Dedinho de prosa...

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Dedinho de prosa...

por Usuário excluído -
Número de respostas: 11

Olá colegas!

Com a participação de vocês no fórum de ambientação, muitas questões emergiram e isso é muito bom! Como sabemos, o processo de mediação se dá por meio do desencadeamento de questões que se “hiperlinkam” a outras... Alguns caminhos, algumas explicações, vão se construindo nesse percurso e é isso o que pretendemos neste fórum: resgatar questões, propor outras e coletivamente, dialogicamente, construir conhecimentos.

A questão norteadora deste início de prosa contempla uma das questões apresentadas anteriormente por nosso colega Lázaro: Como compreender o processo de desenvolvimento humano não apenas no que ele traz de biológico, mas principalmente nas interações com o contexto histórico-cultural?

Abraço

Grupo - PPGE-LIC-UFJF

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Re: Dedinho de prosa...

por Usuário excluído -
Olá Bruna

Sou do CED/PUC-SP e estive no auditório do curso de vocês. Agora participo subindo no trem andando aqui no segundo fórum, mas lendo a pergunta acima não pude deixar de me concentrar neste trecho do fórum:

"(...)a existência social humana pressupõe a passagem da ordem natural para a ordem cultural. Discutir a natureza do social e a maneira como ele se torna constitutivo de um ser cultural é, sem dúvida alguma, um detalhe muito importante da obra de Vigotski, o qual merece uma atenção especial".
SIRGADO, A. P. O social e o cultural na obra de Vigotski. Educação & Sociedade, ano XXI, nº 71, Julho/00. p. 47

Ao mesmo tempo, exatamente hoje, uma colega na Europa/EUA decidiu que não queria mais ficar pensando se queria ter filhos ou não e resolveu congelar seus óvulos no EggFreezing.com. Ela pagou US$ 9 mil para congelar seus óvulos e decidir depois se terá filhos. Foi convencida pelo fato de que o site promete que "se não for achado um doador a contento, um doador anônimo poderá inclusive colaborar financeiramente para a geração do óvulo". Pensei cá com meus botões: que maneira de se livrar das restrições biológicas de idade e saúde para ter um filho!

É aí que volto ao fragmento do texto. Não somos mais biológicos. Não há mais a ordem natural imperando no nosso cotidiano. Por sua vez, Vigotski percebeu essa passagem muito antes dessa nossa era tecnológica e nisso resulta seu pioneirismo. É cotidiana esta vivência hoje, mas não menos admirável.
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Re: Dedinho de prosa...

por Usuário excluído -

Olá Renata

Muito interessante o que vc trouxe. De fato Vygotsky foi muito além de seu tempo, o que o torna tão atual para as questões que são postas hoje.Ele afirmou que todas as teorias psicológicas de seu tempo só consideravam o biológico. O grande diferencial dele foi mostrar a importância do biológico sim, mas dizendo que este só naõ é suficiente para o desenvolvimento humano. O processo de hominização, o tornar-se humano acontece a partir da relação com outro na imersão com o meio cultural.

Maria Teresa

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Re: Dedinho de prosa...

por Usuário excluído -

Olá profa Maria Tereza, Olá equipe do PPG/ FJF

Muito interessantes os vídeos e textos de apoio que vocês apresentaram. Muito articulada a abordagem sobre Vigotski e Bakhtin, e o pontos em que ambos parecem ter uma certa identidade, os quais gostaria de fazer ligeiros comentários. Como vocês colocam apesar de Vigotski ter vivido em outra época e morrido prematuramente, seu pensamento é atualíssimo na medida em que mostra como acontece  a relação do homem com o conhecimento e a mediação através da linguagem. Outra contribuição importante desse teórico foi  mostrar que  aprendizagem  provoca o desenvolvimento e a responsabilidade que está nas mãos da escola e dos professores no que tange à potencializar essa zona de desenvolvimento proximal nos alunos. A compreensão  ativa evidenciada  por Bakhtin é de fundamental importância no processo de construção de conhecimento. Se não questiono, se não formulo perguntas não sou capaz de intervir na realidade. No entanto, grande parte das nossas escolas e professores não estão acostumados e não aceitam a "rebeldia" e as " inquietações dos discentes...Suas vozes ficam sem espaço no espaço escolar presencial e virtual .. .

