Livro 1 - Insistindo em cibercultura
Fonte: http://veja.abril.com.br/especiais/jovens_2003/p_084.html
Geração pontocom
O Brasil foi até bem pouco tempo atrás um país com comunicações precárias e uma sociedade com base na vida rural. Os jovens de hoje só conhecem essa realidade pelos livros de história. Quando eles nasceram, nos anos 80, o país já tinha instalado um parque industrial grande e moderno e estava conectado por redes de comunicações e por satélites. Na década seguinte, essa modernidade se traduziu na entrada na vida da classe média urbana da mesma tecnologia disponível em países mais desenvolvidos. Para o adolescente, telefone celular, videogame, cartão eletrônico, videocassete e computador sempre estiveram presentes. O PC é um equipamento que acompanhou o jovem praticamente desde seu nascimento. Muitos foram alfabetizados digitando no teclado. Uma pesquisa conduzida com 2 098 adolescentes em sete capitais brasileiras pela consultoria CPM Research mostra que mais da metade deles sabem usar o computador e que 49% o usa regularmente na escola.
A rapidez com que novas formas de comunicação foram desenvolvidas nos últimos anos, misturando texto, som e imagem, causou uma revolução nos hábitos e costumes. A geração imediatamente anterior, nascida nos anos 70, enfrentou o desafio de crescer nos centros urbanos sem a presença da mãe, inserida no mercado de trabalho, e com os olhos grudados na telinha da TV, em atitude passiva. Em tese, pouca coisa mudou – os jovens de hoje também passam boa parte do tempo sozinhos, sem a presença de adultos. A diferença é que o computador se transformou numa babá eletrônica mais interessante que a televisão. Com a internet, o centro do mundo dessa geração, o hábito do entretenimento eletrônico passou a ser interativo e nada solitário. O adolescente pode participar de um jogo virtual com um amigo conectado do outro lado do mundo ou se comunicar com a namorada via e-mail. A internet também serve para ajudar em trabalhos escolares, baixar a música do conjunto favorito ou entrar num chat de discussão sobre o filme da moda. "O que mais me fascina no computador e na internet é a possibilidade de poder aprender sozinho", resume o estudante paulista Thiago Graziani Traue, de 16 anos, que navega pelo menos três horas por dia.
A disseminação do uso da rede de computadores já está revalorizando a linguagem escrita – o que não deixa de ser fascinante, quando se sabe que o hábito de leitura é cada vez menos freqüente, principalmente entre os jovens. A conseqüência mais visível, segundo o pesquisador americano Walter Ong, da Universidade Harvard, é o surgimento de uma "segunda alfabetização". A popularização dos programas de mensagem instantânea, como o ICQ e o Microsoft Messenger, comprova a tese de Ong. Eles funcionam como um correio eletrônico em tempo real. Basta acessar a internet e usar o programa. Além de encurtar distâncias, o diálogo é rápido, instantâneo mesmo. Alguém digita de um lado e o interlocutor, na outra ponta, recebe o recado na hora. A rapidez é codificada por sinais gráficos e pontuada por inúmeras abreviações. "Talvez" vira "tv", "demais" é digitado com um simples "D+", e assim por diante. Já existe um vocabulário próprio, embrião da nova linguagem que invade a tela dos computadores e também de celulares, palmtops e outros meios de comunicação que utilizam a linguagem escrita on-line. Apenas o ICQ conta com 150 milhões de usuários no mundo. O Brasil está entre os três países com maior número de usuários.