Livro Educação Online - Marco Silva
Apresentação
A educação a distância já tem história, mas só agora vive seu boom com a internet. Mesmo que ainda prevaleçam os suportes tradicionais (o impresso via Correio, o rádio e a tv), não há dúvida de que seu futuro promissor é online. Este livro parte dessa certeza e vem atender à crescente demanda por essa modalidade educacional agora potencializada pelas tecnologias digitais na cibercultura, na sociedade da informação.
A EAD online é exigência da cibercultura, isto é, do conjunto imbricado de técnicas, práticas, atitudes, modos de pensamento e valores, que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço, isto é: do novo ambiente comunicacional que surge com a interconexão mundial de computadores e das memórias dos computadores; principal suporte de trocas e de memória da humanidade a partir do início do século 21; novo espaço de comunicação, de sociabilidade, de organização, de informação, de conhecimento e, claro, de educação.
A EAD online é demanda da sociedade da informação, isto é, do novo contexto sócio- econômico-tecnológico engendrado a partir do início da década de 1980, cuja característica geral não está mais na centralidade da produção fabril ou da mídia de massa, mas na informação digitalizada como nova infra-estrutura básica, como novo modo de produção. O computador e a internet definem essa nova ambiência informacional e dão o tom da nova lógica comunicacional, que toma o lugar da distribuição em massa própria da fábrica e da mídia clássica, até então símbolos societários.
Cada vez se produz mais informação online socialmente partilhada, é cada vez maior o número de pessoas cujo trabalho é informar online, cada vez mais pessoas dependem da informação online para trabalhar e viver. A economia se assenta na informação online. As entidades financeiras, as bolsas, as empresas nacionais e multinacionais dependem dos novos sistemas de informação online e progridem, ou não, à medida que os vão absorvendo e desenvolvendo. A informação online penetra a sociedade como uma rede capilar e ao mesmo tempo como infra-estrutura básica. A educação online ganha adesão nesse contexto, garantindo aprendizagem na flexibilidade e na interatividade próprias da internet.
A despeito da infoexclusão generalizada e da necessidade de maior investimento financeiro, é crescente a adesão das escolas, universidades, empresas, dos gestores, professores e estudantes à educação online. E as citadas flexibilidade e interatividade próprias do computador conectado à internet são fatores determinantes desse crescimento.
De sua residência, do seu trabalho, de um cibercafé, da escola ou da universidade, em seu ritmo pessoal, o aprendiz encontra no computador conectado a possibilidade de intervenção nos fluxos de informação e nos processos de aprendizagem podendo atuar individual e colaborativamente na construção do conhecimento. Ou seja, para se fazer regularmente um curso de qualidade, interagindo com o professor, com os conteúdos de aprendizagem e com os colegas de classe, não temos necessariamente que nos deslocar para um lugar determinado.
Juntamente com essa flexibilidade espacial e temporal, o computador conectado à internet permite ao aprendiz a interatividade, isto é, diálogo, criação e controle dos processos de aprendizagem mediante ferramentas de gestão e autoria. Diferindo-se profundamente da tv enquanto máquina rígida, restritiva, centralizadora porque baseada na transmissão de informações elaboradas por um centro de produção, o computador conectado apresenta-se como sistema aberto aos interagentes, permitindo participação e intervenção na troca de informações e na construção do conhecimento.
Essas disposições próprias do computador conectado requerem, da parte das escolas, universidades e empresas, qualitativos investimentos na gestão da educação online. É preciso não subutilizar o computador conectado. Mais do que isso, é preciso garantir educação de qualidade. Curiosamente, tais disposições do computador conectado estão em sintonia com indicadores de qualidade em educação. Diálogo, troca de informações e de opiniões, participação, intervenção, autoria criativa e colaborativa são ingredientes do que há de mais essencial em educação cidadã. No entanto, é preciso investir muito na formação de gestores e de professores capazes de ousar em educação online.
