Texto Base - Unidade 2
Unidade 2 - Interatividade: um mero modismo e um novo paradigma


O termo "interatividade" significa a comunicação que se faz entre emissão e recepção entendida como co-criação da mensagem. Há críticos que vêem mera aplicação oportunista de um termo "da moda" para significar velhas coisas como diálogo e reciprocidade. Há outros acreditando que interatividade tem a ver com ideologia publicitária, estratégia de marketing, fabricação de adesão, produção de opinião pública.

E há também aqueles que dizem jamais se iludir com a interatividade entre homem-computador, pois acreditam que, por trás de uma aparente inocência da tecnologia amigável, " soft ", progride a dominação das linguagens infotécnicas sobre o homem. Sem dúvida, aqui estão críticas pertinentes. No entanto, há muito mais a dizer sobre esse conceito emergente. Particularmente, sobre sua importância em educação.

O professor está convidado a tomar o conceito complexo de interatividade e com ele modificar seus métodos de ensinar baseados na transmissão. Na sala de aula interativa a aprendizagem se faz com a dialógica que associa emissão e recepção como pólos antagônicos e complementares na co-criação da comunicação e da aprendizagem.

As relações de reciprocidade na educação vem sendo mais valorizadas ultimamente. Alguns professores reconhecem que precisam trocar experiências com o aluno. E que devem deixar de ser meros transmissores de informação e desenvolver formas de aprendizagem que estimulem o aluno a pensar e a fazer criativa e colaborativamente. Há uma percepção crescente de que o professor precisa investir em relações de colaboração para construir conhecimento. O construtivismo ganhou enorme adesão destacando o papel central das interações como fundamento da aprendizagem. Suas diversas interpretações vêm mostrando que a aprendizagem é um processo de construção do discente que elabora os saberes graças e através das interações.

O professor construtivista é aquele que cuida da aprendizagem suscitando a expressão e a confrontação dos estudantes a respeito de conteúdos de aprendizagem. De fato, o construtivismo significa um salto qualitativo em educação. No entanto, falta a ele um tratamento adequado da comunicação, de modo que se permita efetivar as interações na aprendizagem em lugar da transmissão e da memorização.

Mesmo adeptos do construtivismo, os professores podem permanecer apegados ao modelo da transmissão que faz repetir e não pensar. O construtivismo não desenvolveu uma atitude comunicacional que favoreça as interações e a aprendizagem. Falo de uma atitude comunicacional que não apenas atente para as interações, mas que também as promova de modo criativo. Essa atitude supõe técnicas específicas de promover interações e aprendizagem, mas antes de tudo requer a percepção crítica de uma mudança paradigmática em curso : da transmissão passa-se à interatividade.

Há certamente uma banalização do termo interatividade. Cito a propaganda de uma marca de tênis na tv onde o produto é apresentado como "interactive". Ou seja, há uma crescente utilização do adjetivo "interativo" para qualificar qualquer coisa ( computador e derivados, brinquedos eletrônicos, vestuário, eletrodomésticos, sistema bancário on-line, shows, teatro, estratégias de propaganda e marketing, programas de rádio e tv, etc.), cujo funcionamento permita ao usuário-consumidor-espectador-receptor algum nível de participação, de troca de ações e de controle sobre acontecimentos.

Podemos dizer que há uma indústria da interatividade em franco progresso acenando para um futuro interativo. Caminhamos na direção da geladeira e do microondas interativos. Isso pode significar mais banalização do termo "interatividade" tomado como "excelente argumento de venda", como "promessa de diálogo enriquecedor que faz engolir a pílula". (L. SFEZ, Crítica da comunicação, São Paulo, Loyola 1994, p. 267).

A despeito dessa banalização, pode-se verificar a emergência histórica da interatividade como novo paradigma em comunicação. A transmissão, emissão separada da recepção, perde sua força na era digital, na cibercultura, na sociedade da informação, quando está em emergência a imbricação de pelo menos três fatores:

  • Tecnológico. Novas tecnologias informáticas conversacionais, isto é, a tela do computador não é espaço de irradiação, mas de adentramento e manipulação, com janelas móveis e abertas a múltiplas conexões.
  • Mercadológico. Estratégias dialógicas de oferta e consumo envolvendo cliente-produto-produtor são valorizadas pelos especialistas em propaganda e marketing.
  • Social. Há um novo espectador, menos passivo diante da mensagem mais aberta à sua intervenção, que aprendeu com o controle remoto da tv, com o joystick do videogame e agora aprende como o mouse.

Em situação de interatividade efetiva o tripé básico da comunicação pode ser assim definido, segundo M. MARCHAND (Lesparadis informationnels: du Minitel aux services de communication du futur, Paris, Masson, 1987, p. 9).

  • O emissor não emite mais no sentido que se entende habitualmente, uma mensagem fechada, oferece um leque de elementos e possibilidades à manipulação do receptor.
  • A mensagem não é mais "emitida", não é mais um mundo fechado, paralisado, imutável, intocável, sagrado, é um mundo aberto, modificável na medida em que responde às solicitações daquele que a consulta.
  • O receptor não está mais em posição de recepção clássica, é convidado à livre criação, e a mensagem ganha sentido sob sua intervenção.

Trata-se, portanto, de mudança paradigmática na teoria e pragmática comunicacionais. A mensagem só toma todo o seu significado sob a intervenção do receptor que se torna, de certa maneira, criador. Ela pode ser recomposta, reorganizada, modificada em permanência sob o impacto das intervenções do receptor dos ditames do sistema, perde seu estatuto de mensagem emitida. Assim, parece claramente que o esquema clássico da informação, que se baseava numa ligação unilateral ou unidirecional emissor-mensagem-receptor, se acha mal colocado em situação de interatividade.

Diante dessa mudança paradigmática, é grande a inquietação de empresários e programadores da mídia clássica. Porém, não há inquietação em semelhante proporção no campo da educação.

É preciso despertar o interesse dos professores para uma nova comunicação com os alunos em sala de aula presencial e virtual. É preciso enfrentar o fato de que tanto a mídia de massa quanto a sala de aula estão diante do esgotamento do mesmo modelo comunicacional que separa emissão e recepção.

Em sala de aula presencial e online o professor é o principal responsável pela educação interativa. Ele cuida da materialidade da ação comunicativa disponibilizando e promovendo agenciamentos de comunicação que favorecem o diálogo e a cooperação entre os estudantes. Há pelo menos três sugestões básicas neste sentido:

  • A comunicação e o conhecimento se realizam em cooperação e co-criação entre alunos e com o professor.
  • Os grupos de trabalho em redes de colaboração buscam e avaliam informações criando o conhecimento e ampliando a comunicação.
  • O professor disponibiliza meios de modos de participação, intervenção, bidirecionalidade e conectividade em rede. Assim ele propõe projetos de trabalho, acompanha os grupos de trabalho e mobiliza a sinergia entre as competências diversas.

O livro Sala de aula interativa de M. Silva (4ª. ed., Rio de Janeiro, Quartet, 2006, p. 100-155) busca aprofundar o tratamento do termo interatividae em educação a partir da distinção de "três fundamentos da interatividade" tomados como agenda de modificações da práxis comunicacional em sala de aula. São eles:

  1. O emissor pressupõe a participação-intervenção do receptor: participar é muito mais que responder “sim” ou “não”, é muito mais que escolher uma opção dada; participar é modificar, é interferir na mensagem.
  2. Comunicar pressupõe bidirecionalidade da emissão e recepção: a comunicação é produção conjunta da emissão e da recepção; o emissor é receptor em potencial e o receptor e emissor em potencial; os dois pólos codificam e decodificam.
  3. O emissor disponibiliza a possibilidade de múltiplas redes articulatórias: não propõe uma mensagem fechada, ao contrário, oferece informações em redes de conexões permitindo ao receptor ampla liberdade de associações e de significações.

Segundo Silva, a interatividade entendida a partir destes três fundamentos pode equipar a sala de aula, presencial e online, com agenciamentos de comunicação capazes de contemplar o perfil da chamada "geração digital" e de educar na cibercultura. Eles podem balizar uma modificação qualitativa da pragmática comunicacional fundada na transmissão e revitalizar a prática docente baseada oratória do mestre.

Seja no espaço físico entre paredes (sala de aula presencial), seja no ciberespaço (sala de aula online), a autoria do professor interativo garante liberdade, diversidade, diálogo, cooperação e co-criação quando tem sua materialidade da ação comunicativa baseada nestes mesmos princípios. Assim, ele promove integração, sentimento de pertença, trocas, crítica e autocrítica, discussões temáticas e confrontações colaborativas, como exploração, experimentação e descoberta. Na sala de aula presencial e no online caberá, em particular, ao professor propiciar e garantir a construção da interatividade e do conhecimento.

Sugestões de leitura complementar:

Verbete "interatividade" no glossário colaborativo do Módulo 2.

Alex Primo: Texto 1 e Texto 2

Júlio Plaza: Texto 1 e Texto 2

Marco Silva: Texto 1 , Texto 2 e Livro


Atividade - Unidade 2

Atividade

O texto base da Unidade 2 define interatividade como modificação radical no esquema clássico da informação baseado na ligação unilateral emissor-mensagem-receptor. Tal modificação abre espaço para múltiplas expressões de interatividade nas esferas tecnológica, mercadológica, social, educacional, artística, etc.

1Você está convido(a) a buscar exemplos de expressões ditas interativas nas três esferas citadas acima. Podem ser game, show, teatro, vídeo, programas de tv, software, propaganda e marketing, atitudes, comportamentos, docência, brinquedos, tecnologias, etc.

2Divulgue no Fórum Que é interatividade aquelas (uma ou duas) que considerar interativas ou pseudo-interativas. Descreva-as incluindo imagem e/ou link. Justifique sua avaliação.
Última atualização: domingo, 17 mar 2024, 23:00