Auxiliadora, tive um professor que dizia: "aprender sai sangue". Nunca esqueci esta frase. Ela veio limpar um terreno que me incomodava muito: o ambiente escolar da aula show, com musicas para decorar a tabela periódica, professor performático, cheio de piadas prontas. Enfim, o ambiente festivo.
Nunca gostei desse oba-obra pedagógico. Por isso a frase "aprender sai sangue" me marcou tanto. Claro que ela radicaliza pelo outro lado: o lado da dor, do sofrimento do aprendiz... do clima tenso do ambiente de aprendizagem. Tb nunca gostei desse terror; do professor durão que oprime com imposições de qualidade.
Não busco um meio termo. Deixo claro para meus alunos e orientandos que a aprendizagem não é uma festa. Deixo claro para eles que na pós-modernidade há uma tendência para o "quanto mais purpurina melhor", para o show, para o riso fácil, para a superfície escorregadia do "deixa a vida me levar". Deixo claro ainda que a postura de receptor nos acomoda numa percepção descomprometida com a aprendizagem.
Procuro mostrar em destaque a intensidade existencial presente na vida de aprendizagem dos grande criadores, inventores que mudaram o mundo com suas criações. Certamente muitas das suas histórias pessoais de aprendizagens e criações lhes custaram sangue. Procuro mostrar que nossos celulares e computadores, por exemplo, não nasceram de uma festa. Procuro mostrar que há sangue e felicidade neles.
Enfim, tenho para mim que a leitura de um texto, que a criação de um outro, que estar em ambiente de aprendizagem, supõe intensidade participativa, entendida como interlocução. Isso não é nada fácil. O mais provável aqui é o confronto, o embate, a atenção ao interlocutor para haja dialógica. É nessa arena que se dá a aprendizagem e a criação. Nela há sangue, há lágrimas, há dor, há felicidade, há emoção, há gastrite, há dor de cabeça, há morte, há renascimento, há vida. Assim entendo o ambiente de aprendizagem e de criação na escola e para além dos seus muros.
bjs, Marco