Fazer educação online não é o mesmo que fazer educação presencial ou a distância via suportes tradicionais. Isso exige metodologia própria que pode, inclusive, inspirar mudanças profundas no modelo da transmissão que prevalece na sala de aula presencial infopobre. Falo em educar com base no diálogo, troca, participação, intervenção, autoria, colaboração. É certo que essa metodologia não é prerrogativa do computador conectado, mas tem nele possibilidades de potencialização.
O professor precisa preparar-se para professorar online. A pregnância histórica da pedagogia da transmissão exigirá formação continuada e profunda capaz de levá-lo a redimensionar sua prática docente tendo claro que não basta ter o computador conectado em alta velocidade de acesso e ampla disponibilização de conteúdos para assegurar qualidade em educação. Em lugar de ensinar meramente, ele precisará aprender a disponibilizar múltiplas experimentações, expressões e uma montagem de conexões em rede que permita múltiplas ocorrências. Em lugar de transmitir meramente, ele será um formulador de problemas, provocador de situações, arquiteto de percursos, mobilizador da experiência do conhecimento. Para isso contará com ferramentas ou interfaces que compõem o ambiente virtual de aprendizagem, onde acontecem interatividade e aprendizagem (fórum, chat, texto coletivo, portfolio, midiateca e videoconferência no modelo todos-todos).
Precisará, inicialmente, vencer o preconceito que já alimentava com a educação a distância em suportes tradicionais, agora ampliado com a educação online. Antes o professor desconfiava da ausência do olho-no-olho, considerado essencial no ensino e na avaliação, ou sentia-se ameaçado por qualquer tecnologia analógica cuja performance de transmissão estivesse acima da sua. Hoje ele tem a infoexclusão vitimando-o, tornando-o arredio, desabilitado, resistente, conservador e, por fim, preconceituoso diante das tecnologias digitais e da educação online.
O professor infoincluído precisará também vencer preconceitos. Permanece a desconfiança com a ausência do olho-no-olho para o ensino e para a avaliação. Todavia, há outras desconfianças por vezes procedentes. Há aquelas geradas em reação à febre mercadológica de empresas e instituições de ensino se lançando com sofreguidão em busca do mercado garantido, fácil e barato, sem assegurar aos usuários qualidade das redes disponíveis e disponibilidade de serviços de apoio ou suporte. E há também a desconfiança gerada ante a baixa qualidade dos cursos baseados na disponibilização de conteúdos fechados, à maneira da apostila eletrônica com monótonos exercícios de verificação.
Esse amplo preconceito vem dispersando ou afastando investimentos em políticas públicas, sociais e empresariais capazes de ousar em educação online. No Brasil a educação a distância ganha incentivo, valorizando igualmente os suportes tradicionais e as tecnologias digitais. Consórcios e parcerias foram criados, mas poucos avançam em suas metas. Instituições públicas, particulares e corporativas buscam soluções próprias e muitas vezes num clima de salve-se-quem- puder.
A Portaria do MEC nº. 2.253, de 18 de outubro de 2001, significa grande incentivo à graduação online. Conhecida como "Portaria dos 20%", garante às instituições de ensino superior a opção de oferecer até 20% de suas disciplinas regulares na modalidade a distância, que tende a transitar dos suportes tradicionais para a internet. Acelera a sofreguidão dos interesses mercadológicos por lucro imediato, mas ao mesmo tempo amplia o engajamento em educação cidadã.
Este livro reúne diversas contribuições ao debate que encontra na educação online o mais novo caminho na direção da educação cidadã. Reúne em polifonia exuberante teorias e experimentações destiladas na pesquisa engajada de dezenas de instituições brasileiras de ensino público, privado e corporativo. Seja com a voz experiente e sensível ao espírito do tempo, seja com a do neófito, do recém-mobilizado pela educação na cibercultura, na sociedade da informação, estamos todos no mesmo barco tendo em mente que navegar é preciso e educar é urgente.
