Capítulo 3 – A Construção e o Uso de Mapas Conceituais

Site: Sala de Aula Interativa
Curso: Projeto: Formação de professores para docência online
Livro: Capítulo 3 – A Construção e o Uso de Mapas Conceituais
Impresso por: Usuário visitante
Data: quinta-feira, 21 nov 2024, 07:31

3.1 – Os Benefícios do Uso dos Mapas Conceituais

São vários os benefícios do uso dos mapas conceituais, tanto no uso pedagógico quanto empresarial.

No âmbito educacional (enfoque desse trabalho), eles podem ser usados por professores e alunos e é amplamente reconhecido na literatura que eles:

  • Promovem a aprendizagem ativa – julgamento, reflexão, revisão e pensamento crítico;
  • Lidam com o gênio criativo em todos os níveis de QI, estimulando os dois lados do cérebro, o analítico e o criativo;
  • Ajudam os alunos a atingir um nível mais alto de cognição.  O conhecimento organizado (e não amontoado) facilita a assimilação, a retenção e a recuperação da informação;
  • Proporcionam uma maneira fácil de verificar o que está sendo ensinado/aprendido, ajudando os alunos a avaliar sua aprendizagem;
  • Ajudam a identificar concepções equivocadas, revelando falhas na compreensão;
  • Promovem o pensamento reflexivo e a meta-cognição;
  • Facilitam a comunicação e o compartilhamento de compreensões/conhecimento entre alunos ou grupo de alunos;
  • Permitem a criação de estruturas de conhecimento facilitando a utilização deste conhecimento em novos contextos;
  • Promovem a aprendizagem visual, ajudando a processar a informação para a memória de longo prazo.  (A representação visual ordenada e estruturada [desenho de caixas e setas] contribui para a retenção do conteúdo ajudando significativamente no processo de aprendizagem dos alunos, pois possibilita que a informação passe da memória de curto prazo - ou memória imediata [que tem um limite de capacidade de processamento de apenas cinco a nove unidades], para a memória a longo prazo);  
  • Podem ser usados em turmas mistas, gerando uma atmosfera de crescimento positiva entre os alunos e uma melhora na participação e na concentração.  (Os alunos com mais dificuldade levam mais tempo para produzir seus mapas e em geral sua produção é mais simples, com menos palavras chaves e menos interligações de conceitos. Por outro lado, os alunos mais talentosos, rápidos e conhecedores do assunto, produzem mapas mais detalhados, com maior número de interligações, ancorando conceitos novos a conceitos previamente adquiridos);
  • Proporcionam prática em análise ordenada da informação: conceito inclusor mais importante X tópicos principais X detalhes de apoio;
  • Proporcionam desenvolvimento lingüístico: conceitos/substantivos nas caixas X verbos, locuções verbais, preposições e palavras/frases de ligações nas linhas (os advérbios podem ser incluídos tanto nas caixas quanto nas linhas);
  • Promovem o ensino baseado em tarefas, o ensino baseado em resolução de problemas (ou descobertas), o ensino com pesquisa, a aprendizagem significativa, a construção do conhecimento e a aprendizagem colaborativa;
  • Promovem o desenvolvimento das habilidades intelectuais e estratégicas para o aluno aprender a aprender, a aplicar conhecimentos em contextos diversos (saber solucionar problemas), aprender a pensar, tornando-se um aluno independente, autônomo, criativo e responsável;
  • Promovem mudança do paradigma da aprendizagem memorística ou mecânica para o da aprendizagem significativa.

A lista acima não pretende ser exaustiva e as idéias relacionadas não estão em ordem de importância.

Observamos que o uso dos mapas conceituais vem se consolidando cada vez mais no âmbito educacional e empresarial e a cada pesquisa e trabalho publicado torna-se mais evidente a dimensão de seus benefícios.

3.2 – A Construção dos Mapas Conceituais

Os mapas conceituais são relativamente fáceis de construir: eles são compostos por substantivos ou conceitos escritos em diagramas, como retângulos ou círculos, que são organizados de uma maneira hierárquica (do mais geral em cima ou no centro para o mais específico em baixo ou nas pontas) e ligados entre si por uma palavra ou frase de ligação, verbo, locução verbal ou preposição, revelando o vínculo entre eles.