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Re: Dedinho de prosa...

por Usuário excluído -

Maria Olívia

 Suas palavras mostraram sua compreensão ativa. VC apreendeu conceitos básicos da teoria  histórico-cultural refletindo a partir dela sobre a responsabilidade do professor no processo de ensino aprendizagem. Se naõ se der voz aos alunos, se eles naõ tiverem condições e espaço para dizer, impede-se seu processo de compreensão ativa. Esta supõe uma interlocução, uma interação verbal na qual há sempre um falante e um ouvinte que se alternam e se engajam em um processo discursivo dialógico. Nesse processo, que permite a contra palavra é que se torna possível uma aprendizagem.

Um abraço

Maria Teresa 

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Re: Dedinho de prosa...

por Helena Rodrigues de Sá -

Olá pessoal!

Demorei, mas cheguei...

Ao ler o fragmento do texto de Maria Teresa, que diz “é nas relações sociais, via linguagem, que o sujeito constitui suas formas de ação e sua consciência, deixando de ser um ser biológico (com FME) para se transformar em um ser sócio-histórico (com FMS).”, lembrei-me do caso clássico das irmãs Amala e Kamala para exemplificar o quanto a interação social/cultural é importante para o desenvolvimento humano no que concerne ao aspecto histórico-cultural. A "humanização" das meninas, ou seja, a transformação em seres histórico-sociais não foi possível, pois não houve  ação entre sujeitos que se transforma em uma ação do próprio sujeito. Este sujeito necessita estar inserido em um contexto cultural para que haja a transformação do ser biológico para o ser sócio-histórico.

Ao lidar com alunos essa questão fica evidente. Alunos com contextos histórico-culturais diferenciados chegam à sala de aula com desenvolvimentos bem diferenciados. É nesse momento que a mediação vigostkiniana entra em ação! Maria Teresa fez questionamentos em seu texto que deveríamos nos fazer diariamente: “Qual é a sua contribuição para o desenvolvimento de seus alunos? Quem são estes alunos? Em que etapa do desenvolvimento estão? Como compreender esta etapa não apenas no que ela traz de biológico mas principalmente nas interações com o contexto sócio-históricocultural?” 

O ser humano naturalmente já faz parte do desenvolvimento do outro, quer ele queira ou não. E nós, professores, temos responsabilidade dobrada em relação ao desenvolvimento de nossos alunos.

Abraços carinhosos,

Helena

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Re: Dedinho de prosa...

por Usuário excluído -

Helena

Muito interessante sua observação compreendendo que para Vygotsky o sujeito se constitui nas relações sociais via linguagem trazendo como exemplo disso um caso de crianças-lôbo.Olhar estes casos nos permite concretizar a afirmação de Vygotsky. Essas crianças nasceram biológicamente como crianças humanas mas enquanto não estiveram inseridas em um meio cultural, enquanto não estabeleceram relações com humanos aprendendo deles uma linguagem, se mantiveram como selvagens. Essas crianças só se transformaram de um ser biológico em um ser sócio-histórico, só se hominizaram, se tornaram de fato humanas a partir da interação com outros humanos, aprendendo deles uma linguagem e sendo por eles inseridas em um meio cultural.

Temos alguns exemplos desses casos que concretizam bem a frase com a qual vc abriu sua discussão.Saõ eles: Victor , de Avingon : o menino selvagem que foi retratado no filme de Traufaut: "L' enfant sauvage" ; O Enigma de Gaspar Hause  também apresentado em livro e filme; a menina Helen Keller cega e surda que embora cercada de pessoas naõ conseguia nenhum contato com elas, que permanecia uma meninha selvagem até que sua preceptora Anne Sullivan procurando um meio de atingí-la descobriu no tato, uma possibilidade de se comunicar com ela. A história de Helen Keller também está em livro e filme: O milagre de Anne Sullivan. 

Um abraço

Maria Teresa

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Re: Dedinho de prosa...

por Usuário excluído -

cibercultura.jpg

Olá colegas!

Já peguei o trem andando e não pude me apresentar!

Sou orientanda do Prof. Marco Silva (Mestrado em educação) da UNESA e a minha formação é tecnológica. Tenho um grande interesse nessas discussões sócio-culturais de Vygotski articuladas com a educação online.