Composto de quatro partes, este volume aborda inicialmente os fundamentos da aprendizagem online, mostrando a urgência de novos investimentos para além das tradicionais metodologias que resultam na obsolescência da sala de aula presencial baseada na pedagogia da transmissão ou no modelo um-todos. Em seguida, reúne diversas inteligências coletivas envolvidas arrojadamente com o tratamento da sala de aula online ou com o ambiente virtual de aprendizagem, mostrando na prática as possibilidades técnicas da efetiva autoria cooperativa na aprendizagem a partir da flexibilidade espaço-temporal e da interatividade no modelo todos-todos. Na terceira parte, a ênfase é no debate sobre a tão desconhecida legislação específica, mostrando que a consistência das ações depende do acompanhamento e da criteriosa avaliação das regras e normas para realização significativa da qualidade. Finalmente, o cuidado com a formação corporativa desenvolvida na empresa que não apenas capacita funcionários eficazmente, mas que concomitantemente os educa.
Com tessituras na polifonia visando aconchegar o professor inforrico e o infopobre, o gestor de educação e de formação corporativa, a seguir apresento as sínteses dos artigos oferecidas pelos próprios autores,. Convido-os assim ao diálogo! Convido-os à troca, à participação, à intervenção criadora e à autoria colaborativa. Convido-os a desvencilhar-se de preconceitos, a redimensionar sua autoria na sala de aula presencial e online. Enfim, desejo interagir com sua ousadia em educação no nosso tempo.
Parte 1: Fundamentos da aprendizagem online
De início As sereias do ensino eletrônico. Neste texto Paulo Blikstein observa que, apesar do potencial de mudanças das novas tecnologias e do discurso capturado de educadores progressistas, o paradigma da educação tradicional tem preponderado em um grande número de experiências, com o simples encapsulamento de conteúdo instrucional em mídias eletrônicas. Em seguida, discute as possíveis causas e conseqüências desse processo, como a integração da educação ao universo do consumo de massa, as demandas do novo mundo do trabalho à universidade e as promessas da educação online. Ao final, propõe princípios para a construção de ambientes de aprendizagem alternativos, utilizando as tecnologias como matéria-prima de construção e não só como mídia de transmissão de informações.
Em seguida, José Manuel Moran apresenta valiosas Contribuições para uma pedagogia da educação online. Para ele, existe no Brasil uma grande variedade de cursos online: cursos para poucos e para muitos alunos, cursos com pouca e muita interação, cursos centrados no professor e cursos centrados nos alunos, cursos que utilizam uma (internet, videoconferência, teleconferência) e outros que integram várias tecnologias. Para cursos com grandes grupos, o processo de organização do ensino-aprendizagem online é muito mais complexo do que o que realizamos no presencial, o que requer uma logística nova, que só agora está sendo testada com mídias telemáticas. Neste contexto, alerta, os papéis do professor se multiplicam, diferenciam e complementam, o que exige uma grande capacidade de adaptação, de criatividade diante de novas situações, propostas e atividades.
No texto Criar e professorar um curso online: relato de experiência, sustento que, em educação online, é fundamental não subutilizar a disposição comunicacional própria da internet: a interatividade. Isto é: para superar o ambiente virtual de transmissão que apenas acomoda pacotes de informação e de exercícios a serem assimilados e cumpridos, precisamos investir na criação de cursos interativos, baseados em ambientes virtuais de aprendizagem que permitam a participação e a colaboração dos aprendizes na construção da comunicação e do conhecimento. Uma convicção acadêmica exposta em Sala de aula interativa (Quartet, 2000) foi plenamente confirmada quando me tornei um professor online e precisei formatar e executar um curso via internet que rompesse com a prevalência da pedagogia da transmissão. Neste relato, compartilho o caminho que percorri em busca da educação online interativa.
