Livro 1: A Cibercultura e a emergência de novas práticas comunicacionais
A Cibercultura e a emergência de novas práticas comunicacionais
A sociedade do conhecimento e os desafios para a educação
A sociedade do conhecimento e os desafios para a educação[1]
Apesar da velocidade dos avanços tecnológicos, será que os professores conseguem imaginar uma sala de aula virtual numa ciberescola como a descrita por RAMAL( 2005), em 2069?
https://www.idprojetoseducacionais.com.br/artigos/Avaliar_na_Cibercultura.pdfe
Quase que imediatamente lembrei-me de outra escola, presencial, com paredes concretas, que não se encontra em ambiente virtual, mas que já fez e tem feito parte do ideário dos nossos educadores críticos brasileiros, desde os anos 60. Uma escola em que os alunos são os sujeitos da aprendizagem, uma escola colaborativa, autônoma, com um corpo de professores formados e capacitados e com um Projeto Pedagógico construído coletivamente. Uma escola onde o sistema de avaliação seria processual e a nota minimizada, porque o que vale realmente é ajudar o aluno a vencer suas dificuldades, crescer cognitiva e afetivamente e construir conhecimentos.
Constatamos, entretanto, uma enorme distância entre a escola pública brasileira que hoje temos, caótica e em crise, e aquela imaginada e defendida por tantos educadores de mérito do presente e do passado.
Em parte, me sinto um pouco cética quanto às possibilidades deste ciberespaço no que tange às mudanças profundas na escola e na educação. E vou tentar argumentar sobre este meu ponto de vista. Penso que Levy (1999), foi muito feliz quando chamou a atenção sobre o ciberespaço e a cibercultura com todo o conjunto de artefatos, atitudes, valores e modus-vendi dela decorrentes, e que se constituem, ao mesmo tempo em um remédio ou um veneno a depender do uso consciente ou não que se queira fazer da tecnologia. Essa pode servir para ajudar as pessoas a ampliarem suas informações e seus conhecimentos mas, também pode servir para a dominação ideológica, econômica e política de grupos que detêm a hegemonia econômica e se tornam cada vez mais potentes na esteira das redes de informação e comunicação eletrônica.
Porém, o problema é que não estamos lidando com novas tecnologias, mas com novos conceitos. O que está no centro da questão, a essência substantiva do nosso problema é a educação, onde a qualidade da comunicação entre os alunos e professores para possibilitar a construção do conhecimento e do espírito crítico, são os aspectos mais importantes a serem observados. Nesse sentido, a verdadeira aprendizagem necessita mais que uma simples interação possibilitada pelo uso da tecnologia.
A interatividade, portanto, pressupõe trocas interativas entre pessoas e portanto mutualidade. Essas trocas às vezes são caóticas, complexas e imprevisíveis. A interatividade, entretanto, não é uma característica do meio presencial ou virtual Depende “dos usos que cada parte da relação queira fazer’ e das posibilidades / limitações que o ambiente queira oferecer, mediatizado por ferramentas adequadas.
Cada vez mais estamos sentindo falta do sentido de comunidade sejam comunidades escolares ou comunidades virtuais de aprendizagem (AVA), pois cada vez mais estamos consolidando o individualismo, o culto à personalidade e a competitividade exacerbada.
Uma verdadeira comunidade se caracteriza pelo sentimento de pertencimento, territorialidade, permanência e sobretudo um certo sentimento corporativo, ligação em torno de um projeto comum e formas próprias de comunicação. (PALACIOS, 1998). Tanto Weber quanto Durkhein citados em Ramal (2005) defendem a idéia de se encontrar em qualquer lugar, situações de conflito e de opressão. Isto porque os dois princípios que constituem e regem a natureza humana são pólos contraditórios e paradoxais, por si mesmos: coletivo X individual; união X separação, etc. Por isso, conseguir transformar essa nova sociedade ou o ciberespaço são tarefas tão difíceis quanto desafiadoras.
Os ambientes virtuais de aprendizagem, hoje, se constituem no grande desafio para os educadores, neste início de século XXI. O desafio está em não se adotar a inovação tecnológica para dar apoio aos anacronismos da educação tradicional, mas para romper com o monopólio das tecnologias expositivas, buscando uma educação que favoreça a construção do pensamento crítico e reflexivo do alunado e o repensar de novos valores.
Precisamos, entretanto, (des)construir alguns mitos com relação a educação virtual, no que tange à organização de sala de aula por idade ou níveis homogêneos de escolaridade. Concordo com Ramal (2005), quando diz que as trajetórias são individuais e a aprendizagem deve ser personalizada. Mas por outro lado, os grupos só aparecerão e a autoria coletiva só surgirá quando as pessoas estabelecerem parcerias e construírem projetos comuns onde as competências diferenciadas emergem para o desenvolvimento de uma aprendizagem colaborativa. O currículo fragmentado, linear, que pressupõe pré- requisitos e etapas a galgar, deverá estar superado, se conseguirmos coletivamente vencer nossas barreiras individuais e epistemológicas para superação da nossa visão disciplinar na busca da interdisciplinaridade.
Quanto a professor, para mediar a aprendizagem neste ciberespaço é necessário que faça uma (re) leitura da psicologia cognitiva numa abordagem ecológica da cognição[2], situando a produção do conhecimento como resultante das múltiplas interações sujeito/ objeto/ tecnologias que são disponibilizados em determinados contextos espaço-temporais e socio-culturais. As contribuições de Deleuze e Guattari (2000) e outros, são significativas para a aprendizagem e têm implicações na aprendizagem virtual, na medida em que cunham conceitos, noções e propõem práticas que servem de subsídios para estudos sobre as relações do homem com as novas tecnologias da inteligência.
Esses autores apresentam uma tentativa de estabelecer um modelo de pensamento não linear, que abarca a multiplicidade de conexões, também chamado de pensamento em rede, compatível com a concepção do currículo em rede.
Nesta perspectiva, o eixo do processo ensino aprendizagem e o da avaliação se deslocam e se (re) definem. A avaliação não se limitará a verificação de acertos e erros mas será diagnóstica na medida em que servirá para que o educador on line ou tutor utilizem os dados do contexto para redirecionar o processo de construção de conhecimento do aluno. A avaliação nesta perspectiva cumprirá seu papel pedagógico e a nota, essa se reduzirá apenas ao papel de certificação, ainda exigido pela nossa sociedade.
Pelo exposto, a Educação online só terá possibilidade de explorar o espaço virtual como um espaço de construção de aprendizagem, cooperativo, de discussão coletiva e diálogo, se a examinarmos sob outra visão paradigmática.
Isto implica em nos (des)vestirmos de atitudes individualistas, apagarmos as nossas fogueiras de vaidades, para buscarmos na articulação e na parceria a construção de projetos coletivos de melhoria de qualidade de ensino e de vida .
A Educação Presencial ainda não conseguiu isto. Conseguirá a Educação online?
O desafio está lançado. Gostaríamos de ouvir a opinião de vocês a esse respeito....
[1] Esse texto cujo título original era: Educação a Distância, Novas Tecnologias e o Ceticismo dos Educadores foi escrito em 2004 e ficou disponível no site. http://www.olivia.pro.br( hoje em reconstrução)
[2] Globalização, Tecnologia e os Pressupostos da aprendizagem online artigo de autoria de Maria Olivia
de Matos Oliveira publicado no Livro: Educação, Tecnologias e Representações Sociais organizado por Maria de Lourdes Soares Ornellas e Maria Olivia de Matos Oliveira . Salvador: Quarteto, 2007.