Há, certamente, a banalização decorrente do seu uso indiscriminado como argumento de venda. No entanto, o adjetivo “interativo” qualifica oportunamente a modalidade comunicacional emergente no último quarto do século XX. Qualifica a nova relação emissão-mensagem-recepção, diferente daquela que caracteriza o modelo unidirecional próprio da mídia de massa (rádio, cinema, imprensa e tv) baseado na transmissão.

O termo “interatividade” apareceu na década de 1970 entre críticos da mídia unidirecional de massa. E ganhou destaque quando adotado por informatas que buscavam um termo específico para exprimir a novidade do computador que substitui as herméticas linguagens alfanuméricas pelos ícones e janelas conversacionais que permitem interferências e modificações na tela. Portanto, interatividade não é meramente um produto da tecnicidade informática. O conceito tem raízes na arte participacionista da década de 1960 e na virada do século 20 para o 21 se apresenta como tendência geral, como novo ambiente comunicacional em nosso tempo, como novo paradigma que pode substituir o paradigma da transmissão próprio da mídia de massa.

A transmissão, emissão separada da recepção, perde sua força na “era da informação” ou na “era digital”, quando está em evidência a imbricação de pelo menos três fatores: 1) novas tecnologias informáticas conversacionais, isto é, a tela do computador não é espaço de irradiação, mas de adentramento e manipulação, com janelas móveis e abertas à múltiplas conexões; 2) estratégias dialógicas de oferta e consumo envolvendo cliente-produto-produtor; 3) o novo espectador, menos passivo perante a mensagem mais aberta a sua intervenção, aprendeu com o controle remoto da tv, com o joystic do videogame e agora aprende como o mouse.

Na era da interatividade ocorre a transição da lógica da distribuição (transmissão) para a lógica da comunicação (interatividade). Isto significa modificação radical no esquema clássico da informação baseado na ligação unilateral emissor-mensagem-receptor.

O emissor não emite mais no sentido que se entende habitualmente, uma mensagem fechada, ele oferece um leque de elementos e possibilidades à manipulação do receptor.

A mensagem não é mais “emitida”, não é mais um mundo fechado, paralisado, imutável, intocável, sagrado, ela é um mundo aberto, modificável na medida que responde às solicitações daquele que a consulta.

O receptor não está mais em posição de recepção clássica, ele é convidado à livre criação e a mensagem ganha sentido sob sua intervenção.

Atentos a essa mudança, empresários da informática e informatas reconhecem a demanda social por interatividade e anunciam o aprimoramento das tecnologias interativas. Eles prometem uma nova geração de aplicativos para a Internet com funcionamento relativamente simples e preço acessível, prevendo que até meados desta década mais da metade da população mundial usará algum aparelho conectado à Web. Garantem maior integração de diferentes funções (vídeo, áudio, texto e interatividade) num terminal capaz de enviar, receber e tratar a informação. E vislumbram a possibilidade do usuário interagir em tempo real com alguém, como em uma videoconferência, ou vincular mídias clássicas como tv, cinema, rádio e imprensa à interatividade da Internet. Tais promessas, garantias e esperanças, acenam para um futuro interativo quem nem sempre incluirá o infopobre, o sujeito excluído do ciberespaço, mais exatamente uma grande parcela da população mundial que ainda não têm acesso nem ao telefone.

Todavia, a transição da distribuição para a interatividade é divisor de águas extremamente oportuno e muito bem-vindo. Ela exige novas estratégias de organização e funcionamento da mídia clássica e redimensionamento do papel de todos os agentes envolvidos com os processos de informação e comunicação. Do mesmo modo, exige a modificação da base comunicacional que faz da sala de aula tão unidirecional quanto a mídia de massa.

Última atualização: quarta-feira, 30 mar 2011, 01:42