O educador Paulo Freire[1] insistiu chamando a atenção dos professores para o problema da transmissão quando dizia: “A educação autêntica não se faz de ‘A’ para ‘B’ ou de ‘A’ sobre ‘B’, mas de ‘A’ com ‘B’”. Para ele, “ensinar não é transmitir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”. No entanto, pouco se tem feito para modificar a sala de aula centrada no falar-ditar do mestre ou na pedagogia da transmissão, até mesmo entre aqueles que se inspiram na obra do saudoso educador.

Há, afinal, o peso da tradição assim formulada por Pierre Lévy[2]: “a escola é uma instituição que há cinco mil anos se baseia no falar-ditar do mestre”. Tradicionalmente os professores vêm reproduzindo a sala de aula centrada na transmissão de informações. Tradicionalmente ela é identificada com o ritmo monótono e repetitivo associado ao perfil de um aluno que permanece demasiado tempo inerte, olhando o quadro, ouvindo récitas, copiando e prestando contas.

Até mesmo a educação a distância na web se mantém apegada ao velho modelo da transmissão. E assim, subutiliza a tecnologia digital que transcende a transmissão definindo-se como interatividade. Como diz Paulo Blikstein[3], “reproduz-se o mesmo paradigma do ensino tradicional, em que se tem o professor responsável pela produção e pela transmissão do conhecimento. Mesmo os grupos de discussão, os e-mails, são formas de interação muito pobres. Os cursos pela internet acabam considerando que as pessoas são recipientes de informação. A educação continua a ser, mesmo com esses aparatos tecnológicos, o que sempre foi: uma obrigação chata, burocrática”.

Tendo em vista tais desafios à educação e à comunicação, o site convida ao debate sobre nosso tempo marcado pela transição da lógica da transmissão, própria da mídia de massa e da escola, para a interatividade própria das tecnologias digitais.

O site convida ao debate muito atento ao fato de que essa transição requer reposicionamento dos agentes do processo de comunicação – e aí particularmente os educadores, os professores – acostumados com o modelo da transmissão. Afinal, está em questão a educação do novo espectador ou da “geração digital” (Dom Tapscott[4]), aquela que migra da tv para internet, que é menos passiva à emissão fechada e foge do modelo de recepção clássico preferindo a interatividade da web e dos games.

 

[1] Paulo Freire. Pedagogia do oprimido, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978, p. 98. E, Pedagogia da autonomia, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998, p. 52.
[2] Pierre Lévy. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1993, p. 8.
[3] Paulo Blikstein. “Novas tecnologias podem limitar e esvaziar o homem”. Jornal do Brasil, 18/02/01 (Caderno Educação e Trabalho), p. 1s.
[4] Dom Tapscott. Geração digital: a crescente e indubitável ascensão da geração net. Trad. R. Bahr... São Paulo: Makron Books, 1999.
Última atualização: quarta-feira, 30 mar 2011, 01:39