de pessoas estão se graduando num paradigma reprodutivista e obsoleto, parece um contra-senso. É neste sentido que insisto na importância da formação pedagógica do docente superior.

Nesta linha, no ENDIPE deste ano, tive a oportunidade de assistir a apresentação da professora Marilda Berhrens, da PUC-PR, falando de uma pesquisa-ação na instituição abordando a formação pedagógica online dos professores universitários. Aliás, se não me engano, duas das participantes deste nosso projeto também fazem parte desta pesquisa: Patrícia Lupion e Elizete Matos. O projeto de pesquisa da professora Marilda é assim descrito no seu currículo Lattes:

“A base teórica do estudo focaliza-se na mudança paradigmática gerada na sociedade da Informação e toma como referência a necessidade de superação do paradigma conservador na busca de um paradigma inovador que atenda à produção do conhecimento num processo reflexivo, crítico e transformador. Envolve a análise da implantação do paradigma inovador com auxilio da tecnologia na prática pedagógica do professor com a utilização de recursos de mídia no processo de ensino-aprendizagem em ambiente presencial e virtual.”

Patrícia e Elizete, vocês realmente fazem parte desta pesquisa? Se sim, poderiam falar um pouco mais dela para nós?

Abs,

Nicia

Em resposta à Usuário excluído

Re: A metáfora do BMW

por Usuário excluído -

Oi Lucia,

 

o Simão Marinho, da PUC -MG (BH) tem um capítulo sobre isso no livro da anped sudeste do ano passado . eu tenho o livro, mas naõ consegui achá-lo... mas saiu pela editora da federal do espírito santo. mas talvez se escrever para ele ele te dê a referência..

 

abraços,

marcelo

Em resposta à Usuário excluído

Re: A metáfora do BMW

por Usuário excluído -
Caro Marcelo.
Muito grata pela sua informação. Este livro que você está falando seria o dos Anais do evento, que remete o leitor para os trabalhos que estão no CD-Rom? Se for este eu também tenho, pois tive um trabalho aprovado na Anpedinha Sudeste 2007. De qualquer modo, vou buscar um contato com Prof. Simão.
Abraços da Lúcia Vilarinho
Em resposta à Usuário excluído

Re: A metáfora do BMW

por Ieda Carvalho Sande -

Oi, pessoal!

Acho, apoiada em pesquisas, claro, mas muito mais em minha vivência como professora multiplicadora de NTE (primeiro em Niterói e atualmente no Rio, na Barra da Tijuca) desde o início do Proinfo, há 11 anos, que o maior problema é a formação do professor, tanto inicial como a continuada, totalmente em descompasso com as exigências do mundo moderno.

Lucia, concordo quando você diz que “é fundamental que os professores encontrem apoio de especialistas em tecnologias que possam orientar e ajudar no planejamento de suas atividades didáticas” e visualizo esse especialista nos professores multiplicadores, tão mal utilizados pelos governos dos estados.

Aqui no Rio de Janeiro tenho vivenciado muitas fases; a cada secretário de Educação, um novo coordenador de tecnologia, nenhum dando continuidade ao trabalho do outro, nem mesmo aproveitando as experiências que estão dando certo. Não sou política, mas fazia parte da equipe que foi substituída há alguns dias, após ter resistido bravamente a três secretários. Na gestão do primeiro, tínhamos conseguido (chegou a ser publicado) que a Secretaria de Educação disponibilizasse três professores (Orientadores Tecnológicos) por escola com laboratório. Esses professores passaram por um longo processo de seleção e formação, durante todo o ano de 2007, em curso ministrado pelos NTEs e, após a conclusão do processo, foram encaminhados para as escolas, um por turno, para atuar, sob a nossa orientação, nas escolas. Acreditamos que, pela primeira vez, o programa daria certo até que a mudança de governo e conseqüente troca de secretário, acabou com nosso sonho fazendo com que todos os Orientadores Tecnológicos, que estavam iniciando o trabalho nas escolas, retornassem às turmas que sempre é a única prioridade do governo. Uma pena, pois sabemos que a formação do docente para ser continuada e eficiente, deve integrar-se no dia-a-dia da escola e a garantia de um profissional nesse cotidiano poderia ser um grande passo na implementação das tecnologias nas escolas. O que fazer? pensativo

 

 

Em resposta à Ieda Carvalho Sande

Re: A metáfora do BMW

por Usuário excluído -

Ieda, colegas

A formação de educadores (professores, gestores, especialistas que atuam em diversos setores dos sistemas) é o centro do dilema de diversos desafios da educação atual e não se restringe às questões de integração de tecnologias na educação.

O que fazer? Investir, investir esforços em políticas, programas de formação e ações efetivas de formação que têm como foco a prática pedagógica e a realidade da instituição em que trabalha o profissional. Ressignificar a concepção de currículo em todas as situações educativas, na educação básica, na formação (inicial e continuada) de educadores e de outros profissionais. Desenvolver projetos de formação de educadores que  integrem as tecnologias ao currículo, em especial as tecnologias das redes sociais online que constituem o ciberespaço, o qual expressa um “novo currículo cultural que dá forma às perspectivas dos indivíduos sobre si próprios e sobre o mundo” (Goodson, 2001) e  representa a vida, as experiências compartilhadas e a realidade das pessoas que habitam e atuam nos espaços virtuais.

Abraços