Fábio e colegas,
Como pesquisadora da aprendizagem e do desenvolvimento humano a questão dos avatares me fascina.
A apresentação de possibilidades de interface com outras identidades sempre tem um impacto sobre nós, especialmente na infância e na adolescência.
Não é à toa que a televisão tem tanto impacto sobre a formação de atitudes, vendendo modismos, produto e modelos de aparência "ideal", por exemplo.
A possibilidade do próprio sujeito criar uma identidade secundária (o avatar), no entanto, pode possibilitar excelentes exercícios para esse desenvolvimento, para tornar o processo identitário mais sólido.
A identidade tem sempre uma dimensão pessoal, única, mas também possui uma dimensão social, que se desenvolve principalmente na interação com o outro, no processo interpsíquico (como dizia Vygotsky).
Esta ênfase nos faz crer, como dizia Ciampa (1994)*, que a identidade é metamorfose, está em constante transformação, não é produto pronto e acabado, mas uma produção constante e aberta para o futuro.
Segundo ele,
(...) uma vez que a identidade pressuposta é reposta, ela é vista como dada - e não como se dando num contínuo processo de identificação. (...) De certa forma, re-atualizamos através de rituais sociais uma identidade pressuposta que assim é reposta como algo já dado, retirando em conseqüência o seu caráter de historicidade (...) a mesmice de mim é pressuposta como dada permanentemente e não como reposição de uma identidade que uma vez foi posta (Ciampa, 1994, p.66-67).
*Ciampa, A. da C. (1994) Identidade. Em S. T. Lane & W. Godo (Orgs). Psicologia social: o homem em movimento. (pp. 58-75). São Paulo: Brasiliense.
Assim, a criação de avatares permite experiências identitárias similares às que fazemos nos grupos, burilando e aprimorando a construção da identidade.
Penso como Lévy* (ao contrário de Baudrillard e de Virílio):
Quando falamos de mundos virtuais temos em mente vastas redes digitais,
memórias, informáticas, interfaces multimodais interativas, rápidas e nômades
das quais os indivíduos poderão se apropriar facilmente. Imaginamos, sobretudo,
uma relação com o saber diferente da que hoje prevalece, a instauração de
um espaço de comunicação não-midiático, uma profunda renovação das
relações humanas ... uma reinvenção da democracia.” ( LÉVY , 2000, p. 94)
*LÉVY, P. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. São Paulo : Loyola, 2000.
Bela provocação, tema de grande importância!!!
Beijo para todos.