Conceituando e problematizando

Com o advento dos computadores pessoais e sua posterior conexão em rede (a internet) surge um novo espaço de comunicação – o ciberespaço. A partir do ciberespaço, constrói-se uma nova cultura – a cibercultura – e com ela um novo gênero de saber e uma nova forma de pensamento (LÉVY, 2000). A cibercultura traz consigo duas características básicas: a hipertextualidade e a interatividade, e estas comportam outras características como a virtualidade, a não-linearidade, a multivocalidade, o tempo real, a simulação. Estas características dão especificidade a esta nova cultura (BONILLA, 2005).

Aqui vamos nos deter um pouco na discussão da virtualidade. Na linguagem comum, o virtual é utilizado para designar ilusão, ausência de existência, algo inapreensível, oposto ao real. Com o desenvolvimento das comunicações computadorizada sem rede, se popularizaram os termos "virtual" e "virtualidade". É chamado de mundo virtual ,vulgarmente, o ambiente de comunicação que é feito na internet. A mídia de informática, principalmente, ajuda a popularizar a "virtualidade", porque é uma palavra que sempre chama atenção, está sempre ligada a novas tecnologias e ao modismo tecnológico.(WIKIPEDIA, 2006).

No entanto, o conceito de virtual é muito mais abrangente que a informatização. Segundo Lévy (1996), embora a digitalização no ciberespaço desempenhe um papel importante nas transformaçõesdo mundo contemporâneo, existem outros vetores da virtualização como: a imaginação, a memória, o conhecimento, a religião; vetores estes que levaram ao abandono da presença muito antes da informatização.


“O virtual tem somente uma pequena afinidade com o falso, o ilusório, o imaginário. Trata-se, ao contrário, de um modo de ser fecundo e poderoso, que põe em jogo processos de criação, abre futuros, perfura poços de sentido sob a platitude da presença física imediata”

(LÉVY, 1996, p.12)

Lemos, Cardoso e Palacios (2005), tomando como base o exposto por Lévy em seu livro “O que é virtual”, argumentam que:


"Podemos ver o real como o conjunto de processos de virtualização e atualização sucessivos, sendo os primeiros dispositivos de questionamento de um determinado estado de coisas, e os segundos formas de resoluções desses problemas. Assim sendo, quando escrevemos este artigo, virtualizamos (pomos em questão) essa temática: educação e novas tecnologias, atualizando-a quando escolhemos uma abordagem e não outra, quando finalizamos escrevendo este texto. O processo é infindável, já que o leitor vai de novo virtualizar nosso texto ao lê-lo, ao questioná-lo com suas referências adquiridas e com uma criação de relações e vínculos próprios. Grosso modo podemos, para o que nos interessa aqui, dizer que todo processo de virtualização é um deslocamento do aqui e agora (...). Assim, virtual se opõe ao atual, fazendo parte do real.”


(LEMOS, CARDOSO e PALACIOS, 2005)

O atual, então, é a solução exigida pela problemática, pelo virtual; é o produto da atualização feita pelo virtual e que alimenta de volta o virtual. Atual e virtual coexistem e se intercambiam. “Esse processo constitui um movimento em que imagens vão surgindo, sentidos e significados vão sendo elaborados e re-elaborados. E é justamente a esse movimento que designo realidade”(BONILLA, 2005, p.134).

Assim,muito mais do que produzir rupturas, as novas tecnologias devem ser vistas como potencializadoras de algumas estratégias pedagógicas - já que a educação deveria ser virtualizante por essência (LEMOS, CARDOSO e PALACIOS, 2005).

A partir dos conceitos de virtual, atual e real que se entrelaçam é que buscamos ressignificar o conceito de ambiente virtual de aprendizagem. Um ambiente de aprendizagem pode ser entendido como um espaço onde se constrói conhecimento: convencionalmente, a sala de aula presencial. E o que seria um ambiente virtual de aprendizagem? A partir do conceito popular de virtual, podemos dizer que seria uma sala de aula mediada por computadores em rede, ou pela internet. Mas podemos ir além quando pensamos neste conceito.

Na literatura, encontramos algumas definições para ambientes virtuais de aprendizagem. Uma delas é trazida por Vavassori e Raabe que definem um ambiente virtual de aprendizagem como “(...) um sistema que reúne uma série de recursos e ferramentas, permitindo e potencializando sua utilização em atividades de aprendizagem através da internet em um curso a distância.” (VAVASSORI e RAABE,2003). Esta definição nos remete a uma aplicação de computação (um software)utilizada em cursos a distância. Edméa Santos conceitua o AVA como um"espaço fecundo de significação onde seres humanos e objetos técnicos interagem, potencializando assim a construção de conhecimentos, logo a aprendizagem" (SANTOS, 2003).

Podemos dizer que um ambiente virtual de aprendizagem pode ser percebido não só como um ambiente constituído a partir da rede, mas também como um espaço de amplas possibilidades de construção de conhecimento, onde “memórias” da rede se entrelaçam com memórias, imaginação, conhecimento, dos sujeitos que com ela interagem, ressignificando conceitos e reconstituindo o atual de cada um a cada instante