Tomando orientação teórica semelhante, em Instrucionismo e nova mídia, Pedro Demo alerta para a dificuldade de se estabelecerem relações pedagógicas adequadas entre educador e educando, no espaço escolar em que predomina o autoritarismo das propostas que vêm de fora e de cima para baixo, uma questão que, segundo o autor, penetrou também o ambiente da inteligência artificial, cuja fundamentação principal tem origem na biologia e assevera a diferença, pelo menos por enquanto, entre a inteligência humana – complexa, não-linear – e a artificial – digital, seqüencial, linear. Talvez por isso, acredita Demo, o problema maior da educação a distância não seja, em absoluto, carência tecnológica (esta já sobra), mas carência de aprendizagem. Ainda segundo ele, há cada vez mais consenso em torno do potencial infinito da nova mídia, desde que saibamos salvaguardar o compromisso com a aprendizagem.
Ao falar de sua experiência junto ao NCE – Núcleo de Comunicação e Educação da Escola de Comunicações e Artes da USP –, no artigo EaD como prática educomunicativa: emoção e racionalidade operativa, Ismar de Oliveira Soares apresenta um contexto de resistências à aprendizagem online e sugere como superá-lo. Segundo ele, os projetos e-learning têm sido objeto de severas críticas por parte dos que defendem uma educação de qualidade, essencialmente desvinculada do caráter mercantilista com que em muitos países esta nova modalidade de prestação de serviços viria sendo implantada. Além disso, outros deixariam de aderir à educação a distância por considerar que a interatividade disponibilizada pelas novas tecnologias não conseguiria ocultar a frieza das relações e a natureza pedagogicamente fechada de muitas iniciativas na área. Para superar tais dificuldades, relata Soares, o NCE decidiu desenvolver um projeto que unisse seriedade acadêmica e envolvimento afetivo, o que deu origem ao Educom.TV , experiência que mobilizou, ao longo de sete meses, 2.240 professores da rede pública de educação do Estado de São Paulo.
Cristiane Nova e Lynn Alves, no artigo Estação online, a "ciberescrita", as imagens e a EAD, realizam uma reflexão sobre as formas de apropriação das linguagens imagéticas e audiovisuais, que a sociedade contemporânea vem realizando. Ao fazê-lo, convidam à discussão sobre o potencial cognitivo das imagens e as possibilidades de incorporação destas na educação de uma forma ampla e, mais especificadamente, no ensino online.
No texto O material didático na educação a distância e a constituição de propostas interativas, Aluízio Belisário observa que o avanço da educação a distância nas universidades brasileiras e estrangeiras e seu tratamento como "ferramenta de educação de massas" têm gerado as mais diversas experiências e expectativas. E conclui que, embora a EAD, como metodologia educacional, não seja exatamente uma novidade, sua adoção conjugada com a utilização de ferramentas disponíveis na internet vem se constituindo no grande esforço de muitos educadores nos últimos anos.
No artigo Interatividade e aprendizagem colaborativa em um grupo de estudo online, Gilse T. Lazzari Perosa e Marcelo Santos fazem mais um relato de experiência envolvendo o que chamo de disposição comunicacional própria da internet: a interatividade. A experiência em questão é a produção de um texto desenvolvido coletivamente online na disciplina O Audiovisual no Ensino, do Curso de Pós-Graduação lato sensu Educação em Arte e as Novas Tecnologias, oferecido pela Coordenadoria de Educação Aberta e a Distância da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Como relatam os autores, a experiência explorou as possibilidades da internet como meio de comunicação, de forma a desenvolver a interatividade e proporcionar aos alunos uma aprendizagem colaborativa, a partir da interação entre sujeitos mediados pelo computador.
Em um texto direto e irônico que, como queria Oswald de Andrade, leva em conta a "contribuição milionária de todos os erros", Wilson Azevedo "ensina" Como "detonar" com um projeto de educação online. Para ele, em meio ao boom vivido na educação online na passagem do século XX para o XXI, joio e trigo aparecem misturados e muitas iniciativas parecem ter sido especialmente projetadas para o fracasso. Ainda segundo Azevedo, como o erro oferece excelente oportunidade para a aprendizagem, vale a pena, por contraste, expor as lições que podem ser extraídas destas experiências, destes "mandamentos do fracasso", passos que, quando seguidos, parecem levar a problemas relativamente graves, resultados pífios, prejuízos morais e materiais.
