Neste texto o termo “desterritorialização” está baseado no conceito de civilidade desterritorializada, referindo-se ao vínculo social criado entre elementos de uma comunidade virtual de aprendizagem apresentado por P. Lévy (1997) – Cyberculture, Rapport au Conséil d LÉurope. Paris. Editions Odile Jacob / Editions du Conséil DÉurope.

Com o desenvolvimento dos sistemas hipertexto e, mais tarde, da World Wide Web, os tradicionais limites espaciais e temporais para a transmissão de conhecimento ficaram, em teoria, ultrapassados. As potencialidades oferecidas à educação por estes desenvolvimentos tecnológicos passam agora por um conhecimento flexível, não-linear e contextualizado. Cada vez menos a Web e os ambientes hipertexto têm que ser vistos, como muitas vezes o são, como um gigantesco repositório de informação, cuja grande virtude é o fácil e rápido acesso, ou, como refere Dias (2004: 23) (…) uma montra digital ou painel de conteúdos. Simples apoio à educação presencial, sequencial e positivista.

A aprendizagem, nestes novos contextos, não mais precisa estar dependente de uma hora marcada para a aprendizagem de conteúdos específicos que obrigam à presença simultânea de todos os sujeitos. Necessita, no entanto de outros elementos fundamentais ao seu sucesso: partilha de interesses e trabalho colaborativo. Neste plano, as estratégias colaborativas dependem de uma abordagem educacional na qual alunos e professores (mediadores) se situam num mesmo nível, trabalhando em conjunto na construção de aprendizagens e desenvolvimento de conhecimento (Dias, 2004).

Assim, estão criadas as condições para o surgimento das comunidades (virtuais) de aprendizagem. Estas podem ser definidas como agrupamentos sociais que emergem da Web quando são estabelecidas redes de interacções mediadas por computador entre os sujeitos, orientadas pela partilha e interesses e com a duração suficiente para criarem vínculos no ciberespaço (Rheingold, 1994; Dias, 2000). Tal não significa, no entanto, que desapareça o trabalho individual. Este é fundamental. Da contribuição e discussão entre diferentes indivíduos, que partilham interesses comuns é que o conhecimento de constrói mais facilmente e sob uma perspectiva crítica e contextualizada. Como refere Dias (2004:29) «As aprendizagens nos ambientes multidimensionais, flexíveis e de comunicação em rede caracterizam-se pela dinâmica dos processos de envolvimento e partilha de interesses e ideias, pela exposição e confronto das compreensões individuais com a dos restantes membros da comunidade, transformando as práticas de interacção social em práticas de interacção colaborativa e representação distribuída».

Os ambientes WWW e de realidade virtual alteraram as formas de comunicação humana. Não só alteraram as formas de comunicação, como também operaram alterações nos próprios sujeitos comunicativos. Os exemplos mais evidentes destes meios sintéticos e de imersão (Dede, 1995) proporcionam a criação das já referidas comunidades virtuais. As novas formas de pedagogia, fazendo uso destes media, transformaram a tradicional educação a distância – que simplesmente replicava os sistemas presenciais, ultrapassando algumas barreiras de tempo/ espaço – num novo paradigma educativo: aprendizagem distribuída (distributed learning) (Dede, 1995). A tradicional educação a distância era semelhante aos ambientes criados em sala de aula, com a diferença que utilizava sistemas tecnológicos para a transmissão de informação. No modelo pedagógico de aprendizagem distribuída as redes de conhecimento complementam os professores, textos, bibliotecas e outras fontes de informação; as interacções em realidade virtual complementam as interacções presenciais nas salas de aula e as simulações em realidade virtual exploram o learn by doing, como apropriação da realidade para a construção de conhecimento (Dede, 1995).

As comunidades virtuais são elemento fundamental para o desenvolvimento da aprendizagem distribuída. Sabemos que o conhecimento é construído mais facilmente através do debate de ideias e experiências; as comunidades virtuais proporcionam isso, sem a barreira de espaço nem tempo. Mais, pela porta da Internet, podemos estar simultaneamente em diferentes lugares ao mesmo tempo, com acesso a informações vindas de lugares longínquos. A noção de espaço e tempo é, mais do que nunca, relativizada.

Provavelmente o futuro passará pela implementação de um modelo híbrido de educação a distância e presencial, com papéis de professor e aluno modificados e ajustados às necessidades educativas e de sociedade inseridas em novos contextos:

“Querida”, confidenciei-lhe, “penso que o mundo é plano”. (…) E como é que cheguei a esta conclusão? (…) Porque se o mundo se está a tornar plano significa que estamos agora a conectar todos os centros de conhecimento do planeta numa única rede global; o que (…) poderá prenunciar uma espantosa era de prosperidade inovação, colaboração para as empresas, comunidades e indivíduos. (Thomas Friedman, 2006, O Mundo é Plano)