Para construir mapas conceituais os alunos devem se esforçar para:

  • identificar os conceitos importantes,
  • explicá-los,
  • relacioná-los entre si de uma forma organizada e hierárquica, usando sua criatividade.

Os mapas conceituais podem ser construídos utilizando vários tipos de recursos:

  • usando uma folha de papel A4 (ou A3) e lápis;
  • escrevendo os conceitos em pedaços de papel para facilitar a recolocação e reestruturação, organizando-os sobre uma folha de folha de papel A4 ou A3;
  • usando a função “autoformas” do seu editor de textos;
  • usando um software dedicado.

Passos para sua construção do mapa conceitual:

  • Fazer a leitura do texto de estudo para a compreensão geral (ou selecionar o conteúdo a ser mapeado se o mapa for gerado a partir de uma tempestade de idéias);
  • Escolher e destacar (ou listar, se estiver fazendo o mapa a partir de uma tempestade de idéias) cerca de 15 conceitos principais do texto, conceitos que, na opinião do aluno, não poderiam faltar se estivessem fazendo um resumo do texto.  (Como alternativa, pode-se pedir que os alunos listem de memória os conceitos principais e secundários, sem consultarem o texto);
  • Agrupar os conceitos (que podem ser compostos por cerca de 3 palavras) de acordo com uma lógica semântica e organizá-los em uma estrutura hierárquica, do mais geral para o mais específico.  O conceito mais inclusor deve ser selecionado para título/ponto de partida do mapa, pois todos os outros conceitos irão se desdobrar desse (se a questão/problema a ser respondida não for muito extensa poderá ser usada como o conceito mais inclusor);
  • Quando estiver satisfeito com o agrupamento e hierarquização desses conceitos, devemos ligá-los com palavras ou frases de ligação que explicam a relação entre eles, prestando atenção para que os conceitos não sejam repetidos.  As unidades de significado formadas por conceito + palavra/frase de ligação + conceito são chamadas de proposições; 
  • Procurar ramificar os galhos/pernas a cada nível hierárquico, não se preocupando com a simetria do mapa;
  • Procurar estabelecer ligações cruzadas, isto é, ligar conceitos de galhos diferentes;
  • Usar setas para indicar se uma ligação cruzada deve ser lida da direita para a esquerda (ou vice-versa) ou para indicar uma ligação em sentido/fluxo contrário, isto é, de baixo para cima;
  • Quando acabar, avaliar seu próprio mapa lendo-o em voz alta, prestando atenção à clareza dos conceitos, ao significado expressado pelas ligações estabelecidas entre os conceitos, bem como ao fluxo das idéias; 
  • Se o mapa estiver sendo criado a partir de um texto escrito, o professor pode pedir ao aluno que acrescente cerca de cinco conceitos seus ao mapa, relacionando-os aos conceitos já mapeados, promovendo assim maior ancoragem e integração do conhecimento novo com o conhecimento prévio. 

É natural que no início alguns alunos se sintam desconfortáveis com a construção de mapas conceituais, pois eles promovem uma mudança na maneira que eles estudam.

Ao invés de lerem um texto de uma maneira linear os alunos devem explorá-lo de forma a organizar a informação em grupos semânticos.

Os alunos também precisam pensar em uma forma de hierarquizar as informações do texto, buscando os conceitos principais e detalhes de apoio, e aprender a fazer ligações entre conceitos que se encontram longe uns dos outros no texto (reconciliação integrativa).

A construção de um mapa a partir de um texto transforma a leitura desse texto em uma tarefa ativa, promovendo seu criador “de leitor passivo a descobridor” [1] (PELLEY, 2004) que, além de se esforçar para compreender o texto na sua micro estrutura (como palavras novas, verbos, preposições e sintagmas nominais), precisa buscar compreendê-lo na sua macro estrutura para formar grupos semânticos e estabelecer relações cruzadas.

É natural que os primeiros mapas dos alunos sejam mais simples e tenham uma forma linear sem ramificações interessantes.

À medida que a técnica for praticada, os mapas tenderão a expandir tanto para a vertical quanto para a horizontal.

[1] - PELLEY, John W., Concept Mapping:  A Tool for both Sensing and Intuitive Learning Styles. School of Medicine, Health Science Center, Texas Tech University.  Disponível em http://www.ttuhsc.edu/SOM/Success/Concept%20Mapping%20for%20types.pd acessado em 10.02.2004.

3.3 – Como Trabalhar com Mapas Conceituais

Após o mapa ter sido construído individualmente, ele pode ser trabalhado colaborativamente.

Reunindo-se em grupos de 2 ou 3 colegas, os alunos devem ser incentivados a trocar idéias, comparar proposições, questionar uns aos outros sobre a inclusão ou não de determinados conceitos, pois a “argumentação favorece o desenvolvimento da estrutura cognitiva do aluno, contribuindo para que a aprendizagem significativa aconteça” [1] (CONLON, 2004, p. 164).

É importante lembrar que um mapa representa o conhecimento de quem o faz num determinado instante.

[2] Moreira nos diz que “mapas conceituais – tanto do aluno como do professor - têm significados pessoais” e explica que “um mapa conceitual é um instrumento dinâmico” (1997, p. 5 & 8).

A medida que ocorre a compreensão de novos conteúdos, o mapa deve ser revisto para que esses novos conceitos possam ser incorporados.

Abaixo temos a resposta elaborada por uma criança de 10 anos para o problema: “Como ganhar um jogo de xadrez com facilidade?”

mapas

Pode-se observar que essa criança escolheu colocar o conceito mais inclusor (o problema a ser resolvido) no centro e na parte de cima da área do mapa.

Os outros conceitos foram organizados hierarquicamente abaixo desse, gerando galhos (ou pernas).

Apenas um galho é simples, isto é, não possui nenhuma bifurcação (o último galho da esquerda para a direita).

Os demais galhos possuem duas, três ou até quatro ramificações de onde se originam os outros conceitos.

Esse mapa apresenta uma hierarquia (tópicos principais como: “concentração”, “armadilhas”, “contra-ataque”, “erros”, seguidos de detalhes de apoio como “com calma”, “cravar peças”, “cavalo cheque”) e também demonstra criatividade na integração de conceitos criando ligações cruzadas (“concentração” / “para não fazer” / “lances impossíveis”; “concentração” / “para não cair em” / “armadilhas”; e “concentração” / “para não sofrer” / “contra-ataque”).

A leitura do mapa é feita a partir do título e, apesar da maneira de exibição sugerir uma ordem de leitura do mapa (“é preciso”, “é preciso fazer”, “não pode cometer”, “é preciso mexer”), não existe uma maneira “fixa” ou “correta” de lê-lo.

Deve-se apenas tomar o cuidado de ler cada galho até o final antes de se passar para a próxima ramificação.

Em sala de aula, sempre que possível, a leitura deve ser feita em voz alta pelo seu criador.

Quando conceitos importantes não são incluídos num mapa, os motivos podem ser: seu criador pode não ter considerado a informação importante ou tê-la julgado redundante por já dominá-la (ou não); por não ter compreendido tal conceito/informação; ou por pressa, cansaço e até mesmo dificuldade em encontrar a palavra de ligação correta para ligá-la a um conceito, pois, como vimos anteriormente, as palavras/frases de ligação revelam a compreensão de como esses conceitos estão relacionados.

[1] - COLON, Tom.  ‘But is our Concept Map any good?’:  Classroom experiences with the Reasonable Fallible Analyser. In A. J. Cañas, J. D. Novak & F. M. Gonzáles (Eds.), Concept Maps: Theory, Methodology, Technology.  Proceedings of the First International Conference on Concept Mapping (Vol. I). Pamplona: Universidad Pública de Navarra, 2004.
[2] -
MOREIRA, Marco Antonio. Mapas Conceituais e Aprendizagem Significativa. 1997 Disponível em http://www.if.ufrgs.br/~moreira/mapasport.pdf , acessado em 04.02.2005