Ead sim. Mas com qual biblioteca? é a questão que levanta Solange Puntel Mustafá em texto que discute a importância da biblioteca virtual para o ensino a distância e apresenta o bibliotecário como elemento indispensável numa equipe de EAD, uma vez que, segundo a autora, ele conhece as fontes e as formas de organização da informação, o que lhe possibilitaria atuar inclusive como tutor. Mustafá recomenda a intervenção do bibliotecário já na fase de planejamento do curso para que a biblioteca resultante seja um produto/processo tão importante quanto os demais componentes curriculares e se adeqüe satisfatoriamente ao curso a que se destina.
João Vianney faz uma provocação, com Online quer dizer moderno, não sabia? Como desde 1996 participa da implantação de cursos online no Brasil colhendo êxitos e fracassos, Vianney faz mais do que discutir o pressuposto de que o uso de novas tecnologias em educação a distância, em especial a internet, promove a democratização do acesso ao conhecimento. Em estilo literário e ousado, fora do formato acadêmico, apresenta a chegada da nova educação a distância a um pequeno município brasileiro, destacando aspectos da realidade que, muitas vezes, surpreenderam as equipes e as instituições em que trabalhou.
Encerrando a primeira parte do volume com Educação com tecnologias digitais: uma revolução epistemológica em mãos do desenho instrucional, Andrea Cecília Ramal traz ao debate a qualidade do desenho instrucional. Ela parte do princípio de que a EAD realizada com tecnologias digitais pode colaborar com uma verdadeira revolução epistemológica e com uma série de mudanças nas formas de aprender. Entretanto, observa que existe também o risco de reproduzir os problemas da educação tradicional, mudando apenas as roupagens. Seu artigo apresenta a importância de um excelente projeto de desenho instrucional para construir cursos a distância coerentes com os novos paradigmas educacionais, comentando ainda alguns princípios pedagógicos que devem sempre ser levados em conta na EAD.
Parte 2: Ambientes virtuais de aprendizagem
Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida inicia a segunda parte deste volume com Educação, ambientes virtuais e interatividade. Neste artigo, sustenta que a utilização da tecnologia de informação e comunicação - TIC ou tecnologia digital como suporte para a educação presencial ou para a educação a distância – pode promover a interatividade graças à internet. No entanto, observa que as práticas educativas com o uso da TIC oscilam entre as tradicionais formas mecanicistas de transmissão de conteúdos digitalizados e os processos de produção colaborativa de conhecimento em atividades de educação sistemática (em menor escala) e, principalmente, em comunidades de aprendizagem. Sua intenção é analisar o significado de alguns conceitos fundamentais a essas práticas com o objetivo de aprofundar a compreensão sobre equívocos e avanços no uso de ambientes virtuais em educação.
Articulação de saberes na EAD on-line: por uma rede interdisciplinar e interativa de conhecimentos em ambientes virtuais de aprendizagem de Edméa Oliveira dos Santos é um convite a todos os especialistas envolvidos com os processos produtivos de gestão e de práticas curriculares na modalidade de EAD online interessados no repensar de suas ações, tanto no que tange à articulação de saberes e competências, quando na postura comunicacional entre os sujeitos envolvidos em ambientes virtuais de aprendizagem (AVA). O texto procura ainda desmistificar o conceito de AVA sinalizando a importância da utilização de interfaces gratuitas encontradas no ciberespaço.
