E-learning: elemento de integração no processo educacional
Fonte: http://www.bb.com.br/appbb/portal/bb/unv/art/
ArtigoCompl.jsp?codigo=203 (pesquisa realizada em março/2003)
E-learning: elemento de integração no processo educacional
Wilson Azevedo*
Afinal, o que queremos dizer quando falamos de e-learning? Estamos falando, fundamentalmente, de educação on-line. E por educação entendemos o processo de ensino-aprendizagem - o que justifica uma pequena crítica ao termo e-learning, pois ele foca excessivamente a sua preocupação numa parte - sem dúvida de grande importância - do processo educacional, que é o processo de aprendizagem.
Durante muito tempo a educação foi tratada como uma questão de ensino, quase sinônimo de ensino, e o foco na aprendizagem ficou em posição secundária. De algumas décadas para cá, a ênfase na aprendizagem nos ajudou a restabelecer o equilíbrio. Mas precisamos entender o processo educacional como um processo de mão dupla. Não apenas de aprendizagem, mas um processo de ensino "e" aprendizagem. Um processo de construção de conhecimento, que é coletivo e acontece em todos os ângulos dessa relação. Não apenas o aprendiz, o educando, aprende, mas o educador também aprende. Ao se relacionar com aqueles que eram vistos como aprendizes, se coloca também como aprendiz. De outra parte, aqueles cuja tarefa principal era apenas aprender também se colocam ensinando, não só ao professor, mas também aos seus colegas de aprendizagem. De forma que o processo de ensino e aprendizagem se torna cada vez mais complexo e baseado em múltipla interação. Esse aspecto hoje é salientado quando falamos em educação.
Educação online
Educação on-line, portanto, é educação. Só que a sua especificidade está precisamente no fato de utilizar tecnologias que permitem novas formas de interação primeiramente com conteúdos informativos. Esse é um dos aspectos que nos chama a atenção ao travarmos contato com essas novas tecnologias. O outro aspecto é que são novas tecnologias também da comunicação, que permitem novas formas de interação entre pessoas. E essa é uma descoberta que se faz aos poucos. À medida que se vai entrando em ambientes on-line, percebemos que, além da informação que vem até nós, e que às vezes nos sobrecarrega, dispomos de recursos de comunicação interpessoal com o uso dessas novas tecnologias. Esse aspecto da comunicação é que nos interessa especificamente quando pensamos em e-learning e em aprendizagem colaborativa. Vejamos então a classificação e tipologia da comunicação.
O rádio ou a televisão nos permitem, a partir de um foco emissor, distribuir a informação para múltiplos receptores, característica básica dos veículos de comunicação de massa, a chamada comunicação de "um para muitos". Já o telefone é a tecnologia mais típica do "um a um", embora hoje ele permita que, utilizando o viva-voz, comuniquem-se "muitos com muitos". O correio é outra tecnologia de comunicação "um a um" que, às vezes, é comunicação "um para muitos" também.
Um grande avanço oferecido pelas novas tecnologias das redes informatizadas é que nós podemos combinar as diversas formas de comunicação, a de "um para muitos", e a web é o principal meio para se perceber isso, a comunicação "um a um", e o correio eletrônico é a mais conhecida ferramenta usada nesse tipo de comunicação. Mas é a comunicação de muitos para muitos, a ampla interação entre pessoas, interação coletiva em ambientes virtuais projetados para isso que é a grande novidade introduzida pelas novas tecnologias de informação e, especialmente, de comunicação.
O grande diferencial destas novas tecnologias é a possibilidade de integração de todas essas formas - TV, rádio, telefone e o uso do correio - e, principalmente, a comunicação de "muitos para muitos". As novas tecnologias nos trazem o que tenho chamado de "outra ecologia pedagógica". Por ecologia entendo aqui a descrição de um ambiente que tem características específicas e diversas daqueles a que estamos acostumados, principalmente no campo educacional. Os ambientes em que acontecem o ensino e a aprendizagem nos são conhecidos desde a infância. A entrada de novas tecnologias, a possibilidade combinada da comunicação de "um para um", de "um para muitos" e de "muitos para muitos", dá origem a um outro ambiente que precisa ser conhecido antes de se pensar em desenvolver educação através de ambientes on-line.
Essa outra ecologia pedagógica implica uma outra experiência com o tempo. Com o serviço postal temos um histórico de experiência social bastante difundida, de uso da comunicação chamada assíncrona, a que acontece ao longo do tempo, sem hora marcada. Mas o surgimento da Internet, do correio eletrônico, nos colocou diante de uma velocidade, de uma intensificação do uso desse tipo de comunicação, que deu origem a uma outra experiência, com uma outra temporalidade. A conjugação da temporalidade que nós já conhecemos e vivenciamos, a temporalidade síncrona, com os recursos assíncronos produz um outro tipo de temporalidade, a temporalidade multissíncrona, tanto distribuída no tempo quanto simultânea. Isso permite que continuemos desenvolvendo nossas atividades enquanto, em outros canais, vamos nos comunicando com pessoas de forma distribuída ao longo do tempo. É como se, no ambiente on-line, pudéssemos interagir com outros como que em câmara lenta, num tempo mais elástico, enquanto desenvolvemos as atividades cotidianas síncronas.
É a sensação que temos quando desenvolvemos cursos que funcionam em ambiente on-line. É como se duas horas de curso pudessem ser esticadas para caber ao longo de uma semana sem que interrompamos nossas atividades para ingressar nessa interação coletiva de "todos com todos". Isso acontece como se fosse em outra dimensão, num outro espaço. A sensação que têm aqueles que convivem e interagem em ambientes on-line é que eles estão compartilhando um espaço, estão se encontrando e isso acontece em um espaço. Não um espaço físico, mas virtual, um espaço de comunicação, um espaço relacional. Nesse novo tempo, nesse outro espaço, nós travamos contato com outra experiência social, a possibilidade de interação de "muitos com muitos" intensa, afetiva inclusive, base das chamadas "comunidades virtuais de aprendizagem colaborativa".
*Wilson Azevedo é especialista em educação on-line, consultor em projetos de e-learning e diretor técnico-pedagógico da Aquifolium Educacional. Este artigo é relato de parte da palestra proferida no Fórum Internacional de Tecnologia para Gestão de Pessoas como parte da programação do 27º Congresso Nacional da Associação Brasileira de Recursos Humanos e foi publicado originalmente na revista Melhor Vida & Trabalho da Editora Segmento. A integra do mesmo está disponível em http://www.aquifolium.com.br/educacional/
artigos/palestra.html.
Artigo publicado em 28/01/2003 às 09h55
Fonte: Wilson Azevedo