Em tempo de cibercultura, o contexto histórico-cultural e a interatividade se complexificam potencializando o desenvolvimento do ser humano. São infinitas formas culturais inter-relacionadas entre si e com a Cibercultura.

No meu entendimento, para compreender  o processo de desenvolvimento humano nas interações é necessário conhecer o contexto histórico-cultural em que o sujeito se encontra. A cultura faz o homem e o homem faz a cultura.

A minha inquietação é em relação a mediação no contexto virtual culturalmente diversificado com a teoria historica-cultural de Vygotski. Como atingir o desenvolvimento humano nessa concepção e nesse contexto?

[]'s,

Tatiana Rossini

 

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Re: Dedinho de prosa...

por Usuário excluído -

Assim como a Tatiana, cheguei agora ao módulo. A Méa já citou o trabalho de pesquisa que estou desenvolvendo no LEAH/PPFH/UERJ, com a Profª Eloiza Gomes. Meu referencial teórico sobre aprendizagem é basicamente apoiado em Vygotsky.

Bom, vamos às perguntas:

1. Como compreender o processo de desenvolvimento humano não apenas no que ele traz de biológico, mas principalmente nas interações com o contexto histórico-cultural?

O desenvolvimento humano é dialético em essência. Não é um processo que evolui em degraus (como colocam os cognitivistas), mas se desenvolve como uma espiral ascendente, envolvendo momentos de evolução e revolução como duas faces da mesma moeda. Esses momentos não acontecem ao homem isolado (os exemplos já dados aqui no fórum mostram isso claramente). O homem se desenvolve nas relações sociais. Gramsci (1978) afirma: "...deve-se conceber o homem como uma série de relações ativas (um processo), no qual, se a individualidade tem a máxima importância, não é todavia o único elemento a ser considerado. A humanidade que se reflete em cada individualidade é composta de diversos elementos: 1) o indivíduo; 2) os outros homens; 3) a natureza. Mas o segundo e o terceiro elementos não são tão simples quanto poderia parecer. O indivíduo não entra em relação com outros homens por justaposição, mas organicamente, isto é, na medida em que passa a fazer parte de organismos, dos mais simples aos mais complexos”. (p.39).

                Em Vygotsky, a preocupação com a aprendizagem é fundamental, pois para ele aprendizagem não é desenvolvimento, mas “...o aprendizado adequadamente organizado resulta em desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos de desenvolvimento que, de outra forma, seriam impossíveis de acontecer. Assim, o aprendizado é um aspecto necessário e universal do processo de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente organizadas e especificamente humanas”. (VYGOTSKY, 1998, p.118).   Assim, como já foi colocando no 1º fórum, o professor e a escola têm papel fundamental no desenvolvimento das crianças (e eu ampliaria: “para a formação humana”).

 

                2. A minha inquietação é em relação a mediação no contexto virtual culturalmente diversificado com a teoria historica-cultural de Vygotsky. Como atingir o desenvolvimento humano nessa concepção e nesse contexto?

Se acreditamos que a tecnologia pode potencializar a comunicação a distância, acreditamos em troca, em diálogo. Se isso é possível, a mediação tb é. Talvez não a mediação feita com as crianças, que exige a construção do espaço-tempo, do brinquedo e da linguagem, de conceitos espontâneos e científicos, mas, considerando que o ser humano constrói dialeticamente ao longo da vida seu conhecimento, e abordando a educação online como formação humana, acredito que a mediação é possível.

Em outro momento perguntaram se as interfaces podem ser mediadoras, acredito que são instrumentos que podem mediar o conhecimento, posto que são pensadas por outros sujeitos que procuram manter um "diálogo" com o usuário. Assim como a obra de arte precisa dos seus admiradores, as interfaces informáticas não têm sentido sem seus usuários. É para eles que se pensa no desenho didático (ver Ecivaldo Matos - IHC).

 

Referências Bibliográficas:

GRAMSCI, Antonio. Problemas de Filosofia e História - O que é o homem? In: Concepção dialética da história. 3 ed. Trad. Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.

VYGOTSKY, Lev Semenovich. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

 

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Re: Dedinho de prosa...

por Usuário excluído -

Tatiana e Patrícia

AS contribuições de vocês neste fórum foram muito importantes. Todas duas apresentam a mesma preocupação. Indagam sobre a possibilidade da mediação no meio virtual. De imediato posso responder que sim,  que essa mediação é possivel, mas como estamos terminando essa primeira estação e essa pergunta se enquadra perfeitamente na temática da segunda estação , vou responde-la com mais detalhes no nosso outro fórum: " mais um dedinho de prosa". Até lá.....

Maria Teresa

Até lá  

Em resposta à Usuário excluído

Re: Dedinho de prosa...

por Marco Silva -

Olá equipe mineira

Também destaco a pergunta feita por Lázaro e que deu origem a este fórum Dedinho de prosa. Ela está eloquentemente respondida no "texto base" e nos dois primeiros vídeos da Maria Teresa. A dialética de Vygotsky não deixaria de articular o natural, o biológico, o social e o cultural "que se entrelaçam em uma complexa síntese dinâmica".

Maria Teresa foi feliz quando disse: “As etapas do desenvolvimento: infância, adolescência, vida adulta, velhice não podem ser pensadas como o resultado apenas de um processo biológico, maturacional mas passam a ser compreendidas levando-se em conta os aspectos históricos sociais, o lugar singular em que as pessoas se encontram.”

Esta questão me lembrou meu ensino médio, quando me deparei com os estudos de genética e fiquei meio paranóico dizendo para mim mesmo que os seres humanos não passam do resultado do cruzamento do meio com a biologia. Por meio, eu entendia “determinações” geradas pela convivência com uma condição social particular (lócus sociocultural que experimentei). Passei uma temporada de tristezas encucadas de adolescente sorumbático por pensar assim. Eu via os seres humanos como “esquisitos” e “decepcionantes” por estarem submetidos à dupla determinação meio e biologia.

Somente mais tarde me dei conta de que o humano é o único animal que pode rir de sua condição de “esquisitos” e “decepcionantes” e questiona-la, por mais submetido que esteja. Essa ficha caiu particularmente quando me dei conta do movimento que articula natureza e cultura, um clássico tema da filosofia. Foi um alívio!

Passei a entender a educação escolar e universitária como ambiente privilegiado para se articular natureza e cultura, tendo como função social elevar o animal humano à cidadania.

Com o tempo passei a entender mais... a sala de aula participativa, colaborativa, dialógica é o lugar privilegiado para o exercício da função social da educação e da articulação natureza e cultura.

Vygotsky cai como uma luva para o entendimento desta dimensão valiosa da sala de aula. Assim como Paulo Freire, Dewey, Freinet e tantos outros, naquilo que tem em comum quanto ao tratamento da participação, colaboração e dialógica como centralidade na sala de aula.

Maria Teresa destacou no “texto básico” o tema da mediação do professor em Vygotsky. Está diretamente relacionado com Zona de Desenvolvimento Proximal. Em particular, aquilo que o aluno ainda não é capaz de fazer sozinho, mas que na colaboração de outros (inclusive o professor) torna-se possível.

Assim se faz o espaço privilegiado para articular natureza e cultura , biológico e histórico. Assim se faz a sala de aula capaz de contemplar a educação autêntica. Como diz ainda Maria Teresa: “Nestas condições a aprendizagem é um processo de construção compartilhada, uma construção social. O professor atua nesse processo como um mediador intervindo com o seu trabalho no desenvolvimento potencial do aluno.”

Seja na sala de aula infopobre, seja na online a mediação docente é de fato essencial. Ela tem responsabilidade direta na garantia do cumprimento da função social da educação, na perduração de Vygotsky e na esperança de todos nós.

Forte abraço,

Em resposta à Marco Silva

Re: Dedinho de prosa...

por Usuário excluído -
Professor Marco Silva, sou orientanda da professora Maria Teresa e confesso que tive algumas reservas com Vygotsky,pois estava completamente apaixonada por Bakhtin. Minha orientadora me fez perceber aquilo que você tão bem destaca em suas colocações: a importância do humano na educação, o destaque que Vygotsky dá à figura do professor, que em minha prática vejo tão desvalorizado. No grupo LIC onde encaranmos o computador e a internet como instrumentos culturais de aprendizagem, percebemos que somente a mediação humana é capaz de proporcionar a contrução de conhecimento. Dina