No artigo Participação e avaliação no ambiente virtual AulaNet da PUC-Rio, Hugo Fuks, Leonardo Magela Cunha, Marco Aurélio Gerosa e Carlos José Pereira de Lucena sustentam que, na aprendizagem colaborativa em curso baseado na web, é preciso avaliar as interações do indivíduo com seus colegas em vez de apenas progressos e atividades individuais. A propósito, informam que o ambiente de ensino-aprendizagem AulaNet oferece relatórios de acompanhamento de participação que dão ao grupo informações para uma análise quantitativa e qualitativa da sua performance. O artigo discute ainda os aspectos referentes a esta forma de avaliação e apresenta o Curso de Tecnologias de Informação Aplicadas à Educação para exemplificar a utilização do ambiente num curso ministrado completamente a distância.
No texto Construindo um ambiente de aprendizagem a distância inspirado na concepção sócio-interacionista de Vygotsky, Adja Ferreira de Andrade e Rosa Maria Vicari apresentam o projeto de ambiente computacional para ensino a distância desenvolvido no Programa de Pós- Graduação em Informática na Educação e no Instituto de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Segundo elas, na busca de uma estreita relação entre as metodologias de construção de software educacional e a teoria sócio-interacionista está sendo proposta uma abordagem que visa construir um modelo computacional a partir de aspectos da teoria de Vygotsky. A idéia é encontrar, nos modelos de agentes, perspectivas promissoras para educação presencial e a distância. A tecnologia de agentes e sistema multiagentes, relatam, é utilizada para auxiliar a aprendizagem do aluno e significa um novo passo em direção à socialização, propiciando interação e cooperação entre agentes humanos e artificiais.
Em Desafio para EAD: como fazer emergir a colaboração e cooperação em ambientes virtuais de aprendizagem?, Alexandra Lilavati Pereira Okada reflete sobre as concepções de aprendizado colaborativo e cooperativo na Educação a Distância e analisa interfaces, dinâmicas, estratégias e o papel do mediador pedagógico para fazer emergir a cooperação e colaboração em ambientes virtuais de aprendizagem. Seu trabalho discute não só concepções teóricas relevantes, como também, alguns exemplos decorrentes de uma prática vivenciada num curso semipresencial de uma disciplina de pós-graduação. No final, destaca e comenta quatro elementos que considera importantes: (1) a emergência espontânea de intencionalidades coletivas, (2) problematizações contextualizadas decorrentes de trocas de experiências, (3) a cooperação decorrente da parceria e do prazer em "estar junto", e (4) a cooperação visando a aprendizagem transformadora.
A experiência Aula Virtual e Democracia, desenvolvida de 1999 no âmbito do CEAD/UnB Virtual, sob responsabilidade de Raquel de Almeida Moraes (UnB) e com a colaboração do professor Ilan Gur-Ze´ev (Universidade de Haifa, Israel), é o tema de Linguagem da WEB no CEAD/UnBVirtual, artigo assinado por Raquel de Almeida Moraes e Lino Vaz Moiz. O texto explicita o objetivo do projeto (desenvolvimento da cultura democrática em espaços além dos presenciais, como o ciberespaço – internet ou WEB –, implementando uma linguagem de comunicação entre professores e alunos capaz que promover os processos democráticos, seja na produção de conhecimentos e da cultura, seja na própria vida, entendida em sua dimensão político-existencial e espiritual) e seus resultados ao longo de quatro anos.
Outro estudo de caso, especialmente bem-vindo ao debate por enfocar a formação de professor, está em Organização de atividades de aprendizagem utilizando ambientes virtuais, de Fabiane Barreto Vavassori e André Luís Alice Raabe. O artigo relata uma experiência na organização de um curso a distância para capacitação de professores, utilizando a internet como tecnologia de comunicação e informação.
A partir de uma breve revisão da literatura sobre o tema, o que permite caracterizar o contexto em que se desenvolveu a experiência analisada, Carolina Paz, Flavia Lumi Matuzawa, Giovana Schuelter, Marialice de Moraes, Patricia Jantsch Fiuza e Simone Cristina Vieira Machado assinam o artigo Monitoria online em educação a distância, cujo objetivo é apresentar a estrutura de apoio ao aluno desenvolvida pelo LED/UFSC, com ênfase na utilização da internet e da videoconferência.
