Capítulo 1 - Bases Teóricas da Cartografia Cognitiva e Investigativa
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Livro: | Capítulo 1 - Bases Teóricas da Cartografia Cognitiva e Investigativa |
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Data: | quarta-feira, 4 dez 2024, 05:30 |
Descrição
Referência dos capítulos:
TORRES, Patrícia Lupion; MARRIOTT, Rita de Cássia Veiga. Tecnologias educacionais e educação ambiental: uso de mapas conceituais no ensino e na aprendizagem. Curitiba: FAEP, 2005.
1.1 O que são Mapas Conceituais?
Os Mapas Conceituais são recursos didáticos que representam a informação de forma visual e são usados tanto no contexto educacional quanto no empresarial.
1.2 O surgimento dos Mapas Conceituais
Os Mapas Conceituais foram desenvolvidos por Joseph Novak e sua equipe em 1972 durante um trabalho de pesquisa que envolveu: 191 crianças em 5 escolas publicas de Ithaca, NE, EUA. A pesquisa de Joseph Novak teve início em 1971 e desenvolveu-se ao longo de 12 anos acompanhando o desenvolvimento cognitivo de crianças entre 6 e 8 anos de idade, que estavam no início do ensino fundamental e que foram acompanhadas até o seu último ano na escola, antes de entrarem na Universidade.
Joseph Novak e sua equipe sentiram a necessidade de desenvolver uma ferramenta, fundamentada nos princípios teóricos de Ausubel e Vygotsky, que facilitasse o acesso as informações coletadas nas entrevistas gravadas e que pudesse representá-las de uma forma clara e resumida.
A técnica de selecionar os conceitos chaves das entrevistas e transcrevê-los construindo uma estrutura hierárquica gerou a ferramenta conhecida hoje por Mapas Conceituais.
Por meio de um Mapa Conceitual, o conteúdo de entrevistas de 20 páginas pôde ser representado visualmente e expresso em apenas uma página.
Por meio de um Mapa Conceitual é possível observar quando os conceitos são apreendidos na prática, isto é, por meio de aprendizagem significativa, pois tais mapas refletem um maior número de relações cruzadas e criativas com conceitos já existentes.
Essa descoberta mudou o programa de pesquisa de Joseph Novak e sua equipe: os mapas conceituais passaram a ser sistematicamente usados como a ferramenta para representar o desenvolvimento da compreensão dessas crianças e foram reconhecidos, nesse e em outros projetos (Ruiz-Primo & Shavelson, 1996; Shavelson & Ruiz-Primo, 2000; Kankkunen, 2001), como uma técnica poderosa e confiável para representar o conhecimento.
1.3 Fundamentações Teóricas dos Mapas Conceituais
Os Mapas Conceituais encontram originalmente fundamentação nas teorias de Ausubel e Vygotsky. Joseph Novak conta ter sido influenciado pelas idéias de Ausubel quanto ao desenvolvimento cognitivo e que o princípio fundamental tomado por ele e sua equipe encontra-se na epígrafe do livro escrito por [3] Ausubel em 1968. Se eu tivesse que resumir toda a psicologia educacional em um só princípio, eu diria o seguinte: o fator único mais importante que influencia a aprendizagem é o que o aluno já sabe. Descubra isso e o ensine de acordo. |
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O primeiro princípio da Teoria de Assimilação de Ausubel que norteou os trabalhos desenvolvidos por Joseph Novak é de que o desenvolvimento de novos significados seja construído sobre conceitos e proposições relevantes pré-existentes.
O segundo princípio da Teoria de Assimilação é o da crença de que a estrutura cognitiva seja organizada hierarquicamente, com conceitos mais gerais e inclusivos em níveis mais altos da hierarquia e os mais específicos e menos inclusivos abaixo daqueles.
E o terceiro da Teoria de Assimilação é que quando o aluno aprende de uma maneira significativa as relações entre os conceitos se tornam mais precisas e melhor integradas com outros conceitos e proposições [1] (NOVAK, 2004, p. 460).
Com base nesses princípios, existem três condições para que a Aprendizagem Significativa ocorra:
1 - os tópicos do conteúdo a ser estudado devem ser desenvolvidos e relacionados entre si numa seqüência organizada, isto é, não arbitrária;
2 - o aluno deve querer aprender, tem que ter algum motivo pelo qual se esforçar;
3 - o material deve ser potencialmente significativo, isto é, não deve estar num nível muito acima ou ser sobre um assunto totalmente desconhecido que impeça a ancoragem na sua estrutura cognitiva. [1] (NOVAK, 2004).
