Assim como a Tatiana, cheguei agora ao módulo. A Méa já citou o trabalho de pesquisa que estou desenvolvendo no LEAH/PPFH/UERJ, com a Profª Eloiza Gomes. Meu referencial teórico sobre aprendizagem é basicamente apoiado em Vygotsky.
Bom, vamos às perguntas:
1. Como compreender o processo de desenvolvimento humano não apenas no que ele traz de biológico, mas principalmente nas interações com o contexto histórico-cultural?
O desenvolvimento humano é dialético em essência. Não é um processo que evolui em degraus (como colocam os cognitivistas), mas se desenvolve como uma espiral ascendente, envolvendo momentos de evolução e revolução como duas faces da mesma moeda. Esses momentos não acontecem ao homem isolado (os exemplos já dados aqui no fórum mostram isso claramente). O homem se desenvolve nas relações sociais. Gramsci (1978) afirma: "...deve-se conceber o homem como uma série de relações ativas (um processo), no qual, se a individualidade tem a máxima importância, não é todavia o único elemento a ser considerado. A humanidade que se reflete em cada individualidade é composta de diversos elementos: 1) o indivíduo; 2) os outros homens; 3) a natureza. Mas o segundo e o terceiro elementos não são tão simples quanto poderia parecer. O indivíduo não entra em relação com outros homens por justaposição, mas organicamente, isto é, na medida em que passa a fazer parte de organismos, dos mais simples aos mais complexos”. (p.39).
Em Vygotsky, a preocupação com a aprendizagem é fundamental, pois para ele aprendizagem não é desenvolvimento, mas “...o aprendizado adequadamente organizado resulta em desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos de desenvolvimento que, de outra forma, seriam impossíveis de acontecer. Assim, o aprendizado é um aspecto necessário e universal do processo de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente organizadas e especificamente humanas”. (VYGOTSKY, 1998, p.118). Assim, como já foi colocando no 1º fórum, o professor e a escola têm papel fundamental no desenvolvimento das crianças (e eu ampliaria: “para a formação humana”).
2. A minha inquietação é em relação a mediação no contexto virtual culturalmente diversificado com a teoria historica-cultural de Vygotsky. Como atingir o desenvolvimento humano nessa concepção e nesse contexto?
Se acreditamos que a tecnologia pode potencializar a comunicação a distância, acreditamos em troca, em diálogo. Se isso é possível, a mediação tb é. Talvez não a mediação feita com as crianças, que exige a construção do espaço-tempo, do brinquedo e da linguagem, de conceitos espontâneos e científicos, mas, considerando que o ser humano constrói dialeticamente ao longo da vida seu conhecimento, e abordando a educação online como formação humana, acredito que a mediação é possível.
Em outro momento perguntaram se as interfaces podem ser mediadoras, acredito que são instrumentos que podem mediar o conhecimento, posto que são pensadas por outros sujeitos que procuram manter um "diálogo" com o usuário. Assim como a obra de arte precisa dos seus admiradores, as interfaces informáticas não têm sentido sem seus usuários. É para eles que se pensa no desenho didático (ver Ecivaldo Matos - IHC).
Referências Bibliográficas:
GRAMSCI, Antonio. Problemas de Filosofia e História - O que é o homem? In: Concepção dialética da história. 3 ed. Trad. Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.
VYGOTSKY, Lev Semenovich. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 1998.