No artigo Algo de novo sob o sol?, Marilú Fontoura de Medeiros, Joyce Munarski Pernigotti, Rubem Mário Figueiró Vargas, Anamaria Lopes Colla, Beatriz Regina Tavares Franciosi, Gilberto Mucilo de Medeiros e Maria Bernadette Petersen Herrlein realizam "capturas de traçados possíveis na construção de conhecimeno produzido em EAD", destacando "desafios e intensidades do vivido". O artigo analisa as práticas, a organização teórico-prática e os processos de gestão que permitem constituir ambientes cooperativos de aprendizagem. Para os autores, um dos acontecimentos de grande intensidade que os tem afetado na produção dessas práticas, é a constatação de que "somos o que fazemos, nas intensidades e fluxos que atribuímos a esse fazer". As análises são feitas a partir de um Curso de Capacitação Docente-CCD, em Educação a Distância-EAD oferecido aos professores da PUC-RS.
Em Usabilidade e a padronização no e-learning, André de Abreu de Sousa observa que o desenvolvimento da internet como ferramenta de educação a distância traz novos desafios inadiáveis. Destaca o exemplo de um mesmo aluno que cursar várias disciplinas num ambiente de ensino em que a ausência de uma padronização mínima entre essas disciplinas o obriga a reaprender toda a navegação da interface digital inúmeras vezes. Para evitar isso, sugere o recurso às heurísticas de usabilidade de Jakob Nielsen ou de outros autores, sustentando que uma padronização mínima facilita a vida de alunos, equipe de produção e professores.
No artigo que encerra a parte dedicada a ambientes virtuais de aprendizagem, TelEduc: software livre para Educação a Distância, Heloísa Vieira da Rocha apresenta um ambiente para a criação, participação e administração de cursos na web desenvolvido, a partir de 1997, pelo Núcleo de Informática Aplicada à Educação (NIED) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Segundo a autora, em fevereiro de 2001 foi pioneiramente disponibilizada sua primeira versão como um software livre, que seria adotado por várias instituições públicas e privadas. Para finalizar, observa que o TelEduc apresenta características que o diferenciam dos demais ambientes para EaD disponíveis no mercado, como a facilidade de uso por não especialistas em computação, flexibilidade quanto ao modo de utilização e um conjunto enxuto de funcionalidades.
Parte 3: A legislação específica
Quem abre a discussão sobre a legislação atual é Francisco José da Silveira Lobo Neto, com o artigo Regulamentação da educação a distância: caminhos e descaminhos, no qual analisa o que dispõe sobre EAD a LDB de 1996 e outros documentos normativos complementares e aborda temas como credenciamento institucional, autorização e avaliação de cursos, validade de certificados e diplomas. Segundo o autor, o conhecimento das normas deve ser relacionado ao projeto pedagógico da sociedade e à necessidade de qualidade humana socialmente referenciada. E a consistência das ações depende de acompanhamento e criteriosa avaliação, com resultados divulgados, para que se produzam parâmetros de revisão de regras e normas para realização significativa da qualidade.
Em A portaria nº 2.253/2001 no contexto da evolução da educação a distância nas instituições de ensino superior do Brasil, Adylles Castello Branco comenta a chamada "Portaria dos 20%", dentro de um contexto mais amplo da educação a distância, destacando as influências norma na prática pedagógica de professores das Universidades por ela beneficiadas. Sua análise é mais voltada para a questão pedagógica do que para a questão legal strictu sensu e, sem pretender ser exaustiva, busca estimular uma maior discussão sobre este tema dentro das Instituições de Ensino Superior. Seu intuito é, claramente, estimular um começo de conversa sobre o assunto.
Ainda sobre a "Portaria dos 20%", no artigo Portaria 2.253/01 - leitura breve, Roney Sginorini se debruça sobre aspectos essenciais da lei, avaliando-a positivamente. Para ele, "educação a distância não é distância da educação" e com tal Portaria o MEC dá um importantíssimo passo conduzindo a educação para o futuro, via novas tecnologias, nas instituições de ensino superior.