Para que a técnica da construção de mapas conceituais promova a aprendizagem significativa, ela necessita ir ao encontro de três condições:
1 - os conceitos da matéria a ser aprendida devem ser apresentados claramente, relacionando a linguagem e os exemplos ao conhecimento prévio do aprendiz;
2 - o aprendiz precisa já possuir conhecimento prévio relevante;
3 - o aprendiz precisa optar por aprender de maneira significativa para que possa incorporar novos sentidos e não apenas memorizá-los. [2] (NOVAK 2003)
As idéias de Vygotsky dão sustentação ao uso dos mapas conceituais, a construção do conhecimento e a influência da interação social para o desenvolvimento potencial do aluno.
[1] - NOVAK, Joseph. I). Pamplona: Universidad Pública de Navarra, 2004.
[2] - NOVAK, Joseph D. The Theory Underlying Concept Maps and How To Construct Them. Cornell University, 2003, disponível em http://cmap.coginst.uwf.edu/info/ acesso em 20.08.2003.
[3] - AUSUBEL, D. P. Educational Psychology: A Cognitive View. New York: Holt, Rinehart and Winston, 1968.
1.4 Os Mapas Conceituais e a Construção do Conhecimento
[1] MESQUIDA (2000) explica que no processo de aprendizagem a construção do conhecimento é uma atividade interativa, “pois a criança ao compreender não incorpora simplesmente conteúdos prontos, mas age e reage em um processo de redescoberta, de re-criação, de reconstrução” (p. 104). Para que os mapas conceituais promovam a construção do conhecimento, deve-se ter um material potencialmente significativo, isto é, relacionável e incorporável a base de conhecimento do aprendiz. |
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Com relação à influência da interação social para o desenvolvimento das capacidades dos alunos, Vygotsky acredita na existência da Zona Desenvolvimento Potencial (ZPD), que ele define como:
a distância entre o nível de desenvolvimento cognitivo real do indivíduo, tal como medido por sua capacidade de resolver problemas independentemente, e o seu nível de desenvolvimento potencial, tal como medido através da solução de problemas sob orientação (de um adulto, no caso de uma criança) ou em colaboração de companheiros mais capazes [2] (VYGOTSKY, 1988, p. 97 citado por MOREIRA, 2003, p. 116)
O professor, atuando como mediador, deve identificar o conhecimento prévio do aluno e oferecer oportunidades para que a aprendizagem pela interação ocorra pelo relacionamento com colegas com habilidade, compreensão ou conhecimento num nível acima do seu, incentivando-o e ajudando-o a ir além, desenvolvendo sua autoconsciência e autonomia.
Recentemente, alguns trabalhos têm associado a construção de Mapas Conceituais à Epistemologia Genética de Piaget (teoria então desconhecida de Novak por ocasião do início de seu projeto em 1965).
Para Piaget, o processo de conceitualização implica em uma construção bem mais complexa a ser explicada: o novo conceito não apenas “ancora” no conceito subsunçor (estrutura cognitiva preexistente) do aluno, mas pode gerar “desequilíbrios nos sistemas de significação do sujeito” [3] (DUTRA, FAGUNDES & CAÑAS, 2004) num processo que exige busca de novas relações que integram e modificam as anteriores. |
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Dessa forma, a organização hierárquica é, também, um resultado desse processo e não um requisito à priori, como parecem acreditar Ausubel e Novak.
A construção de mapas conceituais, fundamentada nas teorias de Ausubel, Vygotsky e mais recentemente na de Piaget, é uma atividade que tem o potencial de ativar o uso do conhecimento prévio e estimular o desenvolvimento cognitivo e criativo dos alunos.
A construção de mapas conceituais atribui aos alunos maior responsabilidade no processo de construção do conhecimento ao se deparar com tomadas de decisão sobre que conceitos incluir no mapa, em que ordem, como eles devem ser ligados, e propicia a interação e o desenvolvimento de trabalhos colaborativos.
De fundamental importância é a sua contribuição para a mudança do paradigma da aprendizagem mecânica para o da aprendizagem significativa.
[1] - MESQUIDA, Peri. Piaget e Vygotski:Um diálogo inacabado. Champagnat, 2000.
[2] - MOREIRA, Marco Antonio. Teorias de Aprendizagem. São Paulo:EPU, 2003.
[3] - DUTRA, Ítalo., FAGUNDES, Lea., & CAÑAS, Alberto. Uma proposta dos mapas conceituais para um paradigma construtivista da formação de professores a distância. Disponível em http://www.emack.com.br/info/apostilas/nestor/colabora2.pdf , acessado em 13 de maio de 2004.