Estou saboreando este fórum! Cada gomo dessa laranjamaçã surreal tem o seu caldo. Interessante registrar a mobilização da Ana Paula, tentando fazer o mapeamento daquilo que está sendo chamado de "delírio coletivo".
Alias, Marcelo gostou da expressão do José Rosa. Eu acho forte demais... Admiro o delírio como expressão crítica. Os surrealistas e muito antes deles Bosh e Bruegel foram mestres nisso. Gosto sempre de me perder no "jardim das delícias". Seu delírio conforta minha lucidez.
Gosto de me perder até mesmo numa pequena maçaborboleta ou laranjamaçã... Elas elevam a inquietação crítica do meu juízo
e me instigam a saborear o delírio crítico na arte e na vida. Entretanto, insisto: ainda não estamos delirando neste fórum. Vejo falas equilibradas e bem comportadas pontuando reflexões comedidas provocadas pela laranjamaçã capciosamente proposta pela equipe Unesp. Delírio não é isto. Delício é o seguinte:
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Psiq. Distúrbio de julgamento devido a alteração global da consciência da realidade e que, em face de um raciocínio correto, não se modifica, ou pouco se modifica.
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Transporte, êxtase, arrebatamento.
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Imoderada excitação do espírito; agitação, desvairamento.
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Entusiasmo extremo; exaltação.
O que vejo é uma provocação ao estilo dos surrealistas aqui muito bem resgatada pela laranjamaçã. E, o mais curioso, a provocação vem do pessoal da matemática... rsrsrs... nos convidando a desarrumar nossos paradigmas baseados na certeza e na separação como pretensões de um olhar ordenador do mundo.
Marcelo nos convida à idéia de que "é mais importante descrever o que se vê.. do que se nomear algo laranja ou maçã..."
Ricardo acredita que "É importante entendermos que não existe uma realidade pura, absoluta, ou imutável. O mesmo com as verdades... Torna-se coerente pensarmos que existem realidades, verdades, versões de acontecimentos. Um dos papeis fundamentais do pesquisador é justamente buscar entendimentos sobre estas realidades."
Cada um com sem ponto de vista crítico, mas nada delirante ou mesmo surrealista. Surrealismo é o movimento artístico caracterizado pelo desprezo das construções refletidas ou dos encadeamentos lógicos e pela ativação sistemática do inconsciente e do irracional e do sonho. Nada disto vejo aqui neste módulo.
O que vejo é uma vontade bem-vinda de formação do olho e do coração do pesquisador que irá pesquisar no cenário dos relógios moles.
Esse pesquisador não tem mais ilusões, ingenuidades. Ele sabe que a realidade não tem a pureza da maçã ou da laranja orgânicas. Ela é mole... ela escorrega entre os dedos em riste da lógica sisuda.
Ainda assim, o pesquisador precisa de metodologia e a Mirian Goldenberg indicada pela equipe Unesp não deixa ninguém delirar. Para ela o pesquisador deve ter ética, curiosidade, interesse real, empatia, paciência, paixão, equilíbrio, humildade, flexibilidade, iniciativa, disciplina, clareza, objetividade, criatividade, concentração, delicadeza, respeito ao entrevistado, facilidade para conversar com outras pessoas, tranqüilidade e organização, como também: bom domínio da teoria, escrever bem, relacionar dados empíricos com a teoria, domínio das técnicas de pesquisa, experiência com pesquisa, etc. Para ela, todas essas qualificações e qualidades são indispensáveis, praticamente. E as principais etapas da pesquisa científica são:
- Formulação de um tema de estudo;
- Construir o projeto de pesquisa;
- Concepção de um tema de estudo;
- Delimitação do objeto;
- Coleta de dados;
- Apresentação do relatório com os resultados;
- Aplicação dos resultados.
Essa metodologia não permite delírio ou desprezo das construções refletidas ou dos encadeamentos lógicos e favor da ativação sistemática do inconsciente, do irracional e do sonho. Ela exige jogo de cintura diante dos relógios moles, diante da laranjamaçã e da maçãborboleta. E mais do que tudo isso, ela não tem força alguma sem a ironia e a crítica do jardim das delícias.
abrs,