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Quadro teórico

A formação continuada de professores para a docência online é demanda da cibercultura, sociedade da informação, da era digital. O alastramento da presença do computador online é inarredável no cotidiano das pessoas constituído por novas práticas comunicacionais (e-mails, listas, weblogs, jornalismo online, webcams, chats, etc.) e novos empreendimentos que aglutinam grupos de interesse (cidades digitais, games, software livre, ciberativismo, arte eletrônica, MP3, etc.) (LEMOS, 2003; CASTELLS, 1999, 2003; LÉVY, 1993 e 1999; PRIMO, 2007).

Formar o educador em sintonia com esse contexto significa prepará-lo para incluir criticamente os cidadãos no contexto sociotécnico do nosso tempo. Essa formação se faz proporcionando-lhe a construção de competências e de autonomia para o engajamento em projetos pedagógicos que utilizem as tecnologias digitais offline e online como potencializadoras da docência e da aprendizagem. (SANTOS, 2003, 2005; PRETO et al, 2006).

As disposições próprias do computador e da internet requerem qualitativos investimentos na gestão da educação online. Curiosamente, tais disposições do computador conectado estão em sintonia com indicadores de qualidade em educação. Colaboração, troca de informações e de opiniões, participação, autoria criativa são ingredientes do que há de mais essencial em educação autêntica. Para que tudo isso seja contemplado é preciso investir muito na formação de gestores e de professores capazes de ousar em educação online, (FELDMAN, 1997).

Proporcionar educação online não é o mesmo que oferecer educação presencial ou a distância via suportes tradicionais. A primeira exige metodologia própria que pode, inclusive, inspirar mudanças profundas no modelo da transmissão que prevalece na sala de aula presencial “infopobre” e “inforrica”. Será preciso educar com base em diálogo, troca, participação, intervenção, autoria, colaboração. É certo que essa metodologia não é prerrogativa do computador conectado, mas é nele que encontra possibilidades de sua potencialização (SILVA, 2003).

O professor precisa preparar-se para professorar online. O peso histórico da pedagogia da transmissão exigirá em contrapartida a formação continuada e profunda capaz de levá-lo a redimensionar sua prática docente, tendo claro que não basta ter o computador conectado em alta velocidade de acesso e amplo fornecimento de conteúdos para assegurar qualidade em educação. Em lugar de transmitir meramente, ele precisará aprender a disponibilizar múltiplas experimentações e expressões, além de montar conexões em rede que permitam múltiplas ocorrências. Em lugar de meramente transmitir, ele será um formulador de problemas, provocador de situações, arquiteto de percursos, mobilizador da experiência do conhecimento. Para isso, contará com ferramentas ou interfaces que compõem o ambiente virtual de aprendizagem, onde ocorrem interatividade e aprendizagem (fórum, chat, blog, texto coletivo, portfolio, midiateca e videoconferência no modelo “todos-todos”) (SILVA, 2004, 2005, 2006).

O professor precisará, inicialmente, vencer o preconceito que já alimentava com a educação a distância em suportes analógicos, agora ampliado com a educação online. Há aquele que tem acesso ao computador conectado e desconfia da ausência do olho-no-olho, considerado essencial no ensino e na avaliação, ou sente-se ameaçado por qualquer tecnologia de informação e comunicação cuja performance de transmissão esteja acima da sua. E há aquele vitimado pela infoexclusão, arredio, desabilitado, resistente, conservador, preconceituoso diante das tecnologias digitais e da educação online.

Todavia, há outras desconfianças por vezes procedentes. Há aquelas geradas em reação à febre mercadológica de empresas e instituições de ensino se lançando em busca do mercado garantido, fácil e barato, sem assegurar aos usuários qualidade das redes disponíveis e disponibilidade de serviços de apoio ou suporte. E há também a desconfiança gerada pela baixa qualidade dos cursos baseados na disponibilização de conteúdos fechados, à maneira de apostila eletrônica com monótonos exercícios de verificação.

O preconceito vem dispersando ou afastando investimentos em políticas públicas, sociais e empresariais em educação online. Entretanto, a educação a distância e a educação online ganham incentivo, valorizando igualmente os suportes tradicionais e as tecnologias digitais. Consórcios e parcerias foram criados, mas poucos avançam em suas metas. Instituições públicas, particulares e corporativas buscam soluções próprias, muitas vezes num clima de salve-se-quem-puder.

A legislação brasileira atual sobre EAD é arrojada. Inicialmente a Portaria do MEC 2.253, de 18 de outubro de 2001, conhecida como “Portaria dos 20%”, veio garantir às instituições de ensino superior a opção de oferecer até 20% de suas disciplinas regulares na modalidade a distância, que transita dos suportes tradicionais para a internet. Pouco tempo depois vieram a Portaria 4.059/2004, o Decreto 5.622/2005 e a Portaria 1.046/2007 que ampliaram muito mais os horizontes para a modalidade educacional a distância (o impresso via correio, o rádio e a tv) e para a modalidade educacional online (o computador e a internet).

Mais recentemente, há o Programa Universidade Aberta do Brasil (UAB) como inusitada política do MEC visando à democratização, à expansão e à interiorização da oferta de ensino superior público e gratuito no país, assim como o desenvolvimento de projetos de pesquisa e de metodologias inovadoras de ensino, preferencialmente para a área de formação inicial e continuada de professores da educação básica. Seus editais convocam instituições públicas de ensino superior (federais, estaduais e municipais) a encaminhar suas propostas de cursos superiores na modalidade de EAD, os quais serão vinculados aos pólos de apoio presencial. É, portanto, semipresencial. Há o pólo com salas de aula presenciais e há também a modalidade a distância via ambiente online.

Como se vê, as iniciativas em favor da EAD são crescentes no país Todavia precisam vir acompanhadas de formação de professores para atuação na modalidade educacional que ganha consolidação com a legislação recente e com as políticas do MEC em favor da democratização do ensino superior. Visando a responder à demanda por formação de professores para docência online, este projeto estrutura-se no contexto interinstitucional que envolve 12 PPGs que se mobilizam em torno do tema.

A pesquisa interinstitucional visa à troca de experiência, de inquietações e à colaboração na construção de soluções. Os 12 PPGs, 11 brasileiros e um português, estarão reunidos por dois anos em um ambiente online Moodle criado especificamente para contemplar a identidade do projeto interinstitucional. Nesse ambiente serão realizadas experiências de construção de desenho didático, de docência e de aprendizagem na modalidade online no próprio Moodle, software livre mundialmente adotado, inclusive pelo MEC e particularmente pela UAB.

Realizada na modalidade online, a pesquisa já traz em sua prática o engajamento dos professores-pesquisadores envolvidos no contexto mesmo dos desafios de aí desenvolver soluções para o ensinar e o aprender .

Última atualização: domingo, 17 mar 2024, 23:00