E tratando de outro aspecto relevante da legislação específica, o artigo Questões relevantes do ensino a distância e seus efeitos (implicações) no direito da propriedade intelectual, de Eleonora Jorge Ricardo e José Carlos Vaz e Dias, encerra esta parte do livro dedicada à legislação em EAD online. Nele, os autores tanto denunciam a inobservância de direitos de propriedade intelectual por cursos de EAD como lamentam a perda de negócios pelo desconhecimento legal de direitos e obrigações relacionados ao desenvolvimento das ferramentas utilizadas nesta modalidade educacional.
Parte 4: Formação corporativa
Num contexto em que o conhecimento é o grande diferencial de mercado e a educação tem um papel estratégico nas empresas, a Educação a distância aparece como ferramenta sob medida para o ensino corporativo porque possibilita a aprendizagem de forma autônoma, flexível e a um custo competitivo. A afirmação é de Renata Ribeiro de Luca, autora do artigo Educação a distância: ferramenta sob medida para o ensino corporativo, que abre a última parte deste volume. Para que a EAD seja mesmo eficaz nas empresas, a autora sustenta que o modelo pedagógico adotado deve ser o construtivista sócio-interacionista, único capaz de estimular as competências básicas do ambiente de negócios – aprender a aprender, comunicação e colaboração, raciocínio criativo e resolução de problemas, desenvolvimento de liderança e autogerenciamento de carreira.
De todas as mudanças que nos acostumamos a assistir nas organizações nos últimos quinze anos, observa André Luís de S. Alves Pinto em EAD e educação corporativa: caminhos cruzados, talvez não haja outra tão significativa quanto a que vem ocorrendo na gestão de pessoas. Novos ou apenas revisados, estes conceitos, segundo o autor, aos poucos vão sendo traduzidos em novas práticas, sobretudo na atividade de Educação Corporativa. Seu artigo se propõe a relacionar algumas destas tendências e identificar possíveis contribuições do emprego da educação a distância, oferecendo a iniciantes em EAD a oportunidade de formar uma opinião mais consistente a respeito da conveniência de implantar projetos de capacitação a distância em suas organizações e a educadores mais experientes a oportunidade de rever caminhos ou mesmo organizar suas experiências anteriores nesta atividade.
Depois de observar que os modelos antigos de educação a distância, graças às novas tecnologias e à internet, são substituídos pelo e-learning, que está nos planos do Ministério da Educação para aumentar o número de vagas nas universidades, René Birocchi, em O sistema de valor do e- learning, se propõe a elaborar um mapa do e-learning no Brasil, por meio da divisão do segmento em diversos estratos.
Em A capacitação de servidores do estado via cursos online: adequando soluções às diferentes demandas, José Armando Valente e Tânia Maria Tavares Gomes Silva avaliam o Programa de Aperfeiçoamento da Educação a Distância (PAEAD), criado pela a Fundação do Desenvolvimento Administrativo (Fundap) para capacitar profissionais do setor público utilizando basicamente duas abordagens de EAD: a broadcast – que usa os meios tecnológicos para passar informação aos aprendizes, nesse caso sem qualquer interação professor-aluno – e o "estar junto virtual", um suporte ao processo de construção de conhecimento mediado pela tecnologia, com alta interação entre professor e aluno, e entre os alunos. O artigo apresenta diversos cursos ali realizados para indicar a flexibilização das abordagens citadas, de acordo com seus diferentes propósitos educacionais.
De Faculdade isolada a Universidade Virtual: o caso do IUVB.br – Instituto Universidade Virtual Brasileira é título do artigo de Carmem Maia, que encerra o presente volume. No artigo, a autora destaca o pioneirismo e os êxitos do Instituto mostrando "seus percursos e percalços", discute as tendências do formato de ensino superior e convida o leitor à uma reflexão sobre a virtualização do ensino superior e seu agregamento de valor (ou não) ao processo de ensino